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Decisão judicial pode garantir mais encomendas de 777 e 787 à Boeing

Em mais um desdobramento do entrave jurídico recente entre a Boeing e a empresa russa Volga-Dnepr, a fabricante americana pode acabar conseguindo novas encomendas para seus jatos B777X e B787 Dreamliner.

Segundo Avião Boeing 777X
Imagem: Boeing

O The Seattle Times, na última semana, levantou a questão do porquê da Boeing estar fazendo jogo duro com um cliente importante como a Volga-Dnepr, ao recusar-se a reverter o cancelamento de um pedido e permitir que os russos recebam seus aviões.

Segundo o periódico, o processo judicial recentemente encerrado entre as partes revela o motivo: a Boeing tem novos clientes praticamente certos para a compra dos jatos que outrora iriam para a Volga. Mais do que isso, um acordo com um desses clientes poderia adicionar novos pedidos para o 777X e o 787 Dreamliners até o final deste mês de junho.

O histórico entre a Boeing e a Volga-Dnepr registra o total de 16 aeronaves encomendadas desde 2012. Desses 16, foram recebidos pelo russos seis unidades do B747-8F. Ainda estariam pendentes de entrega, de acordo com dados da Boeing, três B747-8F e mais sete B777F.

A questão entre a Boeing e a Volga-Dnepr

Conforme divulgado aqui no AeroIN, a Boeing obteve na justiça americana o direito de repassar a novos clientes, pedidos de aeronaves encomendadas pela Volga-Dnepr.

No último dia 3 de junho, a Corte de Justiça Federal do estado de Washington decidiu o processo em favor da Boeing, de forma que a fabricante pode prosseguir com o repasse (venda) das aeronaves anteriormente destinadas à Volga-Dnepr, oriundas de um contrato de 2018, mas que haviam sido canceladas pela empresa russa, que queria agora reverter o cancelamento. Sem um acordo entre as empresas, a Volga levou a Boeing à justiça.

A confirmação de que a Boeing revendeu os aviões da Volga está contida em uma declaração redigida ao tribunal por Maria Akiyama, diretora da Boeing que foi o principal contato da Volga nos contratos, relata o The Seattle Times.

Em 4 de maio, a Boeing “finalizou a revenda de um avião 747-8F que a Volga recusou e agendou a entrega do avião ao cliente A (não identificado)”, afirma Akiyama.

O “Cliente A”, segundo o The Seattle Times, provavelmente é a UPS, que é a única companhia aérea que ainda tem encomendas a receber do 747-8F, e provavelmente aceitaria os demais três 747-8F restantes da disputa da Boeing com a Volga.

O processo judicial também inclui um contrato de compra, datado de 2 de abril, com outra companhia aérea sem nome, o “Cliente B”, para a aquisição de dois dos três 777F, também originalmente destinados a Volga.

Segundo o The Seattle Times, é aí que vem a jogada da Boeing: o contrato descreve uma série de “créditos” para os dois 777F, com todos os detalhes financeiros ocultados no documento, mas que provavelmente estipulam os descontos que a Boeing está oferecendo. Além disso, um anexo deixa claro que a transação está condicionada ao acordo de compra de vários modelos da Boeing, por esse “Cliente B”.

De acordo com o periódico, o anexo faz comentários à parceria do cliente com a Boeing, mencionando que ele opera tanto 777 como 787, e que a Boeing emitirá a esse cliente uma carta de crédito para vários modelos, desde que ele firme contratos definitivos de compra de aeronaves B777-9 e B787 adicionais até 30 de junho de 2020.

Há um número limitado de potenciais clientes que se encaixam nas especificações acima. O periódico de Seattle cita que a última edição da Cargo Facts, uma publicação de comércio de frete aéreo, especula que, provavelmente clientes potenciais poderiam ser a All Nippon Airways (ANA) do Japão, a EVA Air, de Taiwan, ou uma das grandes companhias aéreas estatais chinesas.

A palavra da Boeing

A Boeing não comenta o assunto de negociações de vendas com seus clientes, mas, sabemos que a fabricante teve muitas encomendas canceladas esse ano, por conta da pandemia do novo coronavírus e pelos problemas com o 737MAX.

Novas encomendas, ou mesmo um cliente interessado em assumir compromissos de encomendas canceladas seriam muito bem vindos num momento tão complicado como o atual.

De acordo com dados da Boeing, até maio deste ano a gigante de Seattle acumula 602 desistências de encomendas em números líquidos. O 737 MAX, afetado pelos problemas que levaram a dois acidentes fatais com o modelo e deixaram a aeronave no em todo o globo, continua a ser o grande responsável por boa parte dos cancelamentos.

Talvez seja coincidência, mas muito provavelmente teremos novidades no início do próximo mês, e talvez tenhamos a confirmação ou novos elementos acrescentados a essa intrincada história. Aguardemos.

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