Receba as notícias em seu celular, acesse o canal AEROIN no Telegram e nosso perfil no Instagram.
Na mesma carta que Dave Calhoun, CEO e presidente da Boeing, emitiu aos funcionários na data de ontem, ele também comentou sobre a situação da parceria, ou compra (melhor dizendo) da divisão de jatos comerciais da Embraer. Veja o que disse o executivo.
O cancelamento do negócio entre Boeing e Embraer foi comunicado ao mercado no final de semana passado e da pior forma possível. Inicialmente, a fabricante americana emitiu uma nota bastante sutil, onde informava sobre o encerramento da parceria. Parecia algo de comum acordo entre ambas devido à pandemia da covid-19 e o novo cenário da aviação mundial.
A surpresa chegou duas horas depois, quando a Embraer emitiu um ríspido comunicado ao mercado, acusando a Boeing de haver plantado falsas alegações como forma de justificar o cancelamento do trato e a quebra do Master Transaction Agreement (MTA).
Esse acordo, o MTA, estabelece quais condições devem ser satisfeitas por cada uma das partes em um acordo complexo como esse. Imagine que unir duas operações tão grandes e cheias de ramificações não é algo fácil. Para tanto, se criam forças-tarefas internas compostas de pessoas de ambas as equipes para unificar processos, procedimentos e governanças.
Segundo a Embraer, foram gastos cerca de US$ 500 milhões para que sua operação fosse adaptada aos requisitos da Boeing para, no fim, o negócio ser jogado no lixo. Por conta disso, a fabricante brasileira já anunciou que entrará com um pedido de reparação junto a uma corte arbitral, visando a recuperar parte desse dinheiro.
Mais lenha na fogueira
Nesse contexto ácido, o CEO da Boeing emitiu a carta a seus funcionários na data de ontem. Obviamente, ele queria ser transparente e falar da real situação da empresa aos seus funcionários, mas sua fala sobre a Embraer pegou mal.
Ele disse: “Também gostaria de abordar as últimas notícias sobre a Embraer: anunciamos no sábado que encerramos o contrato que tínhamos para estabelecer uma parceria estratégica entre nossas duas empresas. Trabalhamos diligentemente por dois anos para finalizar a transação – uma que incluiria joint ventures comerciais e de defesa. Porém, no final das contas, não conseguimos chegar a uma solução sobre condições críticas e não satisfeitas para o negócio nos termos do nosso Master Transaction Agreement (MTA)”.
Ora, aqui ele comenta que trabalharam duro dois anos para adaptarem as operações, tudo parecia correr perfeitamente bem, faltava apenas a aprovação da União Europeia para que o negócio fosse fechado e, de repente, tudo acabou como se a Embraer não tivesse cumprido seu papel.
Somente para constar, não estamos falando de uma empresa de fundo de quintal, mas de uma companhia de ponta, que tem em seus quadros alguns dos mais bem preparados profissionais do Brasil. Essa alegação da Boeing pareceu não fazer muito sentido.
O CEO continuou: “É profundamente decepcionante, mas chegamos a um ponto em que a negociação não era mais útil, portanto exercitamos os direitos estabelecidos no MTA para rescindir o contrato”.
O que será que ele quis dizer com a negociação não ser mais útil.
Certamente aqui fica claro que não foram somente essas “pré-condições” do MTA que não foram atendidas, mas que algo mais profundo acontece na Boeing e levou a essa decisão. Obviamente, já está claro para o mercado que a empresa não está bem, vai cortar 10% dos funcionários e deve pedir um bilionário auxílio do governo.
Ela apenas usou como subterfúgio para cancelar unilateralmente o contrato, o fato de a Embraer (talvez) não ter cumprido com algum requisito – e isso é normal pois, como dito acima, são operações muito complexas e, às vezes implementações de projetos são priorizadas em detrimento de outras.
Mas não sabemos os detalhes, analisamos pelos sinais, e os que a Boeing emite não parecem fazer sentido.