Conheça a história da vinda dos aerobotes Curtiss F e criação da 1ª organização aeronáutica militar do Brasil

Curtiss F – Imagem: Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos / Domínio público, via Wikimedia Commons

A Marinha do Brasil publicou nesta semana o interessante relato de como se deu a aquisição dos aerobotes Curtiss F na ocasião da criação da Escola de Aviação Naval.

Acompanhe a seguir essa histórica memória da aviação naval brasileira, que também marcou o início da primeira organização aeronáutica militar do Brasil.

Curtiss F – Imagem: Marinha do Brasil

Na esteira do decreto, datado de 23 de agosto de 1916, que determinava a criação de uma escola de aviação para a Marinha do Brasil, foi dada a partida às providências que visavam à concretização daquela determinação. Entre outras necessidades, havia a importação de material destinado à instrução de voo na Escola de Aviação Naval (EAVN).

A passagem pelo Brasil dos aviadores David M. McCulloch e Francis E. Wildman na primeira metade de 1913, período em que demonstraram um hidroavião produzido pela Curtiss, serviu como ponto de partida para a compra das aeronaves destinadas àquele estabelecimento de ensino aeronáutico.

Através do Consulado Geral do Brasil em Nova York (EUA), foram iniciadas as gestões para a aquisição de aeronaves e peças de reposição da Curtiss Aeroplane and Motor Co. Com a exígua verba disponível, foram adquiridos três aerobotes Curtiss F, mod. 1914 – o contrato previa ainda a vinda de um mecânico-piloto para supervisionar a montagem dos três hidroaviões e posterior ensaio de cada aeronave.

Em 12 de julho de 1916, os três hidroaviões chegaram ao Rio de Janeiro a bordo do transporte de guerra Sargento Albuquerque e foram levados à Carreira Tamandaré – próximo à Praça Mauá – para lá serem montados. O primeiro foi dado como pronto no mês de agosto daquele ano, sendo seguido, no mês de outubro, pelos outros dois.

Mas mal iniciara a instrução de voo para a primeira turma da EAVN, um desses Curtiss F executou o primeiro reide aéreo da Aviação Naval no dia 12 de outubro daquele ano. Naquela ocasião, o Curtiss F C2 fez uma viagem de ida e volta entre a EAVN e as antigas instalações da Escola Naval, na Enseada Batista das Neves (Angra dos Reis – RJ).

Ao ser a primeira organização aeronáutica militar do Brasil, a EAVN foi objeto de grande atenção e não foram poucos os visitantes de vulto às suas instalações. Visto que eram aeronaves bipostos, os Curtiss F, mod 1914, frequentemente eram convocados a realizar voos em benefício de visitas ilustres como Alberto Santos Dumont e o Presidente Wenceslau Braz.

O Presidente realizou dois voos no ano de 1917, o primeiro no dia 24 de fevereiro e o outro no dia 2 de abril; esses eventos constituíram-se a primeira ocasião em que um presidente da República voou em uma aeronave de bandeira brasileira e com tripulação brasileira.

Frágeis como todas as aeronaves daquela época, o intensivo uso desses três hidroaviões muitas vezes prejudicava o fluido andamento da instrução dos alunos da EAVN. Não foram raras as ocasiões em que os três Curtiss F encontraram-se indisponíveis para voo no transcorrer de 1917, esse quadro só sendo amenizado com a chegada de novas aeronaves. Apesar desses contratempos, foi possível dar conclusão à formação da primeira e da segunda turmas de aviadores navais.

No ano seguinte, além da chegada de novas aeronaves de instrução, foi executada ainda a construção de um quarto Curtiss F, mod. 1914, trabalho esse realizado por pessoal da própria EAVN. Recebendo a matrícula nº 9, aquela aeronave passou a ser conhecida entre alunos e pessoal da EAVN como Carioca.

Mesmo assim, as dificuldades materiais em manter esses hidroaviões em condições de voo fizeram com que seu uso fosse gradativamente reduzido. Finalmente, no transcurso de 1923, foram descarregados os Curtiss F, mod. 1914, apesar de existir indicações de que já não voavam mais desde fins de 1919.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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