A partir desse final de semana, o Museu Histórico Nacional disponibiliza online 271 itens da coleção Panair do Brasil – a primeira sobre uma empresa incorporada ao acervo do museu.
Resultado de doações feitas por ex-funcionários da empresa e familiares, parte da coleção foi exibida ao público ano passado na exposição “Nas asas da Panair”, que traçou um panorama histórico de uma das empresas pioneiras da aviação comercial no Brasil, tendo funcionado entre 1929 e 1965.
Todos os itens agora online encontram-se com foto e descrição completa na coleção digital. Tem de tudo o que você possa imaginar e que relembra as operações de uma das mais pujantes empresas brasileiras, fechada após decreto
Também está disponível na biblioteca digital do MHN o catálogo da exposição “Nas asas da Panair”, que reúne imagens da coleção, conta parte da história e traz uma cronologia da empresa.
A coleção
A mostra contém itens da coleção criada em 2017, como resultado de uma parceira entre a empresa Panair do Brasil e a Família Panair, uma associação que reúne antigos funcionários da companhia. Ao longo de um ano foram coletados quase 700 peças, entre objetos e material de divulgação impresso.
Quase todos contribuíram com folhetos, medalhas comemorativas, uniformes, adereços, louça, maletas de mão, brindes, fotografias, fitas e CDs com entrevistas, outros tipos de documentos e pequenos luxos – como protetor de caneta tinteiro, guardanapo de linho e talher de prata dos “tempos da Panair”. Alguns objetos foram adquiridos nos leilões de liquidação da empresa.
Desde sua concepção inicial, foi prevista a doação da coleção ao MHN. Durante dois anos, Rodolfo da Rocha Miranda, diretor-presidente da Panair do Brasil, coordenou a coleta da memorabilia, que foi, concomitantemente, organizada por historiadores e museólogos.
Todos os colaboradores tiveram os itens doados cadastrados e fotografados. A Panair do Brasil financiou a construção da coleção e esta exposição como uma homenagem a seus funcionários, familiares e todos os que, ao longo dos últimos cinquenta anos, contribuíram para manter viva a memória da empresa e daqueles que contribuíram com ela.
“A companhia de aviação Panair é o símbolo de uma época do Brasil quando a viagem de avião representava um ideal de vida moderna. O contato direto com as peças da coleção aproxima todos da história de modo sensível”.
Paulo Knauss, diretor do MHN
Sobre a Panair
Há 90 anos, em 1929, surgia no Brasil uma subsidiária da americana Nyrba (Nova Iorque – Rio – Buenos Aires) que, no ano seguinte, incorporada pela Pan American, passou a se chamar Panair.
Em 1961, com a entrada dos empresários Celso da Rocha Miranda (1917-1986) e Mario Wallace Simonsen (1909-1965), a Panair teve seu longo processo de nacionalização concluído. Era a Panair que, nos anos 1930 atendia a Amazônia, promovendo a integração da região com o resto do país. Com seus hidroaviões, levava carga e remédios e transportava doentes.
A Panair do Brasil se tornou a segunda maior companhia aérea do mundo e a excelência de atendimento nos voos e em terra rendeu-lhe a expressão “padrão Panair” para designar qualquer coisa que fosse de alta qualidade fora do âmbito da aviação.
Em 10 de fevereiro de 1965, a Panair do Brasil teve suspensas todas as suas concessões de voo, por um despacho do presidente da República Marechal Castello Branco.
A alegação, provadamente inverídica, foi a de que a situação financeira da empresa era irrecuperável. Sem poder operar, a companhia dispensou os funcionários, mas a saúde financeira da companhia permitiu que todos fossem indenizados.
No ano seguinte, ainda sob o choque do desmonte da empresa, foi criada a Família Panair. Desde 1966, o grupo se encontra uma vez por ano para preservar a memória da companhia e a amizade entre eles.
Panair na memória
A canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, escrita em 1974, tinha o título “Saudade dos aviões da Panair”. A empresa fora fechada pelo governo militar e, por precaução, os autores criaram um segundo título: “Conversando no bar”. Foi em um voo da Panair que Brant tomou a primeira coca-cola da sua vida e o menino Milton, segundo ele próprio, era convidado a visitar a cabine de comando quando viajava com os pais.
Em 2005, o jornalista paulista Daniel Leb Sasaki publicou o livro “Pouso forçado”, relançado em 2015 em edição muito ampliada, depois da Lei de Acesso à Informação e da Comissão Nacional da Verdade, que propiciaram ao autor acesso a material inédito. A primeira edição foi indicada ao Prêmio Jabuti.
O cineasta Marco Altberg lançou, em 2007, o documentário “Nas Asas da Panair – uma história de glamour e conspiração”, que narra a história da companhia através de depoimentos de ex-funcionários, dos familiares do seu presidente, Paulo de Oliveira Sampaio, dos acionistas Rocha Miranda e Simonsen e ex-passageiros, como Eduardo Suplicy, Norma Benguell, Milton Nascimento e Fernando Brant.
A exposição “Nas asas da Panair” é uma realização do MHN/Ibram, com patrocínio da Panair do Brasil, produção da Artepadilla e apoio da Associação de Amigos do MHN.