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Pouco mais de 3 meses atrás, em 13 de novembro, acompanhamos o grave acidente no qual o Antonov AN-124 de matrícula RA-82042, da companhia aérea russa Volga-Dnepr, sofreu uma falha de seu motor interno esquerdo logo após a decolagem, que acabou por ejetar peças em direção à fuselagem, danificando sistemas elétricos, de controle de potência, de trem de pouso, entre outros.
Felizmente os pilotos foram capazes de manter o controle durante a volta de retorno e fizeram um grande pouso em Novosibirsk, que apesar de passar reto ao final da pista pela falta de funcionamento dos freios do jato, foi muito comemorado devido à destreza da tripulação em manter tudo sob o maior controle possível dentro das severas limitações de voo.
Após o acidente, a Volga decidiu tirar de operação seus 8 exemplares do modelo, até que uma investigação da falha permitisse definir requisitos para uma retomada segura dos voos, sem risco de uma repetição de tal evento com os motores.
Passado 1 mês e meio, nos últimos dias de dezembro, a primeira aeronave AN-124 foi recolocada em serviço pela empresa após inspeções dos motores definidas conjuntamente à fabricante dos mesmos, e gradativamente os demais enormes cargueiros da frota foram também voltando a voar.
Apesar do retorno, entretanto, há ressalvas quanto à nova realidade do modelo nas operações da Volga. A empresa russa não pretende empregá-lo para o transporte de cargas comuns, como vinha fazendo no ano passado diante da falta de aviões cargueiros no mundo para a alta demanda.
A partir de agora, somente as cargas especiais de grandes dimensões e/ou grandes pesos concentrados, impossíveis de serem levadas nos aviões comuns de carga, serão embarcadas nos AN-124 Ruslan da empresa, além de operações excepcionais relacionadas a salvar vidas, como remessas relacionadas à Covid-19, por exemplo.
A informação foi apresentada por Konstantin Vekshin, diretor comercial do Grupo Volga-Dnepr, em entrevista ao Freight Waves, divulgada no início desta semana.
Segundo o executivo, o transporte comum de cargas será feito apenas através das aeronaves da AirBridgeCargo, empresa pertencente ao grupo e que possui vários Boeings 747 cargueiros, incluindo o maior e mais moderno Jumbo, o 747-8F.
“Tomamos a decisão de voar apenas carga de projeto, nunca carga geral. E ajuda e socorro continuaremos a apoiar não importa o que seja, ou qualquer coisa relacionada a salvar vidas. Acho que não receberemos nenhuma reclamação, o mercado entende. É uma aeronave única e deve voar uma carga única.”
Isso porque os AN-124, que possuem entre 17 e 30 anos de uso, tornam-se cada vez mais limitados por sua idade e, diante da preciosidade de seu uso singular para as cargas especiais, precisam ter sua longevidade garantida, além, é claro, de que os motores precisarão de uma atenção maior, com mais inspeções nos próximos anos, até que se avalie mais a fundo o que ocorreu no grave acidente em voo.
“Estamos tentando definir o futuro desses motores, por isso seremos um pouco mais conservadores em termos de tipos de carga. O avião é insubstituível para coisas como satélites, qualquer coisa que seja grande e ‘feia’. Preferimos usar nossos 747s para outras cargas, para prolongar a vida útil dos AN-124.”
Konstantin lamenta o impacto que os clientes sofreram em novembro e dezembro, bem como as perdas financeiras geradas pela parada da frota e pela nova limitação de uso dos gigantes, mas diz que as perdas não importam dado o milagre de tudo ter terminado bem no acidente: “Isso foi o mais importante. Perdas financeiras? Que assim seja.”