Sai o Relatório Preliminar do incidente grave na decolagem do avião B777 em Dubai

Boeing 777-300ER da Emirates – Imagem: Aero Icarus / CC BY-NC-SA 2.0, via Flickr

Conforme acompanhamos no final de dezembro, um Boeing 777-300ER da Emirates esteve envolvido em um incidente em que não ganhou altura como deveria ao decolar do Aeroporto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, passando bastante baixo sobre o bairro vizinho antes de subir e prosseguir com seu voo sem novas intercorrências.

Na ocasião, o The Aviation Herald informava, com base em relatos recebidos, que no dia 20 de dezembro, na decolagem da pista 30R, que tem mais de 4 mil metros de comprimento, a saída do solo teria ocorrido após a cabeceira oposta, alçando voo apenas ao final da área de segurança.

Apesar disso, a aeronave seguiu para Washington e depois realizou o voo de retorno EK-232. De volta à base, o Boeing 777 permaneceu no solo em Dubai por 3 dias, mas teria sofrido alguns danos na decolagem do incidente, embora não tenha sido especificado em que lugar ou qual a gravidade.

Uma semana depois, em 27 de dezembro de 2021, a Emirates lançou um alerta para todos os seus pilotos, que levava a crer que os pilotos não tinham percebido que a tripulação de voo anterior havia deixado a configuração de altitude no Painel de Controle Mestre na elevação do aeroporto (00000 pés), fazendo com que o Diretor de Voo não indicasse o momento da rotação de decolagem e subida, mas em vez disso, indicasse a manutenção do modo da altitude (modo ALT).

Agora, nesta quinta-feira, 17 de fevereiro, a autoridade de aviação civil dos Emirados Árabes Unidos (GCAA) divulga seu Relatório Preliminar, em que apresenta as informações iniciais levantadas a respeito da ocorrência, classificando-a como um “Incidente Grave”.

Conforme você poderá acompanhar em detalhes a seguir, neste relatório inicial não há nenhuma menção a uma decolagem além do limite da pista, mas apenas de que houve problema com a razão de subida e uma ocorrência de excesso de velocidade para uma dada configuração de flaps.

Além disso, ao contrário dos relatos apresentados pelo The Aviation Herald, os pilotos não esqueceram de alterar a configuração de altitude antes da decolagem e não houve danos à aeronave.

Vale ressaltar que ainda podem ser incluídas novas informações até o Relatório Final, portanto, muitos detalhes ainda podem ser alterados. Veja a seguir o que já se sabe até o momento.

Relatório Preliminar

Incidente Grave

Subida inicial de baixa razão após a decolagem

História do Voo

Em 19 de dezembro de 2021, uma aeronave Boeing 777-300ER da Emirates, registro A6-EQI, operando o voo programado de passageiros número EK231, com 372 pessoas a bordo, incluindo 4 pilotos e 14 comissários, partiu do Aeroporto Internacional de Dubai (OMDB), nos Emirados Árabes Unidos, para o Aeroporto Internacional Washington Dulles (KIAD), nos Estados Unidos.

A tripulação de voo era composta por quatro membros divididos em dois conjuntos A e B. Cada conjunto era composto por um comandante e um copiloto. A Comandante do conjunto A atuou como piloto em voo (PF) e o Copiloto como piloto de monitoramento (PM) para o voo.

A Comandante afirmou que, durante a preparação da cabine, percebeu que o seletor de altitude estava ajustado em 0000 pés e selecionou-o em 4.000 pés, o que também foi verificado pelo gravador de dados de voo. A seleção de 4.000 pés no seletor de altitude estava em conformidade com a saída padrão planejada por instrumentos (SID) do SENPA 2F1.

SENPA 2F é uma das saídas padrão por instrumentos que são seguidas após a decolagem da pista 30R. Uma autorização de subida inicial de 4.000 pés faz parte da SID.

Às 23:10:29 UTC, a aeronave decolou, e às 23:10:40 os trens de pouso foram selecionados para a posição ‘up’ (retraído).

A Comandante afirmou que após a decolagem, e durante a subida, ela seguiu o comando do diretor de voo. No entanto, a razão de subida da aeronave atingiu um máximo de aproximadamente 800 pés por minuto.

Assim, a tripulação de voo não conseguiu aderir ao gradiente de subida publicado para a SID devido à subida de baixa razão.

Às 23:11:01, o seletor de decolagem/arremetida (TOGA) foi selecionado e as anunciações de modo de voo (FMA) foram alteradas para TOGA/TOGA. Os diretores de voo indicaram atitude de subida no visor de voo primário da Comandante (PFD).

Um excesso de velocidade para a posição 15º dos flaps ocorreu quando a velocidade no ar aumentou para 250 nós.

A tripulação de voo continuou a seu destino e pousou sem intercorrências.

Danos à Aeronave e Outros Danos

Não foram encontrados danos à Aeronave durante a vistoria realizada no aeroporto de destino. Mais detalhes de manutenção serão discutidos no Relatório Final.

Não houve nenhum outro tipo de dano.

Informações dos Pilotos

A Comandante tinha 42 anos e sua licença de pilotagem é válida até 7 de junho de 2028. Possuía 10.849,15 horas totais de voo e 6.567,58 horas no tipo de aeronave.

O Copiloto tinha 26 anos e sua licença de pilotagem é válida até 29 de março de 2025. Possuía 4.644,35 horas totais de voo e 3.426,15 horas no tipo de aeronave.

Informações Meteorológicas

O METAR (Relatório Metrológico do Aeródromo) no momento do incidente indicava que o vento soprava do sul, 180 graus, a uma velocidade de 2 nós. A visibilidade era de mais de 10 quilômetros.

Nenhum havia nuvens Cumulonimbus ou Cumulus towering abaixo de 5.000 pés ou da altitude mínima do setor (MSA), o que for maior. A temperatura era de 21°C. O QNH (pressão a ser ajustada na subescala do altímetro) era de 1019 hPa (Hectopascals), sem alteração significativa.

Comunicações

Todas as comunicações entre o controle de tráfego aéreo e a tripulação de voo foram gravadas pelo equipamento de gravação de voz em terra e disponibilizadas para a Investigação.

Os detalhes das comunicações serão discutidos no Relatório Final.

Gravadores de Dados

A aeronave é equipada com um gravador digital de dados de voo (DFDR) e um gravador de voz do cockpit (CVR)

O DFDR foi recebido em boas condições e os dados gravados foram baixados com sucesso. A análise de insights dos dados baixados será incluída no Relatório Final.

O arquivo de áudio do CVR foi sobrescrito.

Atividades de investigação em andamento

A investigação está em andamento e incluirá mais exames e análises de:

– A causa raiz da subida de baixa razão da aeronave e o desempenho da tripulação;

– Os procedimentos relacionados e a implementação destes;

– Quaisquer outros aspectos de segurança que possam surgir durante o curso desta Investigação.

A Investigação realizará uma análise de insights de:

– Fatores humanos;

– Fatores organizacionais.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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