Thomas Cook: por que a empresa de viagens mais antiga do mundo quebrou?

O marceneiro e pastor batista Thomas Cook fundou o negócio em 1841 em Leicestershire, para excursões locais, mas mal imaginava que ele se tornaria um império.

Menos ainda que, depois de 178 anos de atividades e tantos milhões de pessoas atendidas e sonhos realizados, ele viria a ruir. Para os britânicos, amanhecer nesta segunda-feira sem nenhuma aeronave da Thomas Cook nos céus do mundo causou estranheza. Mas por que uma empresa com tantas aeronaves e mais de 9.000 funcionários quebrou?

A resposta imediata é que ela não conseguiu garantir uma linha de capital de giro de 270 milhões de dólares de seus banqueiros, incluindo o Royal Bank of Scotland, que é estatal. Mas, na verdade, os problemas da empresa são muito mais profundos. Depois de uma fusão desastrosa em 2007, uma estrutura pesada, dívidas crescentes, da revolução da Internet, acrescentada da incerteza do Brexit, talvez tenha sido apenas uma questão de tempo até a gigante cair.

Thomas Cook

Britânicos estão viajando mais do que nunca

O colapso da Thomas Cook não foi porque os britânicos pararam de tirar férias. Ao contrário, segundo a ABTA, 60% dos britânicos tirou férias no exterior em 2018, contra 57% no ano anterior. No entanto, os beneficiários desse crescimento foram empresas como a Ryanair e easyJet, com todos os seus clientes fazendo reservas online. Os perdedores são empresas de pacotes turísticos fechados com cadeias caras de rua. Só a Thomas Cook possui cerca de 560 pontos de venda.

Ainda segundo a ABTA, apenas uma em cada sete pessoas no Reino Unido entra em uma agência de viagens de rua para comprar um pacote, principalmente idosos ou grupos com menos dinheiro para gastar.

A crise climática também teve um impacto. A onda de calor na Europa em maio de 2018 reduziu bastante a demanda por viagens, pois os clientes adiaram os planos enquanto desfrutavam de temperaturas recordes em casa. Em 2019, o motivo mudou. Uma pesquisa indicou que os britânicos estavam adiando os planos de viagem por causa da incerteza em torno do Brexit – e da maneira como isso atingiria o poder aquisitivo da libra esterlina no exterior.

G-NIKO Airbus A321-211 (cn 1250) Thomas Cook Airlines.

Outras crises

A Thomas Cook sobreviveu a uma crise em 2011. Sua dívida já havia atingido 1,5 bilhão de dólares e ela permaneceu viva após uma injeção de capital de última hora, mas isso lhes gerou mais dívidas. Desde então, a empresa pagou 1,8 bilhão de dólares em juros, o que significa que mais de 25% da receita originada pelos 11 milhões de pacotes vendidos por ano, foi para os bolsos dos credores.

Sunny Landings

Nos últimos anos, o grupo Fosun International, dirigido por Guo Guangchang, um bilionário considerado como Warren Buffett chinês, tornou-se um dos grandes acionistas e manteve a empresa em operação. O Fosun comprou sua primeira participação na Thomas Cook em 2015, como parte de um plano para construir um conglomerado global de férias e entretenimento, já tendo assumido o comando do francês Club Med e do canadense Cirque de Soleil.

Em agosto, a Thomas Cook publicou um plano de reestruturação que incluía uma injeção de 700 milhões de dólates da Fosun em troca de uma participação majoritária no grupo, mas que também exigia que os bancos dessem um desconto na dívidas de mais de bilhões de dólares. 

Foi esse acordo que se desfez no fim de semana, gerando o colapso.

Governo rejeitou injetar dinheiro do povo

Alguns pediam pela nacionalização, mas o governo se recusou a intervir, argumentando que trata-se de uma questão comercial em uma empresa privada e que os clientes seriam protegidos pelo esquema de proteção e seguro da ATOL.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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