Após “dar tchau” aos jatos Embraer, empresa aérea africana sofre com crise profunda

A Air Burkina, de Burkina Faso, enfrenta uma grave crise, tendo que interromper as operações há mais de um mês por falta de aeronaves disponíveis. O último voo comercial regular ocorreu em 19 de abril e, sem faturamento, a empresa luta para cumprir suas obrigações financeiras, incluindo salários de abril e maio de 2024.

A empresa aérea já devolveu todas as aeronaves Embraer E195 e E175 arrendadas da Nordic Aviation Capital (NAC). Eram três aviões cujos aluguéis venceram, os quais haviam sido adquiridos entre 2018 e 2019. Para se estabilizar, a Air Burkina vinha operando um ATR72-500 alugado da start-up local Kangala Air Express, além de um Embraer E190 de propriedade da empresa angolana Bestfly.

No entanto, desacordos sobre termos financeiros e técnicos levaram ao término do contrato em março para o ATR72 e em meados de abril para o E190.

“Há algum tempo, estamos sem ferramentas para trabalhar e as operações foram paralisadas. Portanto, somos incapazes de gerar recursos financeiros para suportar nossos custos fixos”, admitiu o novo CEO, Azakaria Traore, em carta encaminhada ao Conselho de Delegados, segundo informações do site Newsaero.

A empresa solicitou a proposta de reduções salariais para serem submetidas à autoridade competente. Como resposta, os delegados concordaram com um corte temporário nos salários a partir de junho, até que as operações sejam retomadas. No entanto, eles solicitam que os cortes de salários sejam feitos de forma justa baseados nos níveis de renda, com aqueles que ganham menos enfrentando uma redução menor do que quem ganha mais.

Os representantes dos funcionários, liderados por Paul Yves Kabore, também fizeram demandas adicionais, incluindo a efetiva aposentadoria dos aposentados que ainda estão em serviço, fornecimento de opções de aposentadoria antecipada e facilitação para transferências voluntárias para outras empresas estatais. Eles também solicitaram que os salários sejam pagos até que um acordo formal seja alcançado entre a administração e o pessoal.

Os funcionários estão reivindicando uma prestação de contas do antigo corpo de gestão, denunciando as “escolhas estratégicas questionáveis feitas no passado”. Eles destacam o contrato de aluguel “oneroso” para as três aeronaves Embraer, a política de manutenção “marcada por negligência, envolvendo canibalização de um dos aviões para manter os outros voando (sem o acordo do proprietário)” e uma gestão financeira e de recursos humanos “ortodoxa”.

Para recordar, a Air Burkina havia anunciado o processo de privatização em 20 de outubro de 2020, como parte de um acordo de parceria com o grupo americano African Global Development (AGD), que deveria adquirir a maioria das ações, enquanto o estado retinha a participação restante. No entanto, o projeto desde então foi interrompido.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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