Indústria aérea ressalta a atenção que precisa ser dada à conectividade e sustentabilidade na América Latina e Caribe

José Ricardo Botelho, diretor executivo & CEO da ALTA

Cancún, México – A região da América Latina e Caribe (ALC) mobilizou cerca de 300 milhões de pessoas em 2023, frente a apenas 18 milhões em 1970, um crescimento ao longo do tempo que se reflete em um maior número de conexões, mas que ainda não são suficientes, destacou o presidente do Comitê Executivo da ALTA, Adrián Neuhauser, na 19ª conferência ALTA AGM & Airline Leaders Forum 2023.

Questões como a necessidade de maior integração, infraestrutura, volatilidade cambial e falta de políticas que incentivem a produção de combustíveis sustentáveis ​​são alguns dos desafios enfrentados pela indústria da aviação na região, segundo os representantes do setor, presentes na Conferência da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aérea (ALTA), realizada de domingo a terça-feira, 22 a 24 de outubro, na cidade de Cancún, México.

“Acreditamos que o evento ALTA AGM & Airline Leaders Forum 2023 é uma grande oportunidade de nos unirmos como indústria e como reguladores para discutir e criar espaços comuns para ver o crescimento e a integração e fornecer maior conectividade à região latino-americana”, destacou Neuhauser.

O presidente do Comitê Executivo da ALTA admite que há escassez de conectividade terrestre, de conectividade ferroviária e que a conectividade é complicada, o que limita a integração entre os países.

“Somos uma região que ainda tem espaço para crescer. As estatísticas mostram que os voos per capita na América Latina continuam a ser um quarto do que são nos países desenvolvidos e isso é uma oportunidade para continuar se desenvolvendo”, acrescentou.

Por sua vez, José Ricardo Botelho, diretor executivo & CEO da ALTA, afirmou que “embora quase tenhamos alcançado os níveis pré-pandemia, devemos lembrar que a região continua a ter graves problemas de infraestrutura, custos de passagens desnecessários, volatilidade cambial, aumento dos preços dos combustíveis e muitos outros desafios. É por isso que queremos aproveitar este momento para pedir que trabalhemos juntos.”

Segundo Botelho, a aviação não é apenas um meio de transporte. É um pilar da inclusão social. Através dele, um maior número de indivíduos tem acesso aos meios de transporte mais seguros e eficientes, que também se configuram como os mais sustentáveis ​​num futuro próximo.

“A aviação promove o bem-estar coletivo, criando oportunidades que vão desde o taxista que espera no aeroporto, ao artesão local, ao chef de restaurante e ao guia turístico, entre muitos outros”, acrescentou o presidente executivo da ALTA.

Outro desafio que Botelho referiu engloba as políticas de combustíveis sustentáveis, pois, apesar da riqueza natural da região e de possuir a matéria-prima, há uma notável falta de iniciativas neste sentido, e de incentivos.

“Devemos ser cautelosos e evitar regulamentações que nos imponham mandatos de combustível de aviação sustentável (SAF), especialmente quando estes não estão alinhados com as diretrizes do CORSIA. Um exemplo palpável é encontrado no Brasil, onde está sendo debatido um projeto de lei que propõe uma redução de 10% nas emissões de carbono até 2037 em comparação com 2026. Se o SAF fosse utilizado exclusivamente para atingir esse objetivo, a produção local seria insuficiente, gerando um custo adicional para a indústria de mais de US$ 16 bilhões”, disse Botelho.

O diretor executivo da ALTA afirmou que a compensação de carbono, ajustada à capacidade de cada país, surge como uma alternativa viável juntamente com políticas públicas que promovam a melhoria e expansão da infraestrutura aérea e incentivos econômicos para a produção e consumo em larga escala de SAF.

Na perspectiva da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), Willie Walsh, Diretor Geral da associação, que participou do ALTA AGM & Airline Leaders Forum 2023, fez uma radiografia da região. Ele afirma que a ALC sofre com problemas como impostos de 50% enquanto no resto do mundo é de 32%.

Segundo Walsh, os desafios são muitos. O potencial do mercado é grande, mas os custos dos combustíveis afetam a rentabilidade do negócio. Outra questão para a região centra-se em alcançar zero emissões.

“Os países vão funcionar em ritmos diferentes. Os Estados Unidos e a União Europeia terão de fazer progressos mais rápidos, enquanto os países restantes vão levar mais tempo para atingir os objetivos. O caminho não será o mesmo para todas as companhias aéreas e é errado penalizar todas as pessoas igualmente, mesmo que não operem ao mesmo ritmo. Se todos não alcançarem a meta global, fracassarão nas suas ambições. Mas se não temos SAF na região, como podemos esperar que as companhias aéreas tenham sustentabilidade”, acrescenta.

Walsh insiste que é necessário um crescimento exponencial na produção de SAF até 2030, e reconhece que a região não está nem 10% perto de atingir a produção de SAF até 2050. Indica que, tal como os governos subsidiam e incentivam os combustíveis fósseis, o mesmo impulso deve ser dado à produção de combustível de aviação sustentável: “Toda a produção de drop SAF disponível foi adquirida pelas companhias aéreas. Mostramos que queremos ser sustentáveis. O crescimento exponencial da produção de SAF é necessário até 2030. As companhias aéreas não terão condições de arcar com a produção.”

O diretor da IATA insistiu que para que a aviação chegue a mais pessoas é necessário um enquadramento que incentive os investimentos em SAF: “Os investidores precisam garantir que não mudarão as regras do jogo. Precisamos de um quadro político, já que vemos uma grande oportunidade na região.”

Infraestrutura no México

Rogelio Jiménez Pons, subsecretário de transportes do México, destacou que o país está trabalhando para fornecer melhores condições de infraestrutura, como a construção do novo aeroporto de Tulum.

Jiménez Pons mencionou que estão sendo preparados entre quatro ou cinco projetos para novas estruturas aeroportuárias com investimentos mistos em Parcerias Público-Privadas no México.

“É importante que a relação entre o governo e o setor privado seja fortalecida com transparência e honestidade”, afirmou.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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