Décadas após tragédia, Peru e EUA retomam acordo para interceptação aérea

Caças F-16, A-37 e Mirage 2000 | Foto: Sgt. Bianca/FAB

O Peru e os EUA voltarão a colaborar para a defesa do espaço aéreo da América do Sul, mais de duas décadas após um trágico acidente.

Desde os anos 1990 a CIA estava ajudando os governos da Colômbia e do Peru a combater os narcotraficantes, que estavam em plena expansão na época com a chegada da cocaína no mercado americano e europeu. Parte desta ajuda era com radares e aviões para identificar aviões suspeitos que poderiam estar levando drogas, inclusive indo ou vindo para o Brasil.

Em 20 de abril de 2001 um monomotor a pistão Cessna A185F Skywagon, anfíbio e equipado com flutuadores, decolou da floresta amazônica perto da fronteira com o Brasil, e um avião da CIA detectou o seu movimento.

Foi averiguado que o avião voava relativamente baixo (4.500 pés / 1.300m) e não tinha plano de voo enviado ou aprovado. Os americanos então direcionaram um jato Cessna A-37 Dragonfly da Força Aérea do Peru para a área.

Em nenhum momento, os militares peruanos conseguiram identificar a matrícula da aeronave e ficaram debatendo com a CIA se o avião era “bandido ou amigo”. Mesmo sem a CIA afirmar que era uma aeronave hostil, e sem o piloto do A-37 conseguir contato por rádio ou visual com o A185F, os militares abriram fogo com a metralhadora giratória do Drangonfly, acertando em cheio o Cessna Skywagon.

A bordo do A185F estavam 5 pessoas, sendo que uma delas era a missionária cristã Roni Bowers, e sua filha, Charity, que em inglês significa caridade. A família Bowers estava na floresta amazônica fazendo trabalho como missionários, e usavam o monomotor Cessna para deslocar entre comunidades isoladas.

Mãe e filha morreram em decorrência dos tiros, sendo que o piloto do A18F ficou ferido na perna, mas conseguiu fazer um pouso de emergência no Rio Amazonas. O marido de Roni e o seu filho sobreviveram ilesos do ataque.

Toda a abordagem e abate foram gravados pela CIA como mostra o vídeo abaixo:

Na época, o abate gerou uma grande polêmica, criando uma crise tanto para o Peru como para os EUA, já que os missionários eram americanos. Muito se acusou a CIA de ter comandado o abate e obstruído a investigação, por outro lado, as gravações deixaram claro que a decisão de abate foi feita pelos militares peruanos.

O governo americano pagou US$8 milhões de dólares na época para a família Bowers como título de compensação pela perda da mãe e de sua filha. Como consequência imediata, o programa foi suspenso, e só será retomado este ano.

O Ministério da Defesa do Peru informou que foi aprovado no Congresso o projeto de lei 6672, que permite a volta do acordo. “Depois de 23 anos, se aprovou o acordo com os EUA para a interceptação aérea contra o tráfico ilícito de drogas. Se interromperá de maneira efetiva o transporte ilegal de drogas feito por aeronaves dentro do espaço aéreo peruano” afirmou o Ministério.

O governo dos EUA dará o seguinte apoio ao Peru:

  • Radares
  • Aeronaves
  • Técnicos
  • Equipamento
  • Construção de Bases Aéreas
  • Capacitação de pessoal

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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