Por “achismo” de controlador, dois aviões ficaram a apenas 45 metros um do outro em incidente grave

Imagem: NTSB

Investigadores do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB) atribuíram um quase acidente no Aeroporto Internacional de Austin-Bergstrom, em fevereiro do ano passado, em que dois jatos estiveram a cerca de 45 metros de colidir, a suposições incorretas feitas por um controlador de tráfego aéreo e à “falta de tecnologia de segurança crítica” no local.

O incidente ocorrido em 4 de fevereiro de 2023 envolveu um 767-300 da FedEx que passou por cima de um Boeing 737-700 da Southwest Airlines, após ser forçado a fazer uma arremetida quando o avião menor recebeu autorização para decolar na mesma pista em que estava pousando. As condições meteorológicas indicavam neblina naquele início da manhã.

Como resultado, o NTSB instou a Administração Federal de Aviação (FAA) a instalar tecnologia de vigilância do solo em todos os principais aeroportos dos EUA que lidam com grandes aeronaves comerciais.

Durante uma audiência em 6 de junho em Washington, o NTSB concordou que a falha de um controlador de tráfego aéreo em conhecer a posição do jato da Southwest – que estava taxiando momentos antes – causou diretamente o incidente em Austin. Uma animação do incidente grave, abaixo, foi publicada pelo NTSB.

O que houve

A visibilidade no aeroporto, quando o incidente se desenrolou por volta das 6h40, era de apenas 0,40 km (0,25 milhas) devido à densa névoa, o que impediu o controlador de ver a aeronave da Southwest (de matrícula N7827A) à medida que taxiava em direção à pista para decolar. Ao mesmo tempo, o jato da FedEx (N297FE) estava em aproximação final.

O NTSB observa que os pilotos da Southwest solicitaram autorização para decolar quando ainda estavam a 168 metros da cabeceira da pista. O controlador concedeu a solicitação sob a suposição incorreta de que o 737 já estava no ponto de espera e pronto para partir – uma condição que o NTSB chama de “viés da expectativa”.

Como resultado, o controlador experimentou um “modelo mental inexato” da localização do 737 e uma “falta de consciência situacional”, e também não verificou a posição do jato com seus pilotos, diz o Conselho.

Os pilotos da Southwest, ao atingir o limiar da pista, não iniciaram imediatamente a corrida para decolagem. Em vez disso, sem notificar o controlador, pararam a aeronave por 19 segundos para fazer o acionamento dos motores, conforme exigido ao usar o sistema anti-gelo. Nesse momento, o 767 da FedEx estava a 33 segundos de cruzar a cabeceira da pista.

O NTSB diz que os pilotos da Southwest deveriam ter informado ao controlador de que pretendiam realizar parada antes de decolar.

À medida que o 737 da Southwest começou a rolar para a decolagem, a separação entre as duas aeronaves “continuou a diminuir até que a tripulação voo da FedEx viu o contorno do Southwest através da névoa e chamou para a realização da arremetida,” diz Michael Hoff, o investigador do NTSB responsável pela investigação.

As análises mostraram que, em seu ponto mais próximo, as duas aeronaves ficaram a apenas 45 metros de distância.

Essa situação poderia ter sido catastrófica se não fosse pela ação da tripulação da FedEx,” diz Jennifer Homendy, presidente do NTSB. “Eu realmente acredito que a excelente comunicação entre os pilotos salvou a vida de 138 pessoas.”

O jato da FedEx deu uma volta antes de pousar com segurança em Austin, enquanto o avião da Southwest decolou, completando seu voo para Cancún sem mais incidentes.

O NTSB insiste que o quase acidente teria sido evitado se Austin tivesse a tecnologia de vigilância de superfície, mostrando os controladores a localização das aeronaves no solo. Além disso, o Conselho recomendou treinamentos mais robustos para controladores de voo e alertas dos pilotos aos controladores quando necessitam de tempo extra na pista antes da decolagem.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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