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Grupo processa British Airways por Jumbo sequestrado por Saddam Hussein há 34 anos

Foto: Roger Oldfield

Um voo da British Airways de mais de três décadas atrás está rendendo um novo processo judicial, com acusação de negligência.

O ano era 1990 e o então presidente e ditador iraquiano Saddam Hussein acusava o Kuwait de roubar o petróleo do Iraque através de perfurações transfronteiriças. No dia 2 de agosto, as forças iraquianas invadem o Kuwait e, após uma rápida batalha de apenas dois dias, o país vizinho é tomado pelas tropas de Saddam.

Após vários meses de ocupação, já em janeiro de 1991, a Operação Tempestade no Deserto é iniciada e liderada pelos EUA, que rapidamente destroem quase todas as forças iraquianas, libertando o Kuwait.

A operação foi a primeira invasão de grande escala feita pelos americanos desde o “Dia D”, em 1944, e foi aclamada pelo extenso uso de aeronaves e com apenas um caça abatido num combate aéreo, mas a história de um avião é pouco conhecida da maior parte do público: o Boeing 747-100 da British Airways que cumpria o voo BA-149.

Este voo decolou de Londres no dia 1º de agosto de 1990, um dia antes de Saddam invadir o Kuwait, na rota regular que ligava a capital britânica com a Malásia, com escala na Cidade do Kuwait.

Como previsto, o voo pousou nas primeiras horas do dia 2, quando as tropas de Saddam já avançavam no país vizinho. Pelo fato do Reino Unido ser parte da coalizão, que desde o início condenou e depois atacou Saddam, os passageiros e tripulantes ficaram presos por 2 meses, onde segundo alguns passageiros e tripulações “foram submetidos a condições desumanas em cárcere privado, inclusive com mulheres sendo estrupadas e privação de alimentação”.

A aeronave, o 747-100 de matrícula G-AWND, foi destruído por tropas iraquianas durante a tomada do aeroporto, mas isto ocorreu já quando o Jumbo estava vazio e os passageiros já haviam sido detidos.

Destroços do Jumbo são observados por tropas americanas em 1991

O ponto principal do processo movido só agora, em julho de 2024, é que o governo britânico e a British Airways sabiam da movimentação das tropas iraquianas na fronteira com o Kuwait, mas não fizeram nada para evitar e que, na verdade, queriam que o avião fosse para o país de qualquer maneira, segundo reporta a BBC.

A base para esta afirmação vem de Stephen Davis, chefe de cabine do voo, que informou que assim que abriu a aeronave após pousarem no Kuwait, 10 soldados britânicos que estavam a serviço da embaixada pediram que alguns passageiros desembarcassem primeiro, sem dar explicações.

Os passageiros da lista fornecida pelos militares saíram na frente e foram embora do aeroporto, acompanhados dos soldados da embaixada. Não demorou muito e as tropas de Saddam começaram a tomar o aeroporto, tomando de refém a tripulação e os passageiros do BA-149.

Existe a teoria, nunca confirmada por documentos, que os homens que desembarcaram pertenciam ao Special Air Service, ou SAS, a mais antiga e respeitada tropa de operações especiais do mundo, que inclusive havia atuado de maneira exemplar em 1980 para libertação de reféns na embaixada iraniana em Londres.

Por esta suposta presença de membros do SAS de maneira sigilosa, para que o Jumbo não fosse abatido pelo Iraque, o voo teria decolado de Londres, apesar dos claros indícios de que Saddam invadiria o Kuwait, tanto que o 747-100 da British foi o último avião comercial a pousar no aeroporto.

O grupo formado por 94 pessoas, incluindo passageiros, tripulantes do voo BA-149 e do voo de retorno para o Reino Unido, abriu um processo contra o governo britânico e a British, alegando que foram expostos a risco desnecessário, e que sofreram mentalmente e fisicamente em decorrência da suposta irresponsabilidade destas partes.