Especialista compartilha teoria para ‘sumiço’ da força aérea russa na guerra da Ucrânia

As Forças Aeroespaciais da Rússia (VKS) não têm sido protagonistas da invasão da Ucrânia e isso pode ter vários motivos, segundo a opinião de um especialista em defesa. Note que a opinião dele independe da visão do AEROIN, mas está sendo compartilhada para conhecimento.

Sukhoi Su-34 da Rússia © Dmitry Terekhov

Muitas pessoas mundo afora têm questionado o poder da VKS, que conta com 8% da frota de aviões militares do mundo e 10% dos jatos de combate aéreo, segundo dados levantados pelo FlightGlobal. E esse aparato “não estaria sendo visto na guerra da Ucrânia”.

Para Justin Bronk, especialista em poder aéreo do think-tanker britânico RUSI (Royal United Services Institute), e doutorando em Defesa no famoso Kings College de Londres, a ausência do poder aéreo da Rússia estaria associada a falta de organização e até de experiência.

A Rússia, de início, começou uma campanha de ataque simultâneo, com artilharia agindo junto com ataque aéreo e também terrestre, algo que outros países não fizeram, já que estabeleceram primeiro a superioridade aérea, para então entrar por terra.

Bronk cita também que várias baterias anti-aéreas da Rússia ficaram presas no caminho, seja por falta de combustível ou outro problema logístico. Estes sistemas também têm sido constantemente vítimas de coquetéis molotov jogados por civis ou mísseis Javelin e N-LAW, disparados por soldados ucranianos. Por estarem sem o acompanhamento da infantaria e sem sistemas de defesa, tornaram-se presas fáceis.

Com isso, o céu continuou aberto para o inimigo, que pôde contra-atacar as investidas da Rússia, mesmo com menos aviões e com equipamento inferior.

Durante operações na Síria, apenas os caças Su-34 fizeram uso constante de armamento guiado, indicando uma pouca familiaridade dos russos com este equipamento e também baixo estoque de bombas guiadas e mísseis ar-solo”, afirmou Bronk.

Inclusive, a própria ação russa na Síria baixou mais ainda este estoque, ao passo que, como o país classifica a invasão da Ucrânia como “Operação Militar Especial” e não o chamado “Esforço de Guerra”, então a indústria não está toda direcionada para produzir insumos para o combate, algo bastante visto, por exemplo, na URSS e EUA na Segunda Guerra Mundial.

Sukhoi Su-35S © Dmitry Terekhov

Outro ponto levantado por Bronk é a falta de coordenação histórica com as baterias anti-aéreas, que já resultaram em mais de um caso de “fogo amigo”, sendo o mais conhecido o que ocorreu na Síria em 2018, quando um sistema russo anti-aéreo S-200 abateu um avião bimotor turboélice Ilyushin Il-20 da própria Rússia, confundido com caças israelenses.

Para ele, a falta de confiança, num cenário onde o inimigo tem os mesmos aviões e baterias anti-aéreas, além de doutrina similar, gera incerteza na VKS, que estaria agindo de forma limitada.

Por fim, Bronk compara a experiência dos países da OTAN, em que os pilotos voam, em média, de 180 a 240 horas por ano (o que muitos militares acham pouco), além do tempo em simulador, enquanto a própria VKS tem falado de 100 a 120 horas por ano para cada combatente aéreo. Some-se a isso o fato que a OTAN esta constantemente em combate ou fazendo exercícios com outros países, inclusive que usam caças russos.

Todos estes fatores são apenas ponderações e podem não estar associados definitivamente à causa concreta do “sumiço” da Força Aérea Russa e à falta de domínio do espaço aéreo. Tudo pode também estar associado à própria estratégia russa e seus objetivos, mas são pontos que chamam a atenção e podem dar um norte sobre a frustração da ação da VKS na Ucrânia.

Su-25 – Foto de Robert Sullivan
Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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