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Tripulação do Jumbo preso já sabia que não seria bem-vinda na Argentina

A novela envolvendo o Boeing 747-300 de origem venezuelana ou iraniana (ainda não anunciado oficialmente), só aumenta, com novas informações de um plano que deu errado. Enquanto isso, um juiz argentino ordenou a apreensão do jumbo.

Divulgação – Conviasa

Tudo começou com um Boeing 747-300 da venezuelana Emtrasur Cargo, subsidiária da Conviasa, que ficou preso em Buenos Aires após ser negado o atendimento a ele por todas as empresas de abastecimento e handling da capital argentina. Agora, se revelou que a empresa dona do avião já sabia deste possível problema, mas decidiu contar com a sorte para realizar o fretamento, que teve uma contratação ‘suspeita’ como será dito mais adiante.

Cálculo errado

O motivo para que o Jumbo fosse até Buenos Aires era totalmente legal: uma empresa fornecedora da Volkswagen Argentina, a SAS Automotriz, precisava de peças para produzir assentos e painéis para o SUV Taos, que chegou ao Brasil no ano passado, exatamente importado do país vizinho.

O material disponível está no México, que conta com várias fábricas automotivas, que exportam para todo o continente. Para realizar o fretamento, o 747 foi até a Cidade do México, mas não voou direto para seu destino final, Buenos Aires.

Ele fez uma parada em Caracas, onde abasteceu, e seguiu para a Buenos Aires. O motivo da parada, que antes seria apenas para ser um voo “legítimo” entre a Venezuela e a Argentina, feito por uma empresa venezuelana, se mostrou ter outro motivo: a necessidade de voar com o tanque cheio, dado o risco de ter o reabastecimento negado na Argentina.

O plano inicial era voar de Caracas até Buenos Aires, onde seria descarregado, mas não abastecido, e decolar de volta para a Bolívia, onde finalmente o Jumbo seria reabastecido sem nenhum impedimento. Porém, o tempo fechou na capital argentina, e o 747-300 precisou alternar até Córdoba, onde pousou e ficou algumas horas.

Só depois, o Aeroporto de Ezeiza abriu e o Jumbo pode decolar para a capital, chegando lá sem combustível suficiente para ir até Santa Cruz de la Sierra, onde deveria ocorrer um reabastecimento. Sem muitas opções, o dono do avião decidiu mandá-lo para Montevidéu, no vizinho Uruguai, onde um fornecedor estava disposto a abastecer. E assim foi feito, o Jumbo decolou.

No entanto, não foi possível cumprir essa perna do voo e o jumbo fez meia-volta e voltou para a Argentina. O governo do Uruguai, sabendo das suspeitas em torno de presença iraniana no Boeing, fechou seu espaço aéreo. A denúncia, no entanto, não partiu da Argentina, mas de outro vizinho.

Cigarros Paraguaios

Enquanto o avião voltava para Buenos Aires, a Emtrasur teria contatado empresas de abastecimento em Assunção, no Paraguai, mas o governo local também fechou seus aeroportos para o Jumbo, que horas antes tinha sobrevoado ali, quando estava a caminho da Argentina.

E o motivo para isso está relacionado com um dos tripulantes do Jumbo preso: Gholamreza Ghasemi Abbas. Este homem, além de piloto, seria um dos acionistas e donos da Qeshm Fars Air. Esta empresa aérea também operava com 747 cargueiros, e foi acusada pelos EUA de levar armas para a Guarda Revolucionária do Irã, e foi uma das primeiras a serem sancionadas. Sem muitos clientes, ela fechou as portas no ano passado.

Mas Gholamreza continuou na ativa, e em 13 de maio passado pousou no Paraguai, onde seu avião (modelo não informado) foi carregado com $755 mil dólares em cigarros da Tabesa, que pertence ao ex-presidente paraguaio Horacio Cartes.

A empresa é conhecida no Brasil pelos cigarros de baixa qualidade, a maioria importados ilegalmente, principalmente com as marcas San Marino e Santa Fe. Mas a carga embarcada em maio era de cigarros Ibiza, que foram levados para Aruba. Suspeitando desta operação de transporte de cigarros que tinha outros 17 irianianos envolvidos, além de Gholamreza, o Paraguai informou aos seus vizinhos, inclusive à Argentina e Uruguai, sobre os tripulantes suspeitos.

Contratação de Barcelona

A situação fica ainda pior, já que o jornal InfoBae revelou que a SAS Automotriz, fornecedora dos assentos e painéis para a Volkswagen, contratou uma empresa de logística da suíça para levar o material do México para a Argentina.

A empresa suíça de logística em questão é a Fracht, que por sua vez subcontratou a Aerocharter Mexico para realizar o transporte, até aí algo comum no meio logístico global, onde uma “consultoria” tem uma rede de parceiros para agilizar o transporte. Porém, essa empresa mexicana não tem um avião sequer, e subcontratou a empresa espanhola Alcux Air Spain, de Juan Manuel Bataller Rosa, empresário que tem vários outros “CNPJs” na Catalunha. Inclusive a sede da Alcux é num prédio pequeno, sem placas.

Por sua vez, e finalmente, a Alcux contratou a Emtrasur para realizar o serviço, num contrato de $600 mil dólares. Entre a SAS e a empresa venezuelana havia, no mínimo, três empresas intermediárias.

Tanto a Volks Argentina como a SAS Automotriz negaram envolvimento na novela, e afirmaram não ter nada a ver com a Emtrasur, que foi apenas subcontratada e entregou a carga como esperado.

Contrato da Emtrasur e empresa catalã – InfoBae

Os problemas não acabam…

Com toda a situação exposta, Israel, um dos maiores inimigos do Irã, manifestou preocupação através da sua Embaixada em Buenos Aires. Segundo os israelenses, os tripulantes do 747-300 estão envolvidos em atos terroristas, e devem ser acompanhados pelos argentinos.

No passado a Argentina foi vítima de uma atentado orquestrado pelo Irã, que vitimou 85 judeus no país. Um dos envolvidos era Qassem Soleimani, que era o militar de mais alta patente do país até ser morto pelos EUA em 2020 num ataque feito por drones.

Os EUA por sua vez disse através de seu representante no país, que está acompanhando o caso de perto e elogiou a atuação das autoridades argentinas.

Por outro lado, o parlamentar venezuelano William Fariñas, afirmou que tudo não passa de um complô, que o avião e a tripulação são totalmente venezuelanos e tudo estava autorizado.

“Por trás disso há uma grande farsa. Infelizmente, ainda existe na jurisdição interna de alguns setores da República Argentina uma animosidade contra o governo bolivariano, contra a Venezuela. Essa é a coisa lamentável sobre esta situação. São agressões” afirmou William segundo o jornal Monitoreamos.

O último desdobramento agora envolve outro avião venezuelano e outras duas empresas aéreas, a Conviasa e a Boliviana de Aviación:

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