Por que pouquíssimos voos comerciais sobrevoam a região do círculo antártico?

Ao longo das últimas décadas, com a introdução de novos modelos de aeronaves de longo alcance e o afrouxamento das restrições russas, antes da guerra contra a Ucrânia, voos que circunavegam o Ártico tornaram-se comuns. Essa rota tende a ser a mais rápida para viagens da América do Norte para a Ásia ou Oriente Médio. No entanto, o oposto aplica-se quando se observa o outro extremo do planeta – a Antártica.

Mas por que tão poucos voos operam nessa área?

Até relativamente recentemente, voos regulares de passageiros sobre a Antártica eram proibidos. As regras da ETOPS (Extended-range Twin-engine Operational Performance Standards), que determinam quão distante um avião comercial pode voar de um aeroporto alternativo para situações de emergência, eram de tal ordem que efetivamente tornavam a Antártica uma zona restrita para serviços regulares de passageiros, devido à falta de aeroportos alternativos na área.

Em 2011, a regra ETOPS 330 foi introduzida. Isso permitia que certas aeronaves voassem até 330 minutos de distância de um aeroporto alternativo, tornando os voos sobre a Antártica uma realidade para companhias aéreas que operassem jatos bimotores de longo alcance de última geração.

No entanto, apesar dessa mudança, os voos sobre a Antártica ainda são raros. Há várias razões para isso. Em primeiro lugar, as grandes massas de terra no hemisfério sul estão significativamente mais longe da Antártica do que suas contrapartes do norte, tornando os voos sobre o Polo Sul menos viáveis ​​do que os voos sobre o Ártico.

Em segundo lugar, o hemisfério sul é muito menos povoado do que o norte, e a maioria das grandes cidades do sul está localizada mais ao norte, de modo que a melhor trajetória de um voo de Lagos para São Paulo, por exemplo, não chegaria nem perto da Antártica.

Em terceiro lugar, a maior parte do tráfego aéreo comercial no hemisfério sul tende a ser em direção norte-sul. Há exceções, claro, mas a maioria dos voos saindo da África, Austrália e América do Sul tende a ir para destinos ao norte.

Entretanto, alguns voos contornam a Antártica. O serviço que a Air New Zealand tinha de Auckland para Buenos Aires, por exemplo, voava próximo às latitudes do sul. A Qantas tem um serviço diário de Sydney para Joanesburgo que geralmente é o voo regular de passageiros mais ao sul.

Para os aventureiros que desejam sobrevoar o Polo Sul, há opções. A Qantas opera serviços turísticos regulares entre cidades australianas e a Antártica durante o verão do hemisfério sul. Além disso, há expedições especiais para o continente gelado, que custam “um olho da cara”, mas que devem valer a pena para os afortunados.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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