Aviadores se posicionam contra atitude draconiana da Prefeitura de Pirassununga (SP)

Em resposta a uma nota publicada no site da Prefeitura de Pirassununga (SP), que propõe o fechamento do aeroporto municipal para dar lugar a lotes residenciais, sem que haja uma contrapartida, os aviadores do Aeroclube de Pirassununga se pronunciaram ao povo da cidade, contrapondo o que foi postado pelo Executivo Municipal.

O Aeroclube critica a decisão por não oferecer um esclarecimento mais robusto para a proposta e nem soluções. A Prefeitura fala, por exemplo, de construir outro aeroporto, mas por ora seriam apenas promessas, já que nenhuma documentação sobre isso teria sido apresentada.

A nota do Aeroclube na íntegra

O Aeroclube de Pirassununga vem por meio desta nota prestar um esclarecimento à população de Pirassununga. Na última quinta-feira foi publicada uma nota oficial da Prefeitura de Pirassununga informando que o Prefeito decidiu pelo encerramento das atividades do Aeroporto Municipal, fato que causa grande preocupação, pelas suas consequências e principalmente pelas justificativas.

Primeiramente é preciso esclarecer que o Aeroporto de Pirassununga é um Aeroporto público, cujo responsável é a Prefeitura de Pirassununga, conforme o Convênio 136/2013, firmado com a Secretaria de Aviação Civil. Desta forma, o Município tem várias obrigações, direitos e deveres com a ANAC e com o Governo Federal.

Ressaltamos que o Aeroclube de Pirassununga é uma associação sem fins lucrativos, com função social, reconhecida como de utilidade pública municipal e federal. O Aeroclube está capacitado pela ANAC como um Centro de Instrução da Aviação Civil, estando regular e operacional.

Os cursos do Aeroclube são federais, tais como os da USP e da Academia da Força Aérea. Desta forma, acreditamos ser do interesse de qualquer município ter uma escola federal, de elevada capacidade técnica e com abrangência regional. Lembramos também que o Aeroclube paga imposto predial e de prestação de serviços ao Município, além de gerar empregos e de estimular a economia local, através de compra de materiais e contratação de diversos serviços.

Entendemos nossa atividade como fonte de progresso e renome para Pirassununga, haja vista a grande quantidade de pilotos formados aqui no Aeroclube e que ao longo dos anos pilotaram as mais diversas aeronaves no Brasil e no mundo.

A grande pergunta que a nota da Prefeitura traz é: qual é o benefício que a cidade terá com a interrupção das atividades do Aeroporto sem que haja um outro aeroporto já em condições de uso? Vale a pena abrir mão de um ativo urbano tão importante, que tem a capacidade de transformar a cidade, trazendo progresso, divisas, empregos e melhoria de qualidade de vida para seus habitantes? Claro que isso só acontece quando o espaço é estimulado e há o seu desenvolvimento, coisa que não aconteceu em Pirassununga. A área é nobre também para um aeroporto.

Futuramente, ao se construir outro aeroporto, já teríamos várias oficinas, empresas, companhias aéreas, fábricas já alocadas em Pirassununga e elas só mudariam de endereço. O crescimento estaria garantido, até porque o empresário não vai esperar um aeroporto ser construído para vir para Pirassununga. Ele utiliza o que já está disponível.

A respeito de uma outra área para o aeroporto no perímetro rural da cidade, já autorizada pela ANAC, há a necessidade de se mostrar evidências concretas sobre o assunto, principalmente sobre o prazo para a entrega da obra, tendo em vista que “um novo local de voos” é uma obra extremamente complexa e demorada. Pelo entendido na nota, será um aeroporto privado, ou seja, quem quiser utilizá-lo deverá arcar com custos e ser autorizado, diferentemente do nosso, que é de uso público.

O Aeroporto de Pirassununga é um patrimônio do povo Pirassununguense. É um ativo urbano de valor incalculável pelo seu potencial de progresso. É um patrimônio que não se pode abrir mão, principalmente porque é quase impossível recuperá-lo após perdido. É contra o bom senso parar as atividades em um Aeroporto sem ter outro em funcionamento. Todos os problemas podem ser resolvidos de uma maneira menos radical e sem trazer prejuízos à população Pirassununguense.

Por fim, informamos que o Aeroclube de Pirassununga não foi notificado oficialmente sobre o assunto. Reforçamos aos nossos associados e principalmente aos nossos alunos, que, independentemente do curso dos acontecimentos, nossos compromissos serão honrados e envidaremos todos os esforços para a manutenção de todas as nossas atividades.

Estamos à disposição da comunidade e das autoridades para qualquer esclarecimento necessário, bem como para trabalhar para o progresso de Pirassununga. Convidamos a todos para conhecer ou aumentar seus conhecimentos sobre este espaço vital, que é do povo de Pirassununga

Opinião de aviador

Um aviador que conhece bem o local e sua história, que prefere se manter anônimo, também compartilhou seu relato com o AEROIN, conforme segue.

O aeroclube de Pirassununga está localizado em área desapropriada pela prefeitura em 1945, para o intuito exclusivo da criação de uma pista de pouso e decolagem. Possuía uma área que representava o dobro da área atual, que acabou sendo “usurpada” pela própria prefeitura para a construção de um distrito industrial. Entretanto, a pista sempre manteve suas características e sempre foi homologada pelo então Ministério da Aeronáutica, bem como atualmente pela ANAC, com o designativo ICAO SDPY.

Ela é pública, de terra, e possui 860 metros de comprimento por 30 metros de largura, sendo de responsabilidade da prefeitura a sua conservação. No entanto, por sucessivas administrações, o espaço convenientemente era “esquecido” pela prefeitura nos aspectos mínimos de conservação, sendo assim feita pelos próprios usuários às suas próprias expensas (aeroclube e demais proprietários).

A atual administração, logo após o último pleito, em reuniões com integrantes do aeroclube, declarou ser completamente a favor de se desenvolver a área, enquanto houver a construção de um novo aeródromo, e após a homologação de uma nova pista, aí sim, desativaria a atual.

No entanto, por motivos os quais são subterrâneos, fomos surpreendidos no dia 2 de março com a nota publicada no site da Prefeitura.

A íntegra dessa nota é de uma radicalidade surpreendente. Várias reuniões e sessões na Câmara Municipal foram feitas no intuito de se resolver a questão, mas em nenhuma delas houve a vontade efetiva da prefeitura em resolver.

É alegado pela prefeitura, entre os itens da nota, de que é uma área utilizada por pouquíssimas pessoas, no que se estabelece uma gigantesca contradição, haja visto ser um bem público, utilizado por todas as pessoas que à Pirassununga se dirigem por meio aéreo.

Não somos contra a mudança para outro aeródromo. Somos contra sim, desalojar uma entidade em pleno funcionamento, com alunos em curso, com todas as certificações válidas pela ANAC enquanto CIAC. Vale lembrar que ano que vem é ano eleitoral, e acabar com um aeródromo sem existir um outro, é condenar a cidade a não ter mais aeródromo, pois historicamente isso sempre acontece, pois pode não haver interesse da próxima administração para construi-lo.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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