Crise aérea e isolamento do Amazonas na estiagem já são alertados por pilotos da região

Imagem: Ministério Público do Amazonas

Pilotos que atuam no estado do Amazonas estão emitindo um alerta crucial para um possível isolamento da região, resultante das restrições de pousos e decolagens em Manaus e nos municípios do interior.

Segundo esses profissionais, a Concessionária dos Aeroportos da Amazônia fechou diversas pistas de pouso para reformas, deixando as aeronaves sem opções de aeroportos alternativos e logística apropriada, especialmente durante a severa estiagem que assola a região.

As obras para reparo nas pistas de pouso iniciaram em setembro no Aeroporto Internacional de Manaus e se estenderam para os aeroportos do interior do Amazonas. Na capital, a interdição programada ocorre todas as manhãs, das 4h às 12h, e está prevista para continuar até janeiro de 2024.

A restrição de horários também atinge os aeroportos do interior. Em Tefé, por exemplo, a pista fica fechada de segunda a sábado, das 7h às 15h. Em Tabatinga, o mesmo ocorre de segunda a sábado, no mesmo horário, e em Cruzeiro do Sul, no Acre, de segunda a sábado, das 6h às 14h.

Além desses, os aeroportos de Barcelos permanecem fechados todos os dias de segunda a sexta, operando somente aos sábados, e o aeroporto de Fonte Boa aparentemente se encontra indisponível. Até mesmo o aeroporto de Porto Velho, em Rondônia, que poderia ser uma alternativa, está fechado de segunda a sábado, das 4h às 12h, para reformas.

Segundo informa o site D24am, para os pilotos, esse cenário significa que embora as aeronaves possam decolar para seus destinos, o tempo disponível para o retorno a Manaus é significativamente reduzido devido às restrições nos horários de operação das pistas.

Um operador que utiliza o aeroporto da capital expressou sua opinião: “A nova gestão do Eduardo Gomes deveria ter mais bom senso. Tudo bem que feche para os voos de carreiras que utilizam a totalidade da pista, porém os voos domésticos podem ser operados com pistas reduzidas, pois é viável“.

Uma alternativa seria o aeródromo de Flores, porém, de acordo com o piloto, devido à pista mais curta, com 830 metros de comprimento e 30 metros de largura, é impossível decolar com um Grand Caravan anfíbio com o tanque cheio, além dos nove passageiros e toda a bagagem.

Diante das restrições de horários para pousos e decolagens, os pilotos se veem em uma situação difícil, sendo obrigados a pernoitar ou aguardar por mais de 20 horas para prosseguir com suas viagens.

Um piloto que preferiu não se identificar destacou a falta de conhecimento da nova gestão dos aeroportos sobre a região e, principalmente, sobre os aviões e suas capacidades operacionais na Amazônia.

Para quem voa na Amazônia, sabe que os voos diurnos são essenciais em uma região de tamanho continental sem muitas opções de alternância. O problema se agrava quando é necessário fazer voos mais longos, como Boca do Acre, Envira, Ipixuna, Tabatinga, São Gabriel da Cachoeira. Precisamos decolar com os tanques cheios“, declarou o piloto.

De acordo com operadores de voos e pilotos, os transtornos das obras e as consequentes restrições para pousos e decolagens, associados à seca severa, começarão a impactar o atendimento à população.

A vazante dos rios causada pela forte estiagem que o Norte do país enfrenta é outra dificuldade, o que prejudica os pousos e decolagens, especialmente no caso de Fonte Boa, Japurá, Amaturá, entre diversas outras comunidades que necessitam de evacuação aeromédica por meio de aviões anfíbios“, ressaltou o piloto.

Até o momento, a Concessionária dos Aeroportos da Amazônia, subsidiária da francesa Vinci Airports SAS, que administra aeroportos no Amazonas, não respondeu aos questionamentos apresentados pelos pilotos e operadores à assessoria de comunicação.

Estiagem e alerta na aviação

Além das preocupações com as restrições nos aeroportos, a situação também envolve o fornecimento de combustível para a aviação. Já existem relatos de racionamento no abastecimento de aeronaves no município de Carauari, situado a 787 km em linha reta de Manaus. Esse município desempenha um papel fundamental no abastecimento de aviões na calha do Juruá.

Um piloto de táxi aéreo, com mais de 16 anos de experiência na região, afirma nunca ter testemunhado uma situação semelhante. Segundo ele, a empresa responsável pelo transporte de combustível até o município através de balsas estaria enfrentando dificuldades para realizar os abastecimentos.

Carauari é um ponto de apoio para quem realiza voos de longa distância, como Envira, Eirunepé e Juruá. Quando decolamos de Manaus, o fazemos com os tanques cheios, mas na volta precisamos reabastecer em Carauari por questões de segurança. Nunca voamos no limite, sempre seguimos as margens de segurança estabelecidas pelos órgãos reguladores da aviação. A Pioneira fez o que pôde quando ainda era possível chegar com a balsa de combustível ao município, mas não foi suficiente. Estamos vivenciando algo inédito na aviação amazônica“, relatou.

A BR Aviation e a Pioneiro Combustíveis, empresas responsáveis pelo abastecimento de aeronaves no Amazonas, foram contatadas pela reportagem para esclarecer se a estiagem já afetou de fato o serviço ou se estão sendo providenciadas medidas em virtude da seca, mas não responderam até o momento.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Com uma paixão pelo mundo aeronáutico, especialmente pela aviação militar, atua no ramo da fotografia profissional há 8 anos. Realizou diversos trabalhos para as Forças Armadas e na cobertura de eventos aéreos, contribuindo para a documentação e promoção desse campo.

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