Airbus: “É muito cedo para falar de um sucessor para o super-jumbo A380”

A Airbus projeta um crescimento significativo da demanda por jatos no Oriente Médio nos próximos 20 anos, inclusive super-jumbos. Mas a fabricante fica sem resposta para os operadores do A380 que precisam de um sucessor para mercados com slots restritos.

Em entrevista ao FlightGlobal, durante o Dubai Airshow, o vice-presidente sênior de negócios e previsão de mercado, Bob Lange, diz que as últimas perspectivas do mercado global da aeronave estimam a demanda do Oriente Médio para 3.200 novas aeronaves até 2038.

Segundo ele, atualmente existem 1.285 aviões em serviço na região, dos quais 1.090 serão substituídos por novas aeronaves. Prevê-se um crescimento adicional de 2.110 entregas, o que aumentará a frota para 3.395 aeronaves em 20 anos.

A380 no Oriente Médio

Segundo levantamento recente, atualmente há 133 Airbus A380 operando em três empresas da região – Emirates (113), Qatar (10) e Etihad (10). Além deles, a Emirates deve receber mais 10 aviões adicionais até 2021, quando a produção do A380 se encerra (note que a fábrica em si já fecha no próximo ano).

Quando anunciou o fechamento da fábrica, dois anos atrás, a empresa disse que foi uma decisão “dolorosa”, mas motivada pela falta de uma carteira de pedidos e, portanto, nenhuma base para sustentar a produção, apesar de todos os esforços de vendas.

Assim, a partir de 2021, a maior aeronave no portfólio da Airbus será o A350-1000 para 350 a 420 assentos, enquanto que o maior avião de passageiros da Boeing é o 777-9, que pode acomodar até 426 passageiros. Todos esses modelos muito distantes da configuração para 580 passageiros em três classes do A380.

Ainda há demanda

Durante a mesma entrevista, Bob Lange diz que, apesar da decisão da Airbus de encerrar o programa em 2021, ainda há demanda para aeronaves na categoria super-jumbo após o término da produção. “Vemos a demanda por aeronaves de grande porte no mundo e no Oriente Médio. E essa demanda pode suportar aeronaves do tamanho do A380. No entanto, a questão é quanto, qual nível de tecnologia e a que momento?”

Recentemente, o presidente da Emirates, Tim Clark, disse que a companhia enfrentaria um dilema para substituir o A380 em aeroportos com restrições de slots: “O A380 voltará a se destacar novamente nas operações maciças de rotas tronco. Mas a dificuldade é que você só tem aviões de 250 lugares para lidar com a demanda. Então, o que acontecerá é que a oferta de assentos será reduzida, e os preços subirão. No meio da próxima década, as tarifas aéreas aumentarão significativamente, já que o A380 tem 517 assentos, enquanto o 777-9 tem apenas 380 assentos”, disse.

Lange espera que o A380 continue sendo a “espinha dorsal” da indústria de transporte aéreo após o término da produção “por praticamente 20 anos”.

No entanto, ele diz que a Airbus atualmente não possui um plano de sucessão do A380, sobretudo para rotas em que os operadores são obrigados a usar aeronaves de alta capacidade em face das restrições de faixas horárias nos aeroportos: “Em termos da demanda por outras aeronaves super-grandes, precisamos ver como isso evolui, já que atualmente não faz parte de nossos planos, e vemos um crescimento de aeronaves menores substituindo aeronaves maiores onde os slots não são restritos”.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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