Ouça um controlador de voo ‘bêbado’ dando instruções erradas a pilotos no Equador

Num áudio de 9 minutos, que consolida cerca de duas horas de conversas, o controlador responsável pelo solo e torre do aeroporto de Quito parece atuar bêbado ou incapacitado, ao ponto de dar instruções desconexas aos pilotos.

Foto: Aeroporto de Quito (Divulgação)

A equipe do VASAviation, canal do YouTube que divulga há anos situações não-corriqueiras envolvendo o controle de tráfego aéreo ao redor dos EUA e do mundo, recebeu uma denúncia de um piloto, que se mostra bastante preocupado com um evento registrado na torre do aeroporto de Quito.

Quem está acostumado a comunicar-se pelo rádio ou a ouvir o áudio do controle de tráfego aéreo, rapidamente notará como as conversas soam estranhas, estando o controlador com uma voz “pastosa”, se auto-corrigindo mais de uma vez, além de dar instruções equivocadas aos pilotos.

Voos no Equador – FlightRadar24

Comunicação Estranha

Em vários momentos, os pilotos precisam chamar a torre mais de uma vez antes de receberem uma resposta. É possível notar, em ocasiões, o controlador murmurando e enrolando suas palavras, além de repetidamente tem que corrigir suas instruções.

No começo do vídeo, o voo UA-1035 da United recebe autorização para seguir em aproximação e, na mesma mensagem, recebe liberação de pouso. O piloto responde confuso: “Primeiro o senhor pediu para continuar aproximação, depois que estava livre pouso. Livre pouso então”.

Depois, um piloto da Delta recebe, repetidamente, instruções para decolar, quando não é o que está solicitando. O mesmo ocorre com um voo da American. Outras comunicações acontecem, com algumas desconexões que são notadamente estranhadas pelos pilotos americanos.

Bagunça

Dos 6 minutos de vídeo em diante, a comunicação torna-se mais alarmante, pois mostra total desatenção do controlador. Nesse momento, ele está em contato com dois voos prontos para sair, o AA-466 e o UA-2083.

AA-466: Para o voo da American, o controlador dá instrução de táxi enquanto o piloto ainda está parado no portão com o motor desligado. Em seguida, o piloto americano pede pushback e o controlador, na mesma mensagem, autoriza o procedimento, mas finaliza dizendo “reporte pronto para pushback”. O piloto americano ignora e segue adiante para depois decolar.

UA-2083: No caso do voo da United, comunicação foi pior. Primeiro, o piloto polidamente reclama que está aguardando autorização de seu voo para Houston. Ele não recebe uma resposta e pede novamente um status. Em retorno, o controlador o orienta a taxiar para decolagem, mas o piloto dos EUA segue sem um código transponder e uma liberação de voo (clearance).

Em seguida, o controlador reforça a autorização de táxi e solicita que o piloto contate a frequência 118.35 no rádio. O piloto apenas responde “mas nós já estamos em 118.35”. Na mensagem seguinte, ao ver que já estava taxiando para a pista e não tinha uma liberação de voo, o piloto indaga “você já tem um autorização de voo para nós? Nós precisamos de um código transponder (squawk) e uma altitude de voo”.

O controlador então pergunta se o United está pronto para decolar e o piloto diz que “estará”. Em seguida, o controlador dá autorização de decolagem duas vezes para o piloto, que fica bravo e responde: “Senhor, não podemos decolar sem um código transponder. Eu preciso do código de quatro dígitos para decolar e uma liberação de voo”.

Para finalizar, o controlador enfim passa o código “5541” para o United, mas não diz qual a saída (SID) que o piloto deve usar. O comandante então apenas comunica qual procedimento estaria usando na saída (PALAD4).

Você pode assistir ao vídeo abaixo, que contém o áudio, juntamente com as legendas.

Por fim

Apenas com esse áudio, é impossível inferir qualquer coisa sobre o estado de saúde física ou mental do controlador, mas é fato que os pilotos estranham as comunicações e não se sentem seguros com elas. Quem está acostumado com a fraseologia e com o controle de tráfego aéreo, rapidamente nota que há algo errado.

Por fim, há exemplos de casos em que instruções incorretas ou desatençção de controladores de tráfego aéreo já causaram tragédias aeronáuticas com centenas de mortos, de modo que esse caso precisa ser investigado pelas autoridades equatorianas.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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