Início Indústria Aeronáutica

Para manter-se lider, Airbus chegou até a ligar para cobrar as dívidas das companhias aéreas

A postura firme da Airbus é considerada um dos fatores que levaram a fabricante europeia ao seu apogeu, aponta o The Wall Street Journal (WSJ).

A fabricante europeia tem hoje 68% das encomendas de aviões de corredor único (narrowbody) como o Airbus A320 e seu concorrente, o Boeing 737. Segundo o jornal WSJ, isto foi conseguido com muito empenho da empresa, mesmo durante a pandemia.

Um dos exemplos citados na reportagem é a negociação com a Lufthansa, uma das maiores empresas aéreas do mundo e referência no mercado. Ela é uma cliente de longa data da Airbus, e quando o Coronavírus atingiu a aviação, gerando a pior crise do setor, os alemães ligaram para negociar.

A ideia do CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, era postegar a entrega de 21 jatos, mas o seu equivalente na Airbus, Guillaume Faury, disse não e a empresa alemã se viu obrigada a cumprir parte do contrato de $1,5 bilhão de dólares com a fabricante, recebendo 16 jatos “contra a sua vontade”.

Antes da pandemia, a Airbus tinha 58% das encomendas dos jatos narrowbody, e o aumento de 10% teria sido conquistado pela postura da empresa. Segundo o próprio Guillaume Faury, a empresa ligou cobrando a dívida das empresas aéreas e o caso chegou ao extremo de algumas companhias não atenderem mais o telefone.

Em paralelo, o jurídico da Airbus teve trabalho e chegou a entrar com várias medidas legais para cumprimento dos contratos.

A320 da Airbus © Laurent ERRERA

Embora não seja possível associar a postura da fabricante europeia com o nível de cancelamentos, na comparação com sua maior rival, a Airbus leva uma enorme vantagem. Até agora, a Boeing computou o cancelamento de 655 pedidos e estima que outras 723 aeronaves encomendadas não sejam entregues. Por outro lado, a Airbus contou apenas 115 pedidos cancelados – vale ressaltar que uma parte do grande volume da Boeing deve-se à crise em torno do 737 MAX, mas a diferença ainda assusta.

Com a volta e recertificação do MAX, a Boeing começou a entregar aviões como a muito tempo não fazia, mas ainda assim atingiu apenas 156 entregas no primeiro semestre deste ano, enquanto a Airbus entregou 296 aviões.

Alguns analistas apostam que pode ser uma vitória a curto prazo mas uma derrota mais à frente, já que a Lufthansa teria ficado irritada com a fabricante, e mesmo recebendo maioria dos aviões conforme o contrato, teve ainda que pagar a multa por aqueles jatos postergados, assim como compensou a Airbus ao comprar mais cinco jatos A350XWB.

O descontentamento pode refletir em futuras encomendas, principalmente de aviões maiores e mais caros, como o 787. A ver como se desenrolam os próximos capítulos dessa história.

Sair da versão mobile