Brinquedo infantil quase foi banido dos aviões por ser tagarela e não ter botão de desligar

Imagem ilustrativa

No auge dos anos 1980, os brinquedos infantis Cabbage Patch Kids desencadearam uma verdadeira caçada nas lojas durante o período de festas nos Estados Unidos. Esses bonecos, acompanhados de certidão de nascimento e papéis de adoção, tornaram-se ícones da década e, em 1983, era necessário ter contatos para conseguir um.

Entretanto, o final dos anos 1990 trouxe uma inovação que atraiu os olhares do público infantil: o Furby.

Este brinquedo cabe na palma da mão, possui características de coruja, é colorido e peludo. Com uma venda impressionante de 14 milhões de unidades até 1999, este pequeno robô, alimentado por baterias, passava a interagir com os donos, “falando” uma linguagem própria – o Furbish.

À medida que ia sendo “educado”, o Furby aprendia inglês, era capaz de dar beijos se o acariciavam e a frequência dessas demonstrações de carinho poderia aumentar consideravelmente se esse comportamento fosse recompensado. Dois Furbys poderiam até mesmo comunicar-se um com o outro.

Contudo, o brinquedo acabou despertando a preocupação da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA), como cita a agência em um artigo histórico. As companhias aéreas, sob orientação da FAA, passaram a solicitar a remoção das baterias do Furby durante os voos, e não apenas pelo motivo comum de prevenir o risco de incêndio, geralmente associado a dispositivos com baterias na bagagem despachada.

De acordo com a FAA, a recomendação era que os Furbys permanecessem desligados enquanto a aeronave estivesse abaixo dos 10.000 pés de altitude. A questão é que o Furby não tinha um botão para ser desligado. Foi então ordenado que as baterias fossem removidas.

A situação tornou-se ainda mais dramática quando a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) também baniu o Furby de suas instalações, temendo que o brinquedo fosse um espião. Isso porque ele reagia e reproduzia sons, levando muitos a acreditar que o Furby repetia palavras que eram semelhantes às utilizadas por seus donos.

Um incidente curioso reacendeu o medo que rondava o Furby. Uma moradora de Waldorf, em Maryland, se deparou com um pacote desconhecido em sua varanda. O pacote emitia beeps e ruídos contínuos e tinha como remetente um endereço desconhecido. Assustada, a mulher notificou o escritório do xerife local. E, frente ao estranho cenário, a equipe acionou o esquadrão antibombas para abrir o objeto. A surpresa veio a seguir: dentro do pacote havia um Furby. Crise resolvida.

Apesar de a NSA ter sido ridicularizada pela medida, afinal, o Furby não era um dispositivo de gravação, a FAA foi além em suas recomendações. Afinal de contas, as companhias aéreas não permitem que os passageiros escutem música sem fones de ouvido e o Furby, que não vinha com um fone de ouvido e era um tagarela incessante, poderia ser considerado uma contravenção a essa regra.

Diante dos inúmeros relatos sobre os Furbys, uma representante da Tiger Electronics, empresa fabricante do brinquedo, procurou esclarecer o mal-entendido. Segundo ela, muitas pessoas acreditavam que os Furbys continham dispositivos de gravação, dado que os bonecos reagem à luz, ao toque e ao som – além de parecerem aprender inglês.

Porém, conforme a popularidade do brinquedo diminuía com o passar do tempo, as preocupações sobre sua suposta capacidade de perturbar voos e registrar informações confidenciais também foram dissipando-se, confirmando o que a fabricante já havia exposto: a preocupação com o Furby não passava de um grande equívoco.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

Veja outras histórias

Boeing 747 da UPS que sofreu pouso duro em Tóquio teve...

0
O Comitê de Segurança dos Transportes do Japão divulgou um relatório de progresso sobre a investigação do pouso duro do Boeing 747.