Cientistas chineses publicaram um estudo num canal da Elsevier que é aceito como o primeiro no mundo a potencialmente comprovar infecções por COVID-19 a bordo de um avião de passageiros. Ainda que o ar dos aviões seja reciclado a cada três minutos devido à presença dos famosos filtros HEPA, que elevam o ar da cabine a padrões hospitalares, isso não teria sido suficiente para barrar a transmissão do coronavírus SARS-CoV-2.
Coincidentemente, ainda nessa semana, a Bloomberg publicou uma matéria muito boa falando desse tema, em que cita um cálculo de 1 chance em 4.300 de contrair o vírus a bordo de um voo de 2 horas que tenha pessoas infectadas. Mas ela existe e basta uma pessoa para começar a disseminar a doença, então é bom seguir as recomendações dos cientistas.
Como foi feito o estudo
O voo estudado pelos cientistas aconteceu no dia 24 de janeiro entre Cingapura e Hangzhou, uma grande cidade chinesa. O voo estava lotado, com 335 passageiros a bordo. A companhia aérea não foi revelada, mas os estudiosos disseram a aeronave era um Boeing 787-9.
No momento em que o voo aconteceu, a China enfrentava seu pior momento na pandemia e, sabendo que vários dos passageiros haviam passado por Wuhan anteriormente, resolveu colocar todos em quarentena controlada quando o avião pousasse em Hangzhou, subsequentemente usando-os como parte de estudos sobre a disseminação da COVID-19.
No total, 16 passageiros testaram positivo para a COVID-19 durante seu isolamento de 14 dias, mas a maioria deles havia estado recentemente em Wuhan, a origem e epicentro do surto na época, ou tido contato com alguém contaminado. Para esses, os pesquisadores concluíram que eles provavelmente foram infectados antes de entrar no voo.
Mas havia um passageiro
Um passageiro embarcado em Cingapura, no entanto, não tinha ido recentemente a Wuhan e não tinha entrado em contato com ninguém suspeito de ter a doença até antes de embarcar no avião. Ele então virou objeto de uma análise mais minuciosa.
Os cientistas mapearam o que esse passageiro fez durante o voo e concluíram que o homem de 44 anos estava originalmente sentado a uma distância segura de outros passageiros que deram positivo, no entanto, durante o voo ele mudou de assento para ficar próximo de membros de sua família. No novo lugar, ele passou a estar sentado ao lado de um passageiro com COVID-19 e adjacente a três outros passageiros infectados. Além disso, o homem confirmou que tirou sua máscara para conversar com seus parentes.
Após uma semana de quarentena obrigatória, o homem apresentou febre e foi testado positivo para SARS-CoV-2. Como o tempo de incubação do vírus é calculado entre 1 e 14 dias, os cientistas acreditam que, naquele momento do voo, ele entrou em contato e contraiu a COVID.
Por ter seguido o método aceito pela comunidade científica, o estudo está sendo aceito como uma evidência de que a transmissão pode ocorrer a bordo, ainda que o risco seja baixo, caso as medidas de contenção adequadas sejam aplicadas.
No estudo há muitos detalhes como o mapa de assentos e a movimentação do passageiro, a quem tiver interesse, esse é o link para o documento.
Recomendações dos cientistas
Para o grupo de pesquisadores, o baixo número de casos suspeitos de transmissão durante o voo pode ser atribuído ao uso de máscaras, que têm se mostrado eficazes no bloqueio da transmissão de doenças respiratórias e também aos filtros de partículas das aeronaves.
Ainda assim, eles sugerem que empresas, governos e pessoas não esmoreçam e continuem empregando todos os recursos necessários e medidas para contenção do vírus. Além das máscaras, a medição de temperatura antes do embarque (que é o que já vem sendo feito) e o distanciamento social onde for possível. No entanto, eles não sugeriram o distanciamento social a bordo dos voos, mas sim que as companhias aéreas desinfetem locais de alto contato, como apoios de braço, mesas de bandeja e controles de reclinação de assentos.