VOCÊ SABIA? No ano de 2003, o fundador da Virgin Atlantic, Richard Branson, fez uma proposta à British Airways, oferecendo $7 milhões de dólares por cada Concorde aposentado pela companhia. O pedido, no entanto, foi rejeitado pela BA que acreditou se tratar de mais um golpe publicitário do presidente da Virgin.
A hipótese da British faz sentido. Um dos motivos que levou as empresas Air France e British Airways – as únicas operadoras do Concorde – a por um fim na era supersônica dos aviões de passageiros, foram os altíssimos custos de manutenção que inviabilizaram a operação do icônico jato.
No entanto, se a British tivesse aceito a proposta de compra da Virgin,juntamente com o suporte técnico da Airbus no fornecimento de peças, quais seriam as rotas operadas pelo Concorde da Virgin Atlantic?
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A companhia aérea de Richard Branson teria garantido, sem nenhuma dúvida, uma atração verdadeiramente única em sua frota. Mas se a Virgin tivesse o Concorde fazendo voos comerciais, provavelmente ele teria permanecido na rota transatlântica de Londres a Nova York, já que o o modelo não tinha permissão para realizar voos supersônicos sobre o continente – essa é, inclusive, uma das barreiras até hoje para a viabilização dos voos de passageiros supersônico.
Não há dúvidas sobre o talento de Branson em promover seus negócios. Destemido, ele faz investimentos onde muitos multi-milionários não colocariam um centavo dado o risco. Assim, provavelmente o Concorde passaria a ser usado por seu pessoal como um cartão de visitas e uma atração turística, mais do que qualquer outra coisa.
Ainda assim, daria para ficar no “zero a zero”, ou seja, sem prejuízo. Com este monopólio por ser a única operadora no mundo a voar com jato supersônico comercialmente, a companhia aérea teria garantido a venda fácil de passagens para voar a uma velocidade de cruzeiro em torno de 2,5 vezes a de qualquer aeronave de passageiros no mundo.
A Virgin poderia ter fechado esta compra a 16 anos atrás, mas infelizmente isso não aconteceu. De qualquer maneira, pode ser que isso não signifique o fim da história.
Virgin ainda aposta em viagens supersônicas
O mundo voltou a sonhar com a viagem supersônica em voos comerciais nos últimos anos e várias empresas têm trabalhado para desenvolver projetos de um jato capaz de realizar voos entre NY e Londres em três horas e de Los Angeles a Sidney, na Austrália, em apenas seis horas e meia.
A Japan Airlines e a própria Virgin Atlantic estão investindo em uma empresa chamada Boom Aviation que está desenvolvendo a aeronave Overture. Apesar de estar nos estágios iniciais do projeto, os testes de aeronavegabilidade e certificação do FAA são esperados para meados de 2020. Já a norte americana Boeing está atuando em parceria com a empresa Aerion Supersonic, que planeja desenvolver um jato executivo supersônico.
Portanto, tendo a Virgin Atlantic como uma das investidoras nesses projetos para viagens supersônicas, ainda podemos sonhar em ver a companhia aérea operando algo muito semelhante ao Concorde.
Concorde parou por custos do petróleo, não pelo acidente
Ao contrário do que diz a cultura popular, que afirma que o Concorde parou simplesmente depois do trágico acidente em Paris no ano 2000, na verdade os motivos foram outros.
O jato supersônico voou pela última vez outubro de 2003 com a British Airways entre Nova York e Londres. Poderia ter voado mais se não fosse um fator-chave: o preço do petróleo.
Do fim da década de 80 até a virada do milênio, o preço do petróleo se manteve estável, na casa dos $25 dólares por barril. Porém com a crescente demanda, seguida dos atentados de 11 de setembro de 2001 e invasão do Iraque pelos EUA em 2003, o preço estourou, chegando na casa dos $40 dólares.
O Concorde consumia algo em torno de 6 galões por hora voada, ante 5 galões do jumbo Boeing 747-400. A diferença pode parecer pouca, mas vale lembrar que o jato supersônico levava 100 passageiros, e o 747 uma média de 350. Então, o Jumbo consumia 20% a menos levando 250% a mais de passageiros que o Concorde. Existe um fator a favor do jato francês: ele só levava passageiros na primeira classe, bilhetes caros mas que podiam pagar a viagem.
Porém nem todo mundo estava disposto a pagar $12 mil dólares (em valores de 2018) para cruzar o Atlântico num avião que, por mais que fosse “de elite”, não era confortável: os assentos não reclinavam direito e nada de virar cama. O preço para voar num 747 e chegar descansado em Nova Iorque chegava a ser 20 vezes menor para o mesmo nível de conforto numa classe econômica melhorzinha.
Com isso, as vantagens para o passageiro de voar no Concorde eram o ganho de tempo e a experiência única. Com a perda da atratividade e o custo proibitivo, a primeira era supersônica da aviação comercial chegava ao fim.