Airbus investe na produção de asas do futuro: veja quais são as tecnologias e métodos sendo testados

Airbus A330 Beluga XL – Imagem: Airbus

No último episódio de uma série de explicações sobre o desempenho das aeronaves da Airbus, bem como suas curiosidades, foi explorada a fabricação e o funcionamento das asas.

Nesse âmbito, o programa de pesquisa “Wing of Tomorrow” está empenhado em examinar as tecnologias e sistemas industriais que poderiam impulsionar uma nova aeronave com baixa emissão de carbono aos céus. Antes de adentrar nos avanços futuros, é crucial compreender como as asas são produzidas atualmente.

São os trabalhadores de montagem da Airbus que unem as asas às fuselagens. E eles são impactados a cada momento. Hoje, por exemplo, cerca de 100 novas tecnologias estão sendo exploradas para auxiliá-los e promover avanços no design e na fabricação das asas. E o “Wing of Tomorrow” representa o maior projeto de pesquisa em curso, sendo o epicentro dessas inovações.

O objetivo do programa é desenvolver abordagens disruptivas, capazes de viabilizar novas aeronaves com baixa emissão de carbono. Algumas dessas inovações podem até ser aplicáveis às plataformas de aeronaves atuais da Airbus. E isso é importante para a fabricante, que acredita que, antes de vislumbrar o futuro, é importante compreender o presente.

Imagem: Airbus

Montando o quebra-cabeça

O processo de montagem das asas na Airbus assemelha-se à montagem de um quebra-cabeça complexo.

Tome-se como exemplo o A350. Assim como em todos os programas de aeronaves comerciais da Airbus, os materiais compostos das asas e outros componentes, como longarinas e nervuras, são fabricados em múltiplos locais distintos e distantes entre si. Posteriormente, os operadores realizam a montagem das asas na fábrica em Broughton, no Reino Unido.

Cada conjunto de asas do A350 finalizado é transportado pelo BelugaXL, um avião de transporte, operando com uma mistura de 50% de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), até Toulouse. Lá, são unidas a caixa central da asa e a fuselagem, durante a montagem final.

Antes que esse quebra-cabeça de produção possa ser concluído, há muito a ser feito. O processo inicia-se na fase de Projeto Geral da Aeronave, que determina a forma e as características da asa, incluindo controles de voo e sistemas de elevação. Posteriormente, inicia-se uma fase denominada “co-design“, na qual o design estrutural da asa é amadurecido em paralelo com o sistema industrial necessário para produzi-la.

Mais longa, fino e leve

Olhando para o futuro, prevê-se que as asas sejam produzidas com níveis mais elevados de automação. Utilizando um processo denominado “design para fabricação”, os engenheiros da Airbus identificarão o melhor equilíbrio entre montagem manual e automatizada, assegurando que as asas sejam produzidas corretamente da primeira vez, a cada vez e a um custo adequado.

A próxima geração de asas será caracterizada por sua maior extensão, maior leveza e perfil mais esguio. Quando combinados, esses atributos contribuem para que uma aeronave alcance a sustentação necessária consumindo menos combustível, resultando em menores emissões de CO₂.

Essa transformação no design das asas requer uma adaptação na forma como são produzidas. O sistema industrial da Airbus precisa estar preparado para produzir de maneira eficiente uma asa tão leve em volume e ritmo. Essa mudança exige uma reavaliação radical e é nesse ponto que entra o “Wing of Tomorrow”.

Imagem: Airbus

Seu propósito é não apenas preparar as tecnologias necessárias para a próxima geração de aeronaves, mas também capacitar os funcionários, a cadeia de suprimentos, o sistema industrial e a capacidade física e digital da empresa. Todos trabalharão em conjunto para proporcionar a agilidade necessária para expandir a produção em velocidade, levando em consideração o impacto sobre os operadores que fabricam as asas diariamente.

Ciclos de produção mais curtos

O “Wing of Tomorrow” está conduzindo a Airbus a uma nova era de capacidade industrial, servindo como um campo de testes para novas técnicas de manufatura e automação que unem eficiência e melhorias ergonômicas. Por exemplo, a produção poderá ver a introdução de linhas de montagem de produtos múltiplos, semelhantes às encontradas em instalações automotivas.

Isso permitiria que a Airbus trabalhasse em diversas partes da asa simultaneamente, possibilitando ciclos de produção mais curtos e montagem mais rápida. A automação de perfuração, por exemplo, não apenas reduz os prazos, mas libera operadores qualificados para tarefas de maior valor agregado.

Além disso, a Airbus está utilizando modelagem digital para orientar o design das futuras fábricas de asas, otimizando o tempo de produção. Esse modelo digital de operações, conhecido como “gêmeo digital”, auxilia a Airbus a avaliar o impacto de cada processo de montagem em termos do uso mais eficiente de materiais, redução de resíduos e emissões de carbono.

Florescer das demonstrações

Montados no Advanced Manufacturing Research Centre (AMRC) em Broughton, Reino Unido, três demonstradores de asa em tamanho real serão usados ​​para avaliar diferentes aspectos da construção de asas da próxima geração.

Os demonstradores são todos feitos de compósitos leves e produzidos em colaboração com 40 parceiros em todo o mundo, com o objetivo geral de identificar quaisquer gargalos que possam impedir que as tecnologias que apresentam sejam utilizadas em futuras gerações de aeronaves. 

Os três demonstradores em tamanho real são:

Demonstrador de asa estática – usado para testar as capacidades estruturais de novos designs e materiais;

Demonstrador totalmente equipado – usado para testar tecnologias de instalação e novas abordagens para equipar a próxima geração de asas com sistemas; 

Demonstrador Run@rate – usado para testar a capacidade industrial e as tecnologias de automação da Airbus para avaliar como construir asas em escala e ritmo.

Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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