Aviação russa em crise: aviões quebrados, peças falsas e múltiplos incidentes

Imagem: Raimond Spekking / CC BY-SA 4.0, via Wikimedia

A aviação civil russa está enfrentando desafios críticos, agravados pela recente suspensão do certificado de desenvolvedor de aeronaves da Pobeda Airlines pela Agência Federal de Transporte Aéreo russa. Além de Pobeda, todo o setor está passando por dificuldades significativas, ressaltando a necessidade de uma compreensão profunda desses desafios.

Como informa o Aviacionline, suspensão do certificado de desenvolvedor de aeronaves da Pobeda Airlines, vital para reparos e modificações fora do padrão após a retirada do apoio ocidental, depois da invasão da Ucrânia, levantou preocupações sobre o cumprimento dos padrões de segurança da aviação, particularmente em relação ao Boeing 737.

Um Certificado de Desenvolvedor de Aeronaves é um reconhecimento formal concedido pelas autoridades reguladoras da aviação, como a Agência Federal de Transporte Aéreo na Rússia. Este certificado autoriza uma companhia aérea ou empresa de aviação a desenvolver e produzir documentação técnica para aeronaves. É particularmente crucial para fazer modificações, reparos e implementar pequenas alterações em componentes, sistemas ou estruturas de aeronaves.

O certificado permite que as companhias aéreas gerenciem e executem de forma independente reparos ou modificações fora do padrão, especialmente importante quando o suporte externo de fabricantes de equipamentos originais (OEMs) não está disponível ou é limitado.

O caso da Pobeda é indicativo da situação complicada da aviação russa. A indústria está lidando com um aumento de acidentes aéreos e falhas técnicas, acentuado pela dependência de reparos e canibalização de peças não certificadas. Esta tendência levanta questões sobre a segurança e fiabilidade globais da aviação civil russa.

Revelações recentes de uma operação cibernética conduzida pela Inteligência de Defesa ucraniana contra Rosaviatsia revelaram estatísticas alarmantes. Somente em janeiro de 2023, a aviação civil russa registrou 185 acidentes aéreos, com um terço apresentando diferentes níveis de perigo. O Sukhoi SuperJet 100 liderou esses incidentes, com 34 ocorrências.

Nos primeiros nove meses de 2023, as falhas de aeronaves na Rússia triplicaram em comparação com o mesmo período do ano passado, mostrando um aumento acentuado nos riscos de voo. Componentes cruciais da aeronave, como motores, trens de pouso, hidráulica e software, são particularmente vulneráveis, destacando deficiências sistêmicas na manutenção e operação.

Aumento dos riscos

Diante da escassez de capacidade e especialistas, a Rússia aparentemente está redirecionando a manutenção de aeronaves para o Irã, onde o trabalho é feito sem a devida certificação, comprometendo ainda mais a segurança da aeronave. A escassez aguda de peças levou a um “canibalismo aeronáutico” generalizado, com mais de 35% da frota de aeronaves sendo desmantelada para peças até meados de 2023.

Os 820 aviões civis de fabricação estrangeira na Rússia são particularmente afetados. Embora os primeiros relatórios indicassem que apenas 10% passaram por reparos não certificados com peças alternativas no início de 2022, esse número subiu assustadoramente para quase 70%. Além disso, a maioria das aeronaves soviéticas An-2 estão paradas devido à suspensão do fornecimento de motores da Polônia.

Em janeiro de 2023, 19 falhas foram relatadas em todas as 220 aeronaves Airbus na Rússia, incluindo 17 incidentes de fumaça de cabine em aeronaves operadas pela Aeroflot. Os aviões da Boeing também foram afetados, com 33 falhas técnicas registradas em 230 aviões. Além disso, uma em cada sete Embraer na Rússia tem lutado, revelando um estado crítico de desgaste em vários modelos de aeronaves.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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