Pilotos se confundiram sobre motor que deu pane antes de caírem no mar com seu Boeing 737

Imagem: NTSB

A queda de um Boeing 737 no mar poderia ser evitada se os pilotos tivessem seguido alguns protocolos previstos. O acidente de julho de 2021 envolveu um Boeing 737-200 da Transair, que tinha acabado de decolar do Aeroporto de Honolulu, no Havaí. O relatório final deste acidente ficou disponível ontem.

Logo após a aeronave sair do chão, um som estranho foi ouvido e ela começou a virar para a direita, sendo que o copiloto comandou o leme para esquerda para contrabalancear e manter o avião reto e nivelado.

Tanto o comandante quanto o copiloto perceberam que o motor direito havia perdido potência. Então, o comandante reduziu a potência no motor esquerdo para ficar mais próxima do motor direito, que estava com problemas. Logo após ele começou a entrar em contato com o Controle de Tráfego Aéreo para relatar o problema.

Neste momento, o copiloto reduziu ambos os motores para idle (potência mínima), sem avisar o comandante, que só quase 3 minutos depois foi reassumir o controle da aeronave, que começava a perder perigosamente altitude.

Imagem: NTSB

Os pilotos então começaram a tentar entender o que estava acontecendo com os motores, e o copiloto disse “o motor esquerdo já foi, então só temos o motor número 2 (direito)” fazendo uma identificação incorreta do motor com problemas. O comandante recebeu a informação mas não a verificou, fazendo uma confusão de motores.

Para compensar a falta de potência do suposto motor esquerdo com problema, o comandante aumentou a potência do direito, e instruiu o copiloto a pegar o checklist para resolução do problema, enquanto ele coordenava o retorno para o aeroporto com os controladores.

Logo após iniciar o checklist, o copiloto teve que parar o procedimento já que o motor direito estava com indicações acima do limite após ter a potência aumentada enquanto estava com problemas.

Após uma breve conversa entre os tripulantes, foi notado que outros indicadores do motor direito estavam além do limite, o comandante pediu para que o copiloto fizesse logo o checklist, mas este falou “mas temos que voar o avião primeiro”, e ambos os pilotos não finalizaram os itens do checklist, desligando o motor direito de maneira direta.

Neste momento, a aeronave já estava com uma velocidade baixíssima (de 160 nós ou 296 km/h) quando comparado aos 210 nós ou 388 km/h no início da pane), e tinha ido de 2.000 pés (609 metros) de altitude para apenas 592 pés (180 metros) sobre o mar.

Nesta situação, o 737-200 já não conseguiria retornar para o Aeroporto de Honolulu, e o piloto avisou aos controladores que iria pousar na água, o que acabou acontecendo.

Investigação

Imagem: NTSB

A investigação conduzida pela NTSB com apoio da Boeing e da Pratt & Whitney, respectivamente fabricante da aeronave e dos motores, apontou que houve uma confusão na cabine sobre o que deveria ser feito após uma pane de motor.

O afastamento demasiado do aeroporto foi causado em parte pelo Comandante, já que numa situação similar anterior ele foi repreendido pelo Piloto-Chefe da companhia por ter feito um retorno muito rápido sem antes completar os procedimentos necessários para falha de motor.

A falta de comunicação e identificação confusa do motor problemático também levaram ao acidente. A NTSB não detectou nenhuma falha na manutenção feita pela empresa na aeronave, mas uma análise apontou fratura em duas das lâminas do motor direito, causadas por fadiga e funcionamento em temperaturas acima do previsto.

Apesar dos problemas, a aeronave se comportou dentro do esperado para uma falha de motor. O resgate foi feito pela Guarda Costeira, que demorou 33 minutos do primeiro aviso até chegar de helicóptero no local do acidente, resgatando o comandante e copiloto.

Foram emitidas recomendações, principalmente relacionadas ao Gerenciamento de Recursos Humanos na Cabine, Manuais e Treinamentos, que segundo a NTSB são desatualizados e conflitantes. A aeronave foi retirada do mar apenas em novembro, 4 meses após o acidente. Clique aqui para conferir o relatório na íntegra em inglês.

Imagem: NTSB
Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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