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Boeing 747 ASB, o modelo que poderia ter matado o 777, se tivesse existido

Antes de trazer o 777 para o mercado, a Boeing tinha um projeto diferente em mente: a nova versão ASB baseada no 747 SP.

O Boeing 747 ASB foi originalmente concebido como o avião de médio alcance perfeito que poderia preencher o nicho exigido pelos concorrentes do momento, sem ter que desenvolver uma aeronave totalmente nova. Mas, apesar de algum interesse das companhias aéreas, o 747 ASB nunca decolou.

A sigla ASB vem de Advanced Short Body, ou “Corpo Curto Avançado”, e foi projetado em resposta ao lançamento do A340 pela Airbus e ao famoso MD-11 da McDonnell Douglas em 1986. A ideia foi essencialmente uma combinação da tecnologia avançada do Boeing 747-400 com o corpo curto do 747 SP – “Special Performance” de ultra-longo alcance do Jumbo.

Quando a Boeing ofereceu a versão ASB, ela teria capacidade de transportar 295 passageiros num raio de 8.000 milhas náuticas (15.000 km), enquanto as duas versões base tinham as seguintes especificações: Boeing 747-400 com 416 passageiros e alcance de 14.200 km; e o Boeing 747 SP para 276 passageiros com 10.800 km.

Avião Boeing 747 SP Frank Krause
Boeing 747 SP – Imagem: Frank Krause / Flickr

Note que o 747 SP de “ultra-longo” alcance já não era tão eficiente assim, uma vez que foi desenvolvido décadas antes do Boeing 747-400. Essencialmente, o Boeing 747 ASB seria a segunda geração do 747 SP com todas as melhorias desenvolvidas até aquele momento.

Em comparação com os dois concorrentes no mercado: o Airbus A340-200 de 261 passageiros e 14.900 km de alcance; e o McDonnell Douglas MD-11, para 298 passageiros e 12.455 km de alcance.

Olhando para os números acima, está claro que o 747 ASB foi projetado para derrotar o A340 da Airbus e manter seguro o poder da Boeing no mercado de mais de 250 assentos. Além disso, comparado com o MD-11, ele poderia voar ainda mais longe com capacidade semelhante.

A Boeing também alegou que o Boeing 747 ASB poderia “chegar ao destino 30 minutos antes” do que os concorrentes, e que teria uma seção de dormitório para a tripulação próxima à cauda, adicionalmente aos dois beliches para os pilotos perto do cockpit.

Seção na cauda do Boeing 747 ASB
Seção na cauda do 747 ASB – Imagem: Boeing / Flight Global

No entanto, o Boeing 747 ASB surgiu em um momento de mudanças para a indústria aeronáutica. Os preços dos combustíveis estavam muito altos e as companhias aéreas estavam buscando novas aeronaves bimotoras de baixo consumo de combustível, como a A330. Assim, a Boeing não conseguiu garantir nenhum pedido para o novo Boeing 747.

A Boeing notaria essas tendências e lançaria o Boeing 777 apenas dois anos depois, silenciosamente arquivando o Boeing 747 ASB apenas como “o que ele poderia ter sido”. Os dois concorrentes do novo Jumbo seriam aposentados pelos mesmos motivos muitos anos depois.

Imagine que se a Boeing tivesse sucesso com o 747 ASB, talvez não teríamos o bem sucedido modelo 777 ou o novo 777X ganhando os céus.

Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.