Entrevista com Ricardo Beccari, autor do livro “Museu Asas de um Sonho”.

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Conversamos com o fotógrafo Ricardo Beccari, autor do livro “Museu Asas de um Sonho”, que foi escrito em conjunto com o professor e economista Ramon Barazal. É uma obra inédita e imperdível que conta a história da formação do maior museu particular de aviões do mundo.

Os textos que compõem o livro foram narrados por João Amaro, irmão do Comandante Rolim, com quem fundou o museu há 9 anos. Com grande emoção, ele relembra o caminho percorrido pelas aeronaves até chegarem ao acervo. Certamente é uma obra que vai fazer o leitor olhar para os aviões do acervo de uma forma diferente. Tudo isso é complementado por belíssimas fotos.

O livro pode ser adquirido no site http://www.livromuseuasasdeumsonho.com.br/. Confira a entrevista e veja outras tantas curiosidades sobre o trabalho.

 

AEROIN: Como nasceu a ideia de produzir o livro “Museu Asas de um Sonho”?

RICARDO BECCARI: A ideia do livro nasceu há muitos anos, na época em que eu fazia imagens em Jundiaí quando o museu era apenas um hangar, que hoje não existe mais. Quando o acervo foi para São Carlos, na antiga fábrica de tratores CBT, não era como hoje e também não estava aberto ao publico, pois as aeronaves estavam sendo reformadas pelo amigo e restaurador Jorge Stocco. Era no comecinho e eu fazia várias imagens por lá, então pensei o que farei com estas imagens? Daí nasceu tudo.

Com o tempo, o museu foi se transformando e novos aviões chegando. Perdi a conta de quantas foram as idas e voltas de São Carlos. Eu mesmo ajudei o Stocco a levar várias raridades para lá.

O livro seria, a princípio, composto somente de imagens das aeronaves em exposição no museu. Mas, um dia, o Sr. João Francisco Amaro deu a ideia de contar parte da sua vida ao lado do irmão e comandante Rolim Amaro, relatando histórias que contavam a trajetória das aeronaves do museu.

Gostei da ideia e convidei o amigo, professor e economista Ramon Barazal, para que ele anotasse e, mais tarde, transcrevesse essa parte da rica história de vida dos irmãos. O Ramon, inclusive, conheceu a história de perto, tendo ido até alguns dos lugares onde os fatos ocorreram e que estão relatados no livro.

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AEROIN: O que você aprendeu com esse trabalho e que gostaria de compartilhar com os leitores?

RB: Esse trabalho foi muito longo e estando eu perto das aeronaves, muitas das vezes sozinho no museu, sentia algo que não dá pra explicar. Imaginava quem já esteve nos controles, em que lugares pousou ou quantas pessoas transportou. Por esse motivo posso afirmar que aviões tem alma.

Ficava triste de ver a situação de uma determinada aeronave e, quando menos esperava, recebia um telefonema do Sr. João dizendo: “Beccari, o avião já tá pronto, se quiser vai lá pra fotografar”. Era muito bom! Ver o avião, que antes era quase um ferro velho, poder voar novamente. Ou ver o Sr. João, como uma criança e seu brinquedo novo, tentando acionar um motor que já havia sido silenciado há tempos.

Foi um prazer saber que mostrei parte da história, mesmo sendo por um simples livro. E vocês podem imaginar como há orgulho dentro dos corações dos irmãos Amaro por esse Museu.

 

AEROIN: Na sua opinião, qual aeronave do acervo tem a história mais inusitada?

RB: Todas as aeronaves tem uma história pra contar. O Spitfire, por exemplo, participou na batalha do “Dia D”, na II Guerra Mundial.

O Cessna 140, recuperado do solo boliviano, deixou uma marca triste e que me fez chorar; seu comandante, Milton Terraverdi, e seu cunhado pousaram perdidos e sem combustível; com sede, fome e já sem esperanças, Milton escreveu um diário nas páginas de uma revista, em que narrou sua própria morte.

Há também o avião Polonês RW-13, único exemplar no mundo e em totais condições de voo, trazido ao museu pelo próprio Sr. João Amaro.

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Representação do acidente de Milton Terraverdi.

 

AEROIN: Que lições podemos aprender com os comandantes João e Rolim Amaro?

RB: Os irmãos Rolim e João Amaro são exemplos de que podemos vencer, basta seguir os caminhos de perseverança, honestidade e confiança; pensar positivo e trabalhar muito. Sem dúvida ele fizeram a diferença na história da aviação nacional e internacional.

 

AEROIN: E o que você acha que poderia ser feito no Brasil para fomentar cada vez mais a cultura aeronáutica e avivar nas pessoas a vontade de conhecer mais sobre aviação?

RB: A cultura aeronáutica ainda não está enraizada no Brasil. Em nosso país, infelizmente, avião só voa por um motivo: dinheiro. E voar por aqui ficou muito caro. Além do engessamento do voo, o endurecimento das leis e normas, a burocracia e a falta de tato das autoridades complicam as coisas.

O governo tem que fomentar parcerias com escolas civis, reduzir impostos, dar subsídios a indústria aeronáutica para a criação de treinadores baratos, incentivar o voo a vela lançado do chão – planadores são excelentes treinadores e seu custo operacional é muito barato, subsidiar o combustível nos aeroclubes e escolas de aviação. Embora esta não seja minha especialidade, vejo que é fácil acertar, vide exemplo a escola EJ de aviação que dá um banho de bons serviços ao aluno, basta ter boa vontade.

 

AEROIN: Você pensa em desenvolver novos projetos na área da literatura? Já tem algo em mente?

RB: Estamos fazendo um novo livro sim. O projeto já está pronto e anunciaremos em 2016. Uma dica: será mais um de aviação! Um abraço.

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Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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