O Conselho da União Europeia anunciou ontem que irá adotar medidas para proibir no bloco o sobrevoo de voos saindo da Bielorrússia (Belarus).
Em nota oficial, o Conselho Europeu, que é composto dos presidentes e primeiros-ministros de cada um dos países do bloco, condenou veementemente o pouso forçado, que pôs em perigo a segurança aérea de um voo da Ryanair quando este sobrevoava a Bielorrússia, em 23 de maio de 2021, bem como a detenção do jornalista Roman Pratasevich e de sua namorada, a russa Sofia Sapega, pelas autoridades bielorrussas.
O ato foi visto como um sequestro, já que caças bielorrussos MiG-29 interceptaram o Boeing 737-800 da Ryanair, afirmando haver uma ameaça de bomba e que o avião, que voava entre Atenas, na Grécia, e Vilnius, na Lituânia, deveria fazer um pouso o mais rápido possível.
A medida em si é considerada o padrão quando se recebe uma ameaça de bomba, mas a aeronave segue, conforme escolha do comandante, para o destino mais próximo. Nesse caso, a cidade mais próxima era Vilnius, o destino final do voo, e não Minsk, que estava ao triplo da distância. Uma outra possibilidade, que não era o caso, é que a força aérea local poderia ordenar o pouso, caso o avião representasse um risco à segurança do país.
Enfim, nada disso ocorreu e a ameaça falsa foi pretexto para prender o casal de jornalistas, que faz oposição a Aleksandr Lukashenko, ditador que governa com mão de ferro a Bielorrússia desde 1994. O governo dele, que é o “último ditador da Europa”, afirmou que foi mera coincidência a ameaça de bomba com a prisão do casal. Curiosamente, autoridades lituanas disseram que o avião aterrissou em Vilnius, horas mais tarde, com cinco pessoas a menos do que as contadas na decolagem da Grécia.
Essa contagem reforça a tese de que havia mais gente a bordo da aeronave seguindo o casal.
A reação ao caso foi imediata, com o Reino Unido revogando o certificado de operação da Belavia Airlines, empresa de bandeira da Bielorrússia, a qual, inclusive, opera com jatos Embraer. A Lituânia fez o mesmo e proibiu voos entre os dois países. Já as empresas aéreas de outros países, com exceção da Rússia e Turquia, não estão sobrevoando a Bielorrússia, como medida de segurança e protesto.
O Conselho Europeu, por sua vez, exigiu a libertação imediata de Roman Protasevich e de Sofia Sapega, e que seja garantida a sua liberdade de circulação. O Conselho também pediu que a ICAO, a agência da ONU para aviação civil, investigue o caso com urgência.
Outras sanções serão anunciadas, incluindo econômicas, mas a de maior atenção é a de “adotar as medidas necessárias para proibir o sobrevoo do espaço aéreo da UE pelas companhias aéreas bielorrussas e impedir o acesso dos voos operados por essas companhias aos aeroportos da UE”, mencionou o bloco.
Na manhã de hoje, a França anunciou que baniu os voos de e para a Bielorrússia, fato confirmado pela própria Belavia Airlines em nota oficial, que informa o cancelamento dos voos para Paris até o final de outubro.
Caso os outros países membros da Europa adotem a medida ou ela seja adotada como um bloco, a Bielorrússia ficará bastante isolada, com conexões restritas a Rússia, Turquia e países que compõem a Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
Dos 45 destinos internacionais operados pela Belavia, 20 estão na UE, e outra boa parte é de países que costumam se alinhar ao bloco, como Suíça e Israel.