Para reerguer sua participação de mercado, a Pepsi procurou uma maneira espetacular e inovadora de anunciar seu novo estilo de marca e aumentar suas vendas.
As marcas geralmente encomendam veículos especiais para promover um novo produto ou causar uma impressão de qualidade. Em 1996, durante um grandioso processo de reposicionamento de marca, a Pepsi fechou um acordo com a Air France para criar um instrumento de marketing verdadeiramente único e inspirador usando um dos poucos Concordes existentes.
Pode ser Pepsi?
Em meados dos anos 1990, as latas de Pepsi eram principalmente vermelhas e azuis. Com o objetivo de definitivamente contrastar com a Coca Cola, a empresa decidiu investir mais de 3 bilhões de dólares num projeto grandioso de reposicionamento da marca e lançamento de embalagens, desta vez na cor Azul.
Uma das ações mais emblemáticas desse período foi a pintura do Concorde F-BTSD, transformando-o numa “lata de refrigerante”. Embora o valor total pago pelo privilégio de exibir suas cores corporativas no Concorde nunca tenha sido divulgado, só os trabalhos de pintura de aeronaves como o Boeing 767 podem custar mais de US$ 150.000.
Limite de velocidade devido à pintura
Concordes operavam em ambientes extremos em altitudes de até 60.000 pés e velocidades de cruzeiro de 1.350 mph (Mach 2,04), sujeitando a fuselagem da aeronave a imensas pressões durante o voo supersônico. Devido ao aquecimento da estrutura da aeronave, os Concordes se estendiam de 15 a 30 cm durante o cruzeiro em alta velocidade.
Seja voando nas cores da British Airways ou Air France, o Concorde foi homologado para usar apenas esquemas visuais baseado em tinta branca de alta refletividade, especialmente formulado e com logotipos mínimos para dissipar o máximo de calor possível.
A pintura azul somente foi viabilizada após uma série de estudos e restrições por parte do fabricante. O Concorde da Pepsi não conseguiria sustentar a velocidade de Mach 2 por mais de 20 minutos, pois a tinta azul não refletia nem irradiava calor com a mesma eficiência que o branco padrão.
Para evitar problemas térmicos, foram autorizadas velocidades máximas de até Mach 1.7. As asas em delta tiveram que ser mantidas na cor branca para não afetar a temperatura do combustível armazenado, embora o logo da Pepsi tenha sido aplicado na superfície superior.
200 litros de tinta e um tour de 10 dias
Os trabalhadores gastaram 2.000 horas e usaram 200 litros de tinta azul para concluir a tarefa de repintar a aeronave no esquema da Pepsi, que foi concluída nas instalações de manutenção da Air France no aeroporto de Paris – Orly, em sigilo estrito, com trabalhadores ocultando a pintura concluída, cobrindo o jato em papel de embrulho marrom.
Em seguida, o jato voou para o aeroporto de Gatwick, em Londres, sob a escuridão da noite de 31 de março de 1996 e, ao pousar, foi prontamente rebocado para o hangar onde a empresa revelaria a nova marca. O vídeo abaixo mostra um pouco de todo esse processo de pintura e preparação da aeronave.
Em 2 de abril de 1996, centenas de jornalistas de 40 países cobriram a grande revelação da nova marca aplicada no Concorde, que contou com as supermodelos Claudia Schiffer e Cindy Crawford, bem como o fenômeno do tênis Andre Agassi. Nas duas semanas seguintes, a aeronave completou um tour de 16 voos por 10 cidades pela Europa e Oriente Médio, usando a pintura exclusiva, antes de retornar ao serviço nas cores regulares da Air France.
O tour seguiu o seguinte roteiro:
– 31 de março Paris – Londres
– 03 de abril Londres -Dublin
– 04 de abril Dublin – Estocolmo
– 04 de abril Estocolmo – Paris
– 06 de abril Paris – Beirute
– 07 de abril Beirute – Dubai
– 07 de abril Dubai – Jeddah
– 08 de abril Jeddah – Cairo
– 08 de abril Cairo – Milão
– 09 de abril Milão – Madri
– 09 de abril Madri – Paris
A aeronave em si é historicamente significativa por várias outras razões. Além de usar brevemente o logo da Pepsi, esse foi um dos exemplares finais do Concorde e se beneficiou de técnicas avançadas de construção, como rebites de titânio para “aumentar a leveza”, totalizando 2.050 libras em economia total de peso em comparação com os primeiros.
Atualmente, aeronave agora reside em exposição permanente no Museu do Ar e do Espaço em Le Bourget, França.