Tripulantes da Qatar Airways denunciam censura e perseguição online da empresa

Após denunciarem casos de fadigas e até de dormirem em voo, tripulantes da Qatar Airways falam agora sobre perseguição na internet pela empresa aérea.

A denúncia faz parte de uma série de reportagens da Reuters. Na semana passada, a primeira parte falou sobre a questão da fadiga, que incluiu um piloto dormindo involuntariamente na cabine durante a descida da aeronave, algo gravíssimo, pois, ainda que haja outro piloto na cabine, é esperado que ambos estejam alerta.

Agora, as acusações são sobre cerceamento do direito de livre expressão pela companhia. Os relatos apontados pela Reuters giram em torno do fórum Professional Pilots Rumour Network (PPRuNe), que no inglês significa Rede de Rumores de Pilotos Profissionais.

A Qatar Airways acionou a justiça em Los Angeles pedindo 25 mil dólares em indenização por parte de dois usuários do fórum, que postaram reclamações sobre as condições de trabalho na empresa. O caso não foi para frente porque o fórum, baseado nos EUA, se negou a compartilhar dados pessoais dos usuários e, portanto, não seria possível localizar os denunciantes.

Curiosamente, o fórum PPRuNe não permite comentários sobre a Etihad já há alguns anos, após a empresa ter processado o site de maneira similar ao que ameaça a Qatar Airways.

Muitos dos participantes dos fóruns são tripulantes de companhias árabes, principalmente da Qatar Airways, mas incluindo alguns da Etihad e Emirates.

Grupos de WhatsApp e Facebook

Um dos tripulantes afetados pela censura, de nome Alex, informou à Reuters que ele era administrador de um grupo de Facebook com vários tripulantes, que trocavam informações sobre folgas, roteiros turísticos e inclusive troca de voos, algo comum nas grandes empresas.

Boeing 737 MAX 10 Qatar Airways – Imagem: Boeing

Porém com a crise gerada pelo coronavírus, as demissões começaram a vir e acabaram virando o principal tema do grupo. O tripulante que trabalhava havia 10 anos na empresa foi chamado no RH. Chegando lá, seus chefes mostraram várias fotos de tela do grupo, incluindo críticas de alguns membros às medidas tomadas e mudanças na escala de voo.

Alex foi obrigado a entrar num computador da empresa, logar em seu Facebook e, como administrador, deletar várias publicações que vão contra a Qatar Airways. Para evitar problemas futuros, ele inclusive se retirou do grupo e abriu mão do cargo de administrador. Infelizmente, nada disso adiantou, e semanas depois ele foi demitido.

Com esse controle eletrônico, a chefia poderia rastrear quando algo é comentado sobre a Qatar Airways, facilitando o rastreamento dos tripulantes envolvidos. Com isso uma atmosfera de medo teria sido criada e muitos tripulantes preferem não postar uma foto sequer do seu trabalho, que para muitos é os dos sonhos.

Um tripulante brasileiro informou anonimamente ao AEROIN, que o Catar, e a Qatar Airways, consequentemente, por ser uma empresa estatal, controlam tudo o que é postado na internet a partir do país.

Já a Emirates, por sua vez, tem uma política mais aberta, e vários tripulantes publicam sua vida laboral nas redes sociais, sempre de maneira polida, mas aberta e mostrando com orgulho o uniforme, que acaba se transformando num marketing positivo para a empresa.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

Veja outras histórias