Ex-Primeira Dama teria utilizado jatos da FAB para eventos em igrejas, relata mídia

Uma polêmica em torno dos voos executivos da Força Aérea Brasileira no mandato passado surgiu com voos “estranhos” da ex-Primeira Dama, segundo veículos têm reportado.

Divulgação – FAB

Enquanto Jair Bolsonaro sempre criticou o uso vasto de voos da FAB feito pelas três primeiras administrações do Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula e de Dilma, o então presidente reduziu realmente os seus voos quando tomou posse, mas o suposto desvio de finalidade teria continuado.

Em reportagem do jornal Metrópoles, foram cruzados dados disponibilizados pela própria FAB e pelo GSI – Gabinete de Segurança Institucional, que mostram voos do Grupo de Transporte Especial (GTE), o esquadrão que serve ao alto escalão do funcionalismo público brasileiro, feitos sem Jair Bolsonaro.

Os dados foram cruzados com informações de um grupo do WhatsApp, formado por membros do GSI, para organizar escala de trabalho, tarefas e facilitar o fluxo do serviço. Neste grupo foram flagrados pedidos para uso de aeronave do GTE para que Michelle Bolsonaro, ex-Primeira Dama, estivesse presente num evento da Igreja Batista Atitude, da qual ela faz parte.

Outros eventos incluem a ida para Belo Horizonte, na Igreja Batista Lagoinha, em evento de homenagem ao Pastor Márcio Valadão, pai do também pastor André Valadão. O primeiro ficou conhecido nacionalmente após noticiar a morte do homicida Guilherme de Pádua, assassino da atriz Daniella Perez, que cumpriu a pena e depois se converteu na mais famosa igreja pentecostal da capital mineira.

O tom “engraçado” e o “mineirês” de Márcio Valadão ao dar a notícia da morte de Pádua, chamou a atenção da internet. Já o seu filho está envolvido em uma polêmica recente, sendo acusado de incentivar fiéis a matarem pessoas LGBTQIAP+.

Dentre outros voos sem Bolsonaro estão caronas para seu filho Jair Renan Bolsonaro, o maquiador de Michelle, Pablo Agustin, e outras figuras próximas do Planalto na época.

Área nebulosa

Enquanto possa parecer reprovável que os voos sejam usados para fins que não sejam em torno do exercício direto do cargo de Presidente, a função da Primeira-Dama no Brasil e no mundo dá certa “legitimidade” aos voos.

A figura feminina se tornou em vários países um braço direito do mandatário, servindo como uma pessoa que recepciona os convidados do Presidente, assim como promove causas sociais, se valendo da visibilidade do seu cargo.

As regras de uso do GTE e de aviões da FAB por membros não-militares do executivo são em maioria regidas pelo Decreto Presidencial 40.626 de 27 de dezembro de 1956, feito pelo Presidente JK, que de fato institui a criação do esquadrão que hoje se tornou o GTE.

Nele não é proibido, mas também não é claramente permitido, que familiares dos membros do executivos viagem no GTE. A única mudança que teve na regulação foi feita pelo próprio Bolsonaro, em 2020, pelo Decreto 10.267. Este Decreto estabelece que o uso do GTE deverá ser feito apenas por motivos médicos, de segurança ou em viagem a serviço, mas o texto também diz que a regra vale para todos, incluindo o Vice-Presidente, menos o próprio Presidente da República.

Militares preocupados

Um militar alertou seus colegas no grupo sobre a legitimidade dos voos do filho do Presidente e similares no GTE. Em 2009, a Globo descobriu que um dos filhos de Lula estava voando no avião da FAB, o que gerou polêmica.

Em outra reportagem, publicada hoje também pelo Metropóles, uma nova mensagem de áudio foi revelada mostrando o Coronel da Aeronáutica Eduardo Alexandre Bacelar, então coordenador-geral de Transporte Aéreo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, falando que era para atender o máximo possível as demandas pessoais de Bolsonaro com o GTE.

“Pra tentar restabelecer um contato de mais confiança ali e de cooperação com a Presidência, que ficou um pouco abalado com esses episódios todos, né? […] Pelas questões que surgiram devido aquela cocaína do Silva Rodrigues”, afirmou o oficial, se referindo ao caso do Sargento Manuel Silva Rodrigues, preso na Espanha com cocaína na mala durante escala técnica de missão percursora a bordo de um Embraer E190 da FAB.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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