Flybondi volta a ter problemas de pagamento de aviões por falta de dólares na Argentina

Divulgação – Flybondi

Os problemas crônicos de escassez de divisas e as barreiras governamentais para lidar com eles, mais uma vez, impõem um desafio ao mercado aeronáutico argentino, especialmente à Flybondi, a segunda maior companhia aérea do país, com uma participação de 20% no mercado. No meio do ano passado, a empresa também enfrentou uma situação semelhante quando acumulou dívidas próximas a US$15 milhões de dólares.

A empresa informou nesta sexta-feira, dia 12 de janeiro, que “devido aos atrasos sistemáticos na aprovação do pagamento de serviços no exterior devido às restrições passadas e atuais, a capacidade das companhias aéreas de cumprir os compromissos assumidos com seus passageiros e fornecedores está sendo comprometida”.

Eles também apontaram que os novos instrumentos criados pelo governo de Javier Milei não atendem às expectativas dos fornecedores (referindo-se ao BOPREAL, o bônus criado para que os importadores de bens e serviços saldem suas dívidas no exterior, que durante o último período do governo de Alberto Fernández atingiram US$60 bilhões).

Essa situação levou os arrendadores a solicitarem à Flybondi a paralisação de parte de sua frota, o que ocorre no auge da temporada alta de verão, causando cancelamentos e reprogramações que, segundo a companhia, afetam mais de 1.300 passageiros por dia.

“É importante lembrar que mais de 70% dos custos operacionais das companhias aéreas estão vinculados ao dólar, abrangendo aspectos fundamentais como os contratos de leasing de aeronaves, serviços de reposição e sistemas de aeronavegabilidade, entre outros”, destacaram a Flybondi, enfatizando que mantêm contato com as autoridades, a quem expressaram “sua preocupação com essa situação, alertando para a necessidade de regularização, buscando evitar que isso se repita com outros fornecedores essenciais para a operação aérea que enfrentam uma situação semelhante devido à falta de pagamento”.

“A Flybondi reitera a importância de considerar que a indústria aeronáutica é regida por padrões internacionais de contratação de fornecedores, o que exige um sistema mais ágil para que não impacte na conectividade das províncias, na economia argentina e nos passageiros, que são os principais prejudicados“, conclui o comunicado.

O documento não detalha a quantidade de aviões afetados no momento, mas um memorando interno ao qual o portal parceiro Aviacionline teve acesso detalha o pedido específico de um arrendador para deixar em terra uma aeronave “imediatamente”, além da devolução da mesma “devido à perda de confiança no país”. Trata-se do Boeing 737-800 de matrícula LV-KGN, de propriedade do Aviation Capital Group.

A situação da frota se torna mais complexa porque a empresa também possui outras três aeronaves em trabalhos de manutenção que não podem ser concluídos devido à impossibilidade de realizar pagamentos a fornecedores (uma está passando pelo processo de C-Check na Costa Rica), além de outra aeronave fora de serviço após o tail strike sofrido em Mar del Plata na semana passada.

Isso deixa apenas 10 de suas 15 aeronaves operacionais, uma proporção significativa, mas, como tinham adotado uma programação mais conservadora para o verão, não seria tão grave, a menos que ocorram contingências diárias.

Embora o problema da falta de divisas afete toda a indústria, a Flybondi enfrenta desvantagens em relação à Aerolíneas Argentinas e à JetSMART. Por um lado, a empresa estatal tem algum espaço para lidar com pagamentos devido às vendas que gera em sua rede internacional, enquanto a JetSMART também pode fazer isso por meio de sua matriz no Chile.

A Flybondi, por outro lado, depende quase que totalmente de sua operação doméstica, e sua matriz está na Argentina (mesmo que tenha investidores estrangeiros).

O paradoxo é que isso ocorre ao mesmo tempo em que a gestão de Javier Milei propôs uma desregulamentação do transporte aéreo para dinamizar ainda mais o mercado argentino.

Embora fontes da indústria reconheçam que há um gargalo significativo herdado do governo anterior, eles precisam que haja uma atenção especial para a aviação comercial dada suas particularidades.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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