CEO da Embraer Aviões Comerciais fala sobre a posição da empresa na América Latina

Uma publicação da Associação Latino-Americana do Transporte Aéreo (ALTA) trouxe na quarta-feira, uma entrevista com Arjan Meijer, CEO da Embraer Aviação Comercial, que compartilhou algumas informações sobre o atual posicionamento da empresa.
As perguntas da ALTA e as respectivas respostas do executivo estão abaixo. Antecipando que ele não tocou em nenhum ponto estratégico ou algo novo que já não tenha sido dito antes.
1.Quais são os objetivos da Embraer na América Latina e Caribe (LAC) para a próxima década?
A América Latina e o Caribe sempre foram uma região importante para a Embraer. Atualmente, existem mais de 200 aeronaves da Embraer voando na região. No entanto, acreditamos que o mercado mudou desde a pandemia.
Há uma demanda crescente para o nosso segmento – entre 70 a 150 assentos – pois apesar da recuperação do tráfego, a conectividade na região ainda requer melhorias. Isso só pode ser alcançado se os novos destinos estiverem vinculados aos principais hubs, o que exigirá aeronaves de tamanho adequado.
As companhias aéreas também precisam se concentrar na eficiência e nos aspectos ambientais, e o E2 é a escolha certa para reduzir custos operacionais e, ao mesmo tempo, ajudar as companhias aéreas a atingir suas metas ambientais. Em resumo, estamos confiantes na crescente demanda por nossos produtos e soluções na América Latina e no Caribe.
2. Como você vê a evolução da frota de aviação comercial na região nos próximos anos?
À medida que as companhias aéreas emergem da maior crise da história da aviação, as vemos buscando maior flexibilidade e eficiência como o caminho para o sucesso. Portanto, há uma tendência de substituir os jatos mais antigos por aeronaves de nova geração, mais eficientes.
O E195-E2, por exemplo, oferece quase 30% de redução no consumo de combustível em comparação com as fuselagens da geração anterior, o que não apenas reduzirá o custo operacional de uma companhia aérea, mas também reduzirá drasticamente suas emissões de CO2. São  cerca de 250 Jets da nossa categoria, com mais de 15 anos voando na região, prontos para reposição.
Acreditamos que o E2 é o substituto mais confortável e eficiente para esta frota envelhecida. A pandemia nos mostrou a importância da flexibilidade. Na América Latina e no Caribe, mais de 80% da frota de jatos de corredor único possui mais de 150 assentos, o que compromete o desenvolvimento da conectividade.
Portanto, vemos oportunidade para as companhias aéreas introduzirem jatos abaixo de 150 assentos para complementar sua operação de NBs, o que lhes permitirá abrir novos mercados e adequar melhor a capacidade às flutuações de demanda. 
3. Como tem sido a recuperação pós-pandemia na LAC? Como a Embraer fechou 2022 e o que se espera para este ano?
O tráfego aéreo regular latino-americano tem mostrado sua resiliência e importância na região, apresentando uma recuperação consistente. Segundo a IATA, a América Latina e o Caribe têm sido uma das regiões de recuperação mais rápida. Em 2022, o RPK total na região ficou apenas 14,2% abaixo de 2019, logo atrás da América do Norte. Se considerarmos apenas o tráfego doméstico, a Colômbia e o México já superaram os números pré-pandemia.
O Brasil, maior mercado doméstico, encerrou 2022 com 91% do RPK de 2019. Então, vemos uma perspectiva positiva para a região. No entanto, ainda há oportunidades para melhorar a conectividade na região. Nos Estados Unidos, em 2022, 1.050 cidades foram atendidas pela aviação regular, enquanto no Brasil apenas 120 cidades contam com voos regulares, e no México, 54 cidades. Essa conectividade só é possível com o desenvolvimento da aviação regional, que aumentará a demanda por jatos entre 70 e 150 assentos na região.
A Embraer entregou 80 jatos no quarto trimestre, dos quais 30  são aeronaves comerciais e 50 são jatos executivos, fechando um forte ano para a Embraer. Em 2022, foram entregues 159 jatos, sendo 57 aeronaves comerciais e 102 jatos executivos. A Embraer aumentou o número de aeronaves entregues em 12,7% em relação a 2021, mesmo com restrições significativas na cadeia de suprimentos. A carteira de encomendas a entregar encerrou o 4T22 em US$ 17,5 bilhões, US$ 500 milhões a mais em relação ao ano anterior.
A receita atingiu US$ 2 bilhões no trimestre (53% superior ao 4T21) e US$ 4,5 bilhões em 2022, alinhado com a orientação da empresa. Em termos de orientação para 2023: entrega de 65 a 70 jatos comerciais, entregas de 120 a 130 jatos executivos, receitas na faixa de US$ 5,2 a US$ 5,7 bilhões, margem EBIT ajustada de 6,4% a 7,4%, margem EBIT ajustada de 6,4% a 7,4%, margem EBITDA de 10,0% a 11,0% e fluxo de caixa livre ajustado de US$ 150 milhões ou mais no ano. 
4. Qual é o espaço da LAC para a Embraer?
A América Latina sempre foi uma região importante para a Embraer, não apenas pela nossa herança, já que nossa sede é no Brasil, mas porque nossas aeronaves atendem aos requisitos da região. A capacidade de assentos certa e os custos operacionais mais baixos ajudam as companhias aéreas a desenvolver suas redes de maneira lucrativa e oferecer suporte à conectividade na região. 
Atualmente são 231 aeronaves da Embraer, voando em 27 companhias aéreas de 17 países da América Latina e Caribe. Essa frota representa cerca de 10% do total de aeronaves de serviço da Embraer e mais de 20% da frota de E190/E195. A Azul é a maior operadora do E195 e cliente lançadora do E195-E2, por isso estamos confiantes no aumento da demanda na América Latina e no Caribe tanto para o E1 quanto para o E2. 
5. A sustentabilidade é uma prioridade. Qual a contribuição da Embraer para o alcance dos objetivos ambientais do setor?
A Embraer reconhece a urgência da crise climática e está comprometida com um futuro sustentável. Já fizemos bons progressos. Nossas aeronaves E2 mais novas reduzem o consumo de combustível em 30% em relação às aeronaves anteriores. Trabalhamos com combustíveis alternativos sustentáveis ​​(SAF) há mais de 10 anos e no ano passado realizamos um teste com o parceiro de motores Pratt and Whitney provando que o E2 pode voar 100% SAF. 
Olhando para o futuro, a indústria precisa desenvolver novos sistemas de propulsão e combustíveis para enfrentar a crise climática. Como líder global em aeronaves regionais, a Embraer está posicionada de maneira ideal para levar tecnologias disruptivas para aeronaves menores, já que as aeronaves regionais serão as primeiras plataformas nas quais novos sistemas de combustível e propulsão poderão ser introduzidos de forma eficaz. 
O projeto Energia da Embraer explora uma série de conceitos sustentáveis ​​para transportar até 50 passageiros. O projeto está considerando uma série de fontes de energia, propulsão e arquiteturas de fuselagem para reduzir as emissões de carbono em 50% a partir de 2030 – um passo fundamental em nossa meta de sermos neutros em carbono até 2050. 
A Embraer também está trabalhando em estreita colaboração com as principais universidades e instituições acadêmicas para superar os desafios de coleta, armazenamento e gerenciamento térmico de energia, bem como explorar novas maneiras de tornar as operações comerciais mais eficientes com clientes e governos globais. 

Informações da ALTA

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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