Volta dos voos: um combate ao temor do ar respirado dentro das aeronaves

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Em meio ao transtorno causado pela pandemia do novo coronavírus em todo o planeta, que já se prolonga por alguns meses, países começam a anunciar medidas para, em um futuro próximo, retomar suas atividades econômicas e, como consequência, a aviação deve iniciar sua recuperação. Mas, como passageiros se sentirão a bordo de aviões?

Concorde Interior Cabine Passageiros
Imagem: dschwen [CC]

Dentro os setores mais afetados, a aviação comercial se prepara para retomar, a princípio de forma lenta e gradual, as operações de transporte de passageiros em diversos locais do mundo.

Dentre muitas dúvidas e questionamentos que surgem na mente de administradores de Companhias Aéreas e, por consequência, de fabricantes, está a questão: como convencer aquele passageiro que teme o confinamento de uma cabine de passageiros, na maioria das vezes com centenas de pessoas, respirando o mesmo ar? Como convencê-lo de que esse ar é seguro, saudável?

Grandes fabricantes, como a Boeing e a Airbus, se movimentam para conseguir ganhar a confiança junto ao público que viaja em suas aeronaves.

Isso desencadeou, segundo divulgado pela Reuters, entre outras coisas, um esforço conjunto para explicar como a filtragem do ar da cabine funciona, numa tentativa de eliminar o mito de que a fuselagem pressurizada contém apenas ar estático ou reciclado.

A segurança dentro de uma aeronave é algo muito mais amplo e envolve também a segurança sanitária, disse à Reuters Jean-Brice Dumont, chefe de engenharia da Airbus.

A renovação de ar que acontece dentro de uma cabine de avião é muito superior a que ocorre em um ambiente de escritório, durante um dia de trabalho, acrescenta Dumont. Num jato moderno essa troca ocorre de 20 a 30 vezes por hora, enquanto num escritório ela ocorre 4 vezes por hora.

De onde vem o ar do sistema de ar condicionado?

Nas aeronaves a jato modernas, na maioria das vezes o ar empregado pelo sistema é fornecido pelo sistema pneumático da aeronave.

Por sua vez, o sistema pneumático é abastecido pelo de ar de sangria em cada seção do compressor do motor ou pelo suprimento pneumático da APU. Observação: APU – Auxiliary Power Unit, em português Unidade Auxiliar de Energia, nada mais que um motor a jato (turbocompressor) de menor porte, utilizado para suprir necessidades de força elétrica e pneumática aos sistemas do avião, permitindo que estes operem independente de força externa ou dos motores.

O ar é extraído do ambiente através dos motores ou da APU, sendo preparado para a pressurização da cabine da aeronave. Esse ar “sangrado” dos motores está livre de combustível, pois este é injetado ao ar no motor posteriormente, em outra seção.

Durante o processo, a umidade e temperatura devem ser controlados de forma a se manter um ambiente de cabine confortável, tanto em voo como em solo. Mesmo a elevadas altitudes, com temperaturas congelantes, o ar precisa ser resfriado ao ser extraído dos motores.

Assim, o sistema é composto por diversas válvulas, trocadores de calor, separador de água, controles de temperatura, umidade, pressurização, sistema de circulação de ar, filtros, dutos, etc.

Após passar por todo o processo, o ar é fornecido à cabine através de saídas localizadas no teto.

Metade desse ar é então reciclado através de filtros HEPA de nível hospitalar, projetados para remover cerca de 99,97% dos contaminantes, incluindo vírus. A outra metade é eliminada da aeronave através de válvulas.

As fabricantes dizem que o ar da cabine é renovado a cada dois ou três minutos, embora cientistas alertem que, na realidade, o ar é sempre uma mistura. Mas quanto mais rápida a taxa, mais rápido o ar antigo é diluído.

“O ar roda muito, muito rapidamente na aeronave em termos de razão de troca de ar. Desse ponto de vista, os sistemas de aeronaves são muito bons”, disse o professor Byron Jones, da Kansas State University, à Reuters.

Aglomeração

Porém, há mais um ponto relevante na questão: a aglomeração. Aeronaves normalmente são locais de alta concentração de pessoas em um pequeno espaço.

Especialistas em saúde ainda quantificam os meios de disseminação da Covid-19. Dentro da cabine de uma aeronave, porém, o foco da preocupação com a transmissão está nas gotículas expelidas por uma pessoa ao tossir ou espirrar, bem como a contaminação através de contato com superfícies da aeronave.

Para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), o vírus se espalha entre pessoas em contato próximo, ou a menos de um metro e meio de distância, cerca da metade da largura de muitas cabines. Distância também avaliada como de potencial contaminação em outras partes do mundo, inclusive no Brasil.

Diz-se que as correntes de ar nessas distâncias curtas são as mais difíceis de prever. Os passageiros têm algum controle através das saídas de ar individuais acima de cada assento. Em média, abri-las torna as coisas “um pouco melhores, mas não há garantia”, disse Jones à Reuters.

Assim, mesmo filtrado, o ar poderia, em uma hipótese pessimista, empurrar ao rosto de um passageiro as partículas de vírus próximas. Por outro lado, o fluxo de ar descendente pode ter o efeito positivo de limitar os movimentos laterais na circulação de ar.

Diante de tais possibilidades, engenheiros da Boeing e da Airbus examinam o fluxo de ar de assento a assento usando a mesma física avançada empregada em testes de uma asa em túnel de vento.

“Estamos realizando simulações para ver se poderíamos recomendar algo para as saídas de ar individuais”, completou Dumont à Reuters.

A cada dia em que passos são dados para a volta à normalidade, novos desafios vão surgindo. Coisas que sempre passaram despercebidas para a maioria das pessoas, passam a ter a dedicação de muitas pessoas, na busca de soluções para problemas aparentemente tão simples quanto respirar dentro da cabine de um avião.

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