China aparentemente excluiu a Rússia do projeto de novo avião concorrente da Boeing

Divulgação – COMAC

A indústria chinesa parece estar dando fim a parceria histórica com o setor aeroespacial russo e teria excluído Moscou do principal projeto de avião do país. Esse foi o sentimento deixado numa declaração recente sobre um futuro widebody chinês.

A ideia de um avião de maior porte com participação da China estava se materializando através do projeto CR929, concebido a partir de um acordo de 2015 entre a fabricante chinesa COMAC e a United Aircraft Corporation (UAC), da Rússia, que inclui as tradicionais fabricantes estatais Ilyushin, Irkut, Mikoyan Gurevich (MiG), Sukhoi, Tupolev, Yakovlev.

A aeronave, que nas projeções iniciais se assemelha muito ao Boeing 787 Dreamliner, foi feita exatamente para competir no mercado de 250 a 350 assentos, hoje tomado pelo 787 e pelo A350 da Airbus. Este mercado nunca fora explorado pela China e a Rússia há muito não fazia lançamentos.

A invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado afetou a UAC, que teve que trocar dezenas de fornecedores devido às sanções, enquanto é pressionada por Moscou para entregar o maior número de aviões possíveis, já que as companhias aéreas russas não podem receber as encomendas da Airbus e da Boeing.

Desde então, surgiram rumores sobre a China excluir a Rússia do projeto CR929, para não atrasar ele ainda mais e dar mais mercado para o ocidente. E durante o Paris Air Show, que acontece esta semana no Aeroporto de Le Bourget, o jornalista Jon Ostrower do The Air Current, notou algo: no stand da COMAC, as imagens do CR929 não tem mais nenhuma menção à UAC.

Ao invés de estampado CRAIC CR929, sendo o primeiro termo a sigla para China-Russia Commercial Aircraft International Corporation Limited, está apenas como Comac Wide Body, ou seja, Avião de Fuselagem Larga (dois corredores) da COMAC.

Em outros pontos aparece apenas como CAIC CR929, tirando a letra “R” da sigla. A bandeira russa também não aparece mais em nenhuma parte. O jornalista então questionou os representantes chineses na feira que confirmaram que “a COMAC irá prosseguir com o seu projeto de avião widebody sem a Rússia”.

Com esta confirmação, pode ser fim de uma parceria de longa data entre Moscou e Pequim, que inclui a construção sob licença dos caças russos Sukhoi Flanker; os então cargueiros soviéticos Antonov An-12 e An-24; o bombardeiro russo Tupolev Tu-16 e o cargueiro multimissão Ilyushin Il-76.

Todas estas aeronaves e suas variantes foram construídas na China sob licença, sofrendo diversas modificações pela indústria chinesa, incluindo lançamento de versões inéditas e servindo como base de aprendizado para o desenvolvimento de aeronaves próprias.

Hoje a China já não depende da licença da Rússia, tendo dominado por completo o processo fabril destes aviões, e focando naturalmente em novos lançamentos, como o CR929.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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