Decola a aeronave da Airbus que testará a revolucionária asa baseada em biomimética

A Airbus informa que decolou pela primeira vez o avião de testes do projeto “eXtra Performance Wing” (ou Asa de Desempenho eXtra), liderado por sua subsidiária e incubadora de tecnologia UpNext, que visa melhorar o desempenho de voo e responder às preocupações ambientais, repensando completamente as asas das aeronaves como as conhecemos hoje.

Utilizando biomimética (inspiração biológica), o projeto procura desenvolver uma asa que possa mudar sua forma durante o voo, como as asas de uma ave, para maximizar a eficiência aerodinâmica. Se o conceito for bem-sucedido e integrado em novas aeronaves, terá potencial para reduzir significativamente o consumo de combustível.

Segundo a Airbus, o primeiro voo neste mês de novembro foi um marco importante para o projeto porque o demonstrador está equipado com os sistemas exatos que terá quando as asas de desempenho eXtra forem instaladas para testes de voo a partir de 2025.

Os dados coletados deste e dos subsequentes testes de voo permitirão aos engenheiros da Airbus medir importantes métricas de desempenho de base que serão usadas para determinar o impacto do novo design da asa, como reduções nas emissões de CO2 e no consumo de combustível.

Embora as tecnologias eXtra Performance Wing poderão ser aplicáveis ​​a qualquer tipo de aeronave e sistema de propulsão, o demonstrador escolhido é bem menor do que os aviões comerciais: um jato executivo Cessna Citation VII modificado.

Assim, como a envergadura (distância entre as pontas das asas) pretendida na eXtra Performance Wing é de mais de 50 metros (para se ter ideia, a envergadura de um A320 é de 35,8 metros), a envergadura de 16 metros do Cessna representa um modelo em escala de aproximadamente um terço do projeto final.

“As coisas são evidentemente mais simples em menor escala”, diz Sebastien Blanc, Diretor Técnico da eXtra Performance Wing. “Mas escolhemos o Cessna especificamente porque constituía o melhor equilíbrio entre a complexidade do projeto e a representatividade do design final.”

A asa eXtra Performance

Lançado em setembro de 2021, o projeto eXtra Performance Wing faz parte do portfólio Wing Research (Pesquisa de Asa) da Airbus. Este projeto explora algumas das muitas tecnologias que poderão um dia ser integradas na próxima geração de aeronaves Airbus e complementa o programa Wing of Tomorrow (Asa do Amanhã). A Airbus UpNext busca acelerar as tecnologias futuras, desenvolvendo inovações tecnológicas radicais em um ambiente ágil.

O objetivo geral do projeto eXtra Performance Wing é fornecer múltiplas configurações de asas que se adaptem dinamicamente às condições de voo. O projeto incorpora tecnologias inovadoras de controle ativo, bem como mudanças físicas na estrutura da asa.

Sensores de rajada na frente da aeronave registrarão mudanças na turbulência, desencadeando ajustes relevantes nas superfícies de controle da asa. “Este sistema foi projetado para ser totalmente automático”, diz Blanc. “As tecnologias eXtra Performance Wing, que alteram o formato da asa imitando as penas de um pássaro, se ajustarão automaticamente para maximizar o fluxo aerodinâmico.”

Existem também as pontas das asas articuladas, que têm dupla finalidade. No solo, evitam que a aeronave ultrapasse a envergadura máxima que pode ser acomodada para certos modelos nos portões dos aeroportos (36 metros), e no ar, são flexíveis, capazes de mudar de forma para não exercer muita pressão sobre a asa. Alcançando uma envergadura maior em voo, aumenta-se a sustentação e se reduz o arrasto.

Para garantir a viabilidade do conceito, um modelo de túnel de vento impresso em 3D já foi testado extensivamente em baixas velocidades nas instalações de pesquisa de asas da Airbus em Filton, Reino Unido. Com os testes concluídos, o projeto foi finalizado e a fabricação das diferentes peças da asa já começou.

A produção do demonstrador eXtra Performance Wing é um exemplo clássico de colaboração entre os quatro países fundadores da Airbus: o Reino Unido está fabricando as asas, a Espanha construirá as pontas dobráveis ​​e o sistema de alta sustentação será projetado na Alemanha. A modificação e montagem da aeronave ocorrerão na França.

Depois, pouso em Cazaux, França

Assim que o teste de voo inicial tiver recolhido dados de base suficientes, o demonstrador será transladado para Cazaux, França, onde ficará baseado durante o restante do projeto.

Um sistema de operação remota será integrado à aeronave, seguido de voos para testar a comunicação entre as 20 antenas da aeronave e o centro de controle em solo. Então, em 2024, as eXtra Performance Wings serão anexadas ao Cessna e passarão por testes de solo antes do início dos primeiros voos em 2025.

O demonstrador será pilotado remotamente durante os testes de voo, para permitir que os engenheiros da UpNext levem as tecnologias a bordo ao seu limite. Como o Cessna é apenas um demonstrador e não será colocado em produção, a decisão de ter um piloto testando o avião a partir de um centro terrestre, em vez de a bordo, também alivia a necessidade de certificar o demonstrador para voo humano.

“Queremos que os testes de voo exponham a eXtra Performance Wing ao maior número possível de situações de voo realistas. Isto dará às diferentes tecnologias a melhor oportunidade possível de se provarem e de um dia serem integradas nas asas do amanhã”, explica Blanc.

Os resultados dos testes de voo pilotado remotamente determinarão o sucesso das diferentes tecnologias, mas Blanc já diz que o projeto está dando frutos: “Já estamos vendo os frutos do nosso trabalho e aprendemos muito ao longo do caminho. Temos aqui uma oportunidade real de contribuir para a redução do consumo de combustível. Ter o potencial de mudar a indústria aeroespacial desta forma já é algo enorme.”

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Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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