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Voos mais altos: A importância da liderança feminina na aviação

Como práticas ESG podem transformar o setor de aviação e promover a igualdade de gênero. Por Roberta Andreoli, advogada especializada em Direito Aeronáutico, fundadora do Leal Andreoli Advogados e presidente da Comissão Especial de Direito Aeronáutico da OAB/SP

A promoção de práticas ESG tem se tornado uma regra intrínseca para empresas de todos os setores, refletindo uma demanda crescente por responsabilidade social, sustentabilidade e implementação de diretrizes de governança. No entanto, apesar dos avanços, a participação feminina ainda enfrenta barreiras significativas.

Quando falamos de aviação civil, a participação feminina na indústria é baixa em todos os países: segundo a Internacional Civil Aviation Organization (ICAO), apenas 4,94% da força de trabalho no setor é composta por mulheres. A International Air Transport Association (IATA) ainda aponta que apenas 6% dos chefes executivos de companhias aéreas são mulheres.

Nos céus brasileiros, apenas 3,2% dos pilotos, 2,4% mecânicos de manutenção aeronáutica, 18,9% dos despachantes de voo e 10,6% dos engenheiros do setor são mulheres, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Os números refletem, em parte, a falta de estímulo e orientação para que a população feminina considere essas carreiras como uma opção viável. A perpetuação de estereótipos de gênero desde a infância, que define certas atuações como “masculinas” ou “femininas”, restringe escolhas e limita o potencial de crescimento profissional.

Para que possamos avançar em direção a uma igualdade de gênero efetiva, é necessário que as empresas do setor de aviação adotem políticas e práticas inclusivas, promovendo a diversidade em todos os níveis hierárquicos. Isso inclui a implementação de programas de mentoria e desenvolvimento profissional voltados para mulheres, a criação de processos seletivos mais transparentes e equitativos, além do combate ao assédio e discriminação no ambiente de trabalho.

Além disso, é necessário que as empresas se comprometam com a transparência e a prestação de contas em relação às suas práticas de diversidade e inclusão. A divulgação regular de dados sobre a composição de gênero em cargos, incluindo os de liderança e a implementação de metas claras para aumentar a participação feminina são passos importantes para promover a equidade.

A ANAC tem realizado algumas ações nesse sentido, como o lançamento do programa Asas para Todos, que, em parceria com os Ministérios de Portos e Aeroportos, do Turismo, das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e da Cidadania, promove a diversidade e inclusão no segmento de aviação civil brasileira, especialmente com o projeto “Mulheres na Aviação”, bem como a capacitação e formação aeronáutica.

No entanto, a iniciativa privada também deve desempenhar um papel fundamental na promoção da igualdade de gênero. Empresas de aviação devem se engajar ativamente na criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo e diversificado, o que envolve a promoção de lideranças femininas, a implementação de políticas de flexibilidade no trabalho, que favoreçam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, e o incentivo à participação das mulheres em todas as áreas da organização.

Um passo importante foi dado com o mencionado programa Asas para Todos. Segundo indicado pela própria ANAC, confirmaram adesão ao Protocolo de Intenções em rol da inclusão e diversidade: a Aeroportos do Brasil (ABR), a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (EMBRATUR), a Airbus, a Associação Brasileira de Mulheres Aviadoras do Brasil (AMAB), a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (ABEAR), a Associação Internacional de Mulheres na Aviação (IAWA, na sigla em inglês), a Associação Latino Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA), a Azul Linhas Aéreas Brasileiras, a Embraer, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o Grupo Brasil Export e a GE Aerospace.

Superar as barreiras impostas à expansão feminina no mercado demanda um esforço conjunto de governos, empresas e sociedade civil. As práticas ESG, quando verdadeiramente integradas às estratégias empresariais, têm o potencial de transformar o setor da aviação e promover uma maior igualdade de gênero.

A inclusão feminina em cargos de liderança não é apenas uma questão de justiça social, mas também um imperativo econômico. Diversos estudos demonstram que a diversidade de gênero nas lideranças empresariais está associada a melhores desempenhos financeiros e maior inovação. Empresas que valorizam a diversidade são mais resilientes, capazes de atrair e reter talentos e mais bem preparadas para responder às demandas de um mercado global em constante mudança.

Portanto, ao promover a igualdade de gênero, as empresas aéreas não estão apenas cumprindo sua responsabilidade social, mas também fortalecendo sua competitividade e sustentabilidade a longo prazo. A integração de práticas ESG que favoreçam a inclusão feminina é uma estratégia vencedora para todos os envolvidos, desde os funcionários até os acionistas e a sociedade como um todo.

O setor de aviação tem um longo caminho a percorrer para alcançar esse ideal, mas os primeiros voos já estão sendo operados.

Com o compromisso e a ação conjunta de todos os stakeholders, é possível transformar esse cenário e promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e diversificado, onde todas as pessoas, independentemente de gênero, possam alcançar seu pleno potencial.

Sócia do Leal Andreoli Advogados, escritório especializado no Direito Aeronáutico, Regulatório e Infraestrutura Aeroportuária. Seu papel é atender empresas, family offices, organizações e indivíduos em demandas ligadas à indústria aeronáutica tradicional, aeroportos e novas tecnologias, especialmente, ao setor de drones e e-VTOLs (aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical). Presidente da Comissão Especial de Direito Aeronáutico da OAB-SP.
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