Comandante Sully é contra a Boeing ter mais tempo para certificar o 737 MAX 10

O Comandante Sully, Herói do Rio Hudson e antigo embaixador dos EUA na ICAO, se opôs a extensão de prazo para que a Boeing certifique o 737 MAX 7 e 10 sem as alterações nos alertas de cabine.

A fala de Sully veio logo após a Associação de Pilotos Aliados (APA), principal força sindical de pilotos da American Airlines, que representa 15 mil aviadores da companhia que deu sucessão à outra da qual o comandante foi parte até o acidente de 2009 no Rio Hudson, a US Airways. A APA tem a mesma posição do comandante sobre esse tema.

O que está em jogo

Após os acidentes com o 737 MAX 8 em 2018 e 2019, que vitimaram mais de 300 pessoas na Etiópia e Indonésia, o Congresso Americano modificou as leis e ordenou que a FAA, responsável pela certificação de aeronaves e fiscalização da aviação civil no país, fosse mais rígida com as fabricantes. Naquele momento, Sully também se tornou um vocal crítico da Boeing.

Com as mudanças requeridas pelo Congresso, todo avião novo que for certificado após dezembro deste ano deve incorporar um novo esquema de alertas no cockpit, que avise aos pilotos sobre situações anormais. Para a Boeing, isso é um problema, já que as variantes MAX 7 e MAX 10 ainda não foram certificadas e nem devem ser até o final ano. Por isso, ela deseja ampliar o prazo do Congresso, afim de que não recaia em novos custos e atrasos nas entregas.

No entanto, se o Congresso não estender o prazo, os novos aviões precisarão ser alterados e novos treinamentos dados aos seus operadores. Com isso, existiria uma diferença significativa destes modelos novos para o MAX 8, MAX 9 e o restante da família 737 da Boeing. O assunto chegou num ponto em que a fabricante americana até ameaçou cancelar parte do projeto, como forma de colocar pressão no Congresso.

A APA afirma que “a Boeing precisa iniciar o processo de instalação de avisos para tripulação mais modernos, para evitar confusão dos pilotos que se misturam com problemas dos sistemas da aeronave. Assim que esses sistemas tiverem sido instalados, e os tripulantes treinados adequadamente, os pilotos terão uma capacidade melhor de identificar falhas e corrigir elas da maneira adequada com ações que salvarão vidas”.

“Considere o Boeing 757 e 767, eles são diferentes de maneira substancial, e ainda assim operamos ele com apenas uma habilitação, de maneira rotineira e sem confusão. Ao fazer as modificações, a Boeing irá contribuir para a recuperação da confiança na sua marca, preservando empregos ao garantir a produção contínua da aeronave”, conclui a nota da associação.

Opinião de Sully

Antes de voar o Airbus A320, que foi a última aeronave de Sully durante sua carreira em linha aérea, onde voou até o dia do acidente no Rio Hudson, o comandante já havia operado o Boeing 737-300 e 737-400, da própria US Airways.

“Como alguém que já esteve no assento da esquerda (do comandante) quando o avião enfrentou uma situação de emergência repentina e extrema, eu posso falar por experiência própria que o choque (susto) é grande e real, o que significa que os aviões de companhias aéreas devem ter o mais efetivo e melhor sistema de alerta para as tripulações, de maneira que os pilotos possam reagir rapidamente para determinar a natureza e severidade da emergência, tomando atitudes ágeis e corretas para manter em segurança a vida de todos a bordo”, afirmou Sully.

Ele conclui afirmando que está do lado da APA e contra a extensão de prazo para a Boeing, indo além e pedindo que a FAA instale o sistema em todos os 737 MAX, incluindo os MAX 8 e 9 que já estão voando.

Apesar de não ser mais parte do governo Biden, o Comandante Sully ainda exerce forte influência no Congresso Americano, onde foi chamado várias vezes para dar sua parte sobre situações na aviação, incluindo uma comissão que investigou os acidentes do 737 MAX, em que ele isentou os pilotos de culpa e apontou para a Boeing como responsável pelas falhas.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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