Uma mudança repentina de aeronave num voo da TAP para o Rio de Janeiro causou confusão e a presença da polícia após a reclamação de passageiros.
O voo TP-75, entre o Lisboa e o Rio de Janeiro, é operado pelo avião do modelo Airbus A330-900neo da companhia portuguesa já há alguns anos, desde a saída definitiva do quadrimotor A340-300 e da aposentadoria da maioria dos A330-200ceo, mais antigos.
Acontece que esta rota regular, nestas férias, tem sido feita, por vezes, pelo Airbus A330-200 da também portuguesa HiFly, uma das proeminentes empresas do setor de wet-leasing, um modelo de negócio que consiste em alugar o avião juntamente da tripulação, além do suporte técnico operacional.
As trocas têm sido feitas para dar conta da malha de verão europeu e também aliviar os tripulantes da TAP, que têm trabalhado no limite e sofrendo com os constantes atrasos e problemas nos aeroportos europeus.
No entanto, a última substituição de aeronaves não agradou aos passageiros brasileiros, que se viram prejudicados ao mudar do novo A330neo pelo já rodado A330ceo. Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível vê-los argumentando com a Polícia de Segurança Pública de Portugal (PSP) e funcionários da TAP.
Um dos passageiros disse: “não tem estrutura no avião e pagamos à vista”. Eles argumentam que pagaram pela Classe Executiva da TAP mas que foram informados no portão que o voo seria feito pela HiFly e, ao entraram na aeronave, se depararam com um interior bem inferior ao que imaginavam.
De matrícula 9H-TQP, o A330-200 da HiFly usado neste voo do último domingo, dia 21, foi fabricado em 1998 para a Canada 3000, e chegou na aérea portuguesa em 2011, sendo alugado para várias outras empresas nos mesmos moldes que a TAP faz.
Ele leva 298 passageiros, exatamente a mesma quantidade de assentos que o A330neo da TAP está configurado, porém o A330-900 é maior, já que é baseado na fuselagem do A330-300, mais comprido que o A330-200. Sendo assim a configuração da HiFly é mais densa (apertada).
Além disso, a classe Econômica do 9H-TQP tem 267 assentos ante 264 dos A330neo da TAP, e na Executiva a diferença são de 3 assentos a menos, sendo um “trade-off” entre as duas classes.
Outro ponto a se notar é que a classe mais cara da TAP ocupa toda a sessão dianteira da aeronave, entre as duas portas mais à frente e na HiFly apenas metade do espaço.
Mas a reclamação não estava no possível downgrade de classe, e sim de quem estava na Executiva e continuou lá na outra aeronave. No avião da HiFly os assentos estão dispostos na configuração 2-3-2, e na TAP é 1-2-1, todos com acesso ao corredor e com 3 poltronas a menos por fileira.
Além de serem mais assentos, eles são menores, têm menos privacidade, não viram cama e não contam com tela individual de entretenimento (ausente em toda a aeronave). Nestes casos, a HiFly costuma a fornecer um tablet com filmes para cada passageiro da executiva.
Foi reportado que os passageiros da Executiva receberam um voucher compensatório de €250 euros (R$1.272) pela mudança de aeronave, mas isto ainda não foi suficiente, e diante do problema, eles recorreram à PSP.
No vídeo abaixo, é possível ver que eles argumentam com a polícia e os funcionários da TAP sobre a qualidade inferior da aeronave, e pedem que fosse garantido sua colocação no próximo voo na mesma classe, algo que o funcionário afirma não ser possível garantir.
Passageiros que pagaram por 1.ª classe no voo da TAP para o RJ, recusam embarcar em um avião fretado pela TAP à Hifly. Uma vez que esta usa um avião (interior e conforto) muitíssimo inferior ao operado pela TAP e consequente ao que foi pago. É esta a tal companhia de bandeira?! pic.twitter.com/WZfMBmcozr
— Miguel Baumgartner (@MiguelBaumgartn) August 23, 2022
Diante do impasse, o que aparenta ser uma supervisora da companhia, pega o microfone do sistema do alto-falante e pede para que os passageiros que desejam desembarcar, que assim o façam pela porta dianteira, de maneira a liberar a aeronave para quem quisesse seguir para o Rio ainda naquela noite. O vídeo acaba sem mostrar um desfecho da história e se os passageiros desembarcaram.
Segundo dados da plataforma de rastreamento de voos RadarBox, o voo partiu com quase 1h30 de atraso, chegando na capital carioca meia hora depois do previsto. Uma reclamação também foi feita pelo Vice-Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto, afirmando que a tarifa para a executiva estava em €5 mil (R$25 mil):
TAP fretou este avião da HIFLY absolutamente indescritível para fazer voo Lx – Rio ( executiva a 5k € ). TAP de Pedro Nuno Santos sempre a inovar. pic.twitter.com/1BCdkqC7Ao
— Miguel Pinto Luz (@miguelluz) August 23, 2022
Outro passageiros também reclamaram da aeronave, falando que o banheiro estava sujo e que não haviam tomadas para carregarem os dispositivos eletrônicos.
Voei em condições de classe econômica, avião velho, sem conforto, mal conservado e com serviços limitadíssimos: não tinha USB para carregamento de meu celular ou computador, banheiros em péssimas condições, cadeiras não reclinavam completamente e não havia apoio para as pernas.
— MARCUS COSTA MORAES (@MARCUSCMORAES) August 23, 2022