Apesar de ter nascido como empresa privada, os anos mais interessantes da história da Cubana (pelo menos para quem gosta de aviação) aconteceram após a estatização liderada pelos revolucionários de Fidel Castro e Che Guevara.
Fundada na bela Havana aos 8 de outubro de 1929, a empresa começou como escola de aviação e empresa de fretamentos aéreos sob o nome Companhia Nacional Cubana de Aviação Curtiss SA, em razão da parceria que mantinha a fabricante norte-americana de aviões Curtiss. Um ano mais tarde, em 30 de outubro de 1930, dá os primeiros passos rumo à transformação da companhia em uma linha aérea de bandeira com a inauguração da primeira rota regular ligando La Habana a Santiago de Cuba. Tal fato tranforma Cuba em um dos primeiros países do continente americano a ter sua própria companhia aérea.
A Cubana ganha prestígio ao ajudar na fundação de ICAO e IATA
Em 1944, já pertencendo a outros grupos de empresários e renomeada Companhia Cubana de Aviacion SA, a empresa apoia a criação das maiores organizações da aviação mundial da atualidade: ICAO e IATA. O papel de protagonismo dos cubanos na época e a Conferência de Havana, que resultou na criação da IATA, em 1945, foram cruciais para que a empresa passasse a ser reconhecida internacionalmente.
Ainda em 1945, mais precisamente no mês de maio, a empresa inicia os primeiros voos internacionais regulares ligando Havana a Miami com aeronaves Douglas DC-3, tornando-se a primeira companhia aérea da América Latina a estabelecer serviços regulares de passageiros para a cidade norte-americana. Em abril de 1948, é iniciada a primeira rota transatlântica, entre Havana e Madrid. O ciclo de crescimento é constante e as aeronaves mais modernas da época passam a integrar a frota da companhia, incluindo o clássico L-1049 Super Contellation.
A companhia atravessa um momento áureo de crescimento e reconhecimento, mas tudo viria a mudar com um dos acontecimentos mais importantes da história da América Latina.
Tudo para “la revolución”
Após tomar a capital e com a fuga do então presidente Fulgêncio Baptista do país, o governo revolucionário de Cuba liderado por Fidel Castro e Che Guevara decide nacionalizar inicialmente as empresas consideradas mais estratégicas. Assim aconteceu com todas as companhias aéreas locais, em maio de 1958, quando acontece a expropriação de todos os seus investidores. Por ser a maior e mais representativa aérea local da época, a Cubana passa a incorporar todas as outras empresas e é renomeada para Empresa Consolidada Cubana de Aviación. Após um processo de reestruturação que durou quase dois anos, a companhia reinicia suas operações em 27 de junho de 1961.
Com o rompimento das relações com os EUA em 1961 e a imposição do embargo dos EUA em 1962, a Cubana é forçada a cancelar todos os seus serviços aos Estados Unidos e recorre à União Soviética para obter novas aeronaves e suprimentos. As primeiras aeronaves soviéticas passam a compor sua frota pouco a pouco, sendo os primeiros os modelos Ilyushin Il-14 e Il-18 os primeiros a chegar. Nesse momento, ela torna-se a primeira companhia aérea das Américas a operar aeronaves produzidas na antiga URSS.
Nos anos e décadas que se seguem, uma sorte incrível de aeronaves da antiga União Soviética opera na Cubana, incluindo os Antonovs An-12, An-24, An-26, An-30; Ilyushin Il-14, Il-18, Il-62, Il96; Tupolev Tu-154, Tu-204; e Yakovlev Yak-40 e Yak-42.
A Cubana no Brasil
No ano de 1993, Brasil e Cuba assinam um acordo bilateral que viabiliza as operações aéreas entre os dois países. No mesmo ano, um Ilyushin IL-62 da Cubana pousa em São Paulo, concretizando o pleito e inaugurando a ligação.
Por muito tempo, a empresa manteve seu voo semanal, que chegava no final da tarde em São Paulo e partia no início da noite para Cuba. Com o aumento do número de turistas na rota, no final dos anos 1990, a empresa moderniza o equipamento e aumenta a capacidade, vindo a operar com Airbus A320 e, mais tarde, com o DC-10-30. Em 2002, retorna o Ilyushin-62, que permanece até 2004, quando a rota é encerrada. Mais recentemente, em meados dos anos 2010, a empresa chegou a ensaiar, por várias vezes, o seu retorno ao Brasil, tendo operado com Tupolev 204 e Ilyushin 96-300, no entanto as empreitadas não avançaram além de poucos meses de operação antes de serem canceladas.
Como está a Cubana hoje?
A empresa trabalhou na modernização da frota da forma que pode, o embargo americano e a amizade com os russos ainda influenciam de maneira relevante as decisões na empresa aérea. Sua modesta frota de 15 aeronaves possui basicamente aeronaves russas e ucranianas, e apenas duas “ocidentais”, conforme segue: são seis AN158, quatro IL-96-300 para longo curso, três TU-204 e 2 ATR-72-500.
Os números e finanças da empresa são uma incógnita, uma vez que o governo da ilha não os divulga, então é impossível precisar como está a saúde financeira da empresa. Seus voos hoje abrangem ligações países como Argentina, Mexico, Espanha, Venezuela, França, Republica Dominicana e Canadá, além de uma rede de voos domésticos.