Piloto brasileiro voa próximo à Ucrânia e comenta sobre a perda de sinal de GPS do avião

Um comandante brasileiro, já bastante conhecido por seus vídeo publicados em um canal no YouTube, voltou a comentar sobre sua rotina nos céus, e dessa vez abordou a questão de voar nas proximidades da Ucrânia em meio à guerra em curso.

Piloto de grandes aviões em uma companhia aérea do extremo Leste da Ásia, no vídeo abaixo, Rafael Santos, criador do canal “Teaching For Free”, fala sobre como têm sido os voos entre a Ásia e a Europa ao longo desse tempo em que muitas empresas evitam, por questões de segurança, sobrevoar o espaço aéreo da Rússia, antes sempre muito utilizado nessa ligação.

Santos explica que o tempo de voo ficou cerca de uma hora a uma hora e meia mais longo devido à necessidade de voar pelo Sul da Rússia e da Ucrânia, passando por um trecho sobre o Norte da África e a Turquia para tomar o rumo da Europa.

E, além do desvio, os pilotos ainda passam pela situação de voltar a usar meios antigos de navegação aérea, já que os aviões perdem o sinal de GPS ao passar nos arredores da Ucrânia e do Mar Negro.

“Quando você chega perto do espaço aéreo ucraniano ou do Mar Negro, como estão em operação de guerra lá, os sinais de GPS estão bloqueados. Creio eu que em função desses mísseis, dessas coisas que utilizam do GPS para se orientar. Então eles têm um jammer, um bloqueador de GPS”, descreve Santos.

Ele explica que a autoridade europeia de aviação (EASA) está ciente disso e emite informações sobre onde os pilotos terão que lidar com a falta de sinal, assim como a companhia aérea tem um procedimento específico para isso.

“Eu fiz um voo agora que passou perto do Mar Negro, cortou por um cantinho do Mar Negro ali embaixo, beirando a costa da Rússia, passando perto do espaço aéreo ucraniano, e o GPS ficou bloqueado por um bom tempo, em torno de uns 15 a 20 minutos”, conta o piloto.

Nesse trecho, eles ficaram navegando apenas pelo sistema inercial, e fazendo o ajuste da posição da aeronave através de sinais de rádio, e não mais dos sinais dos satélites.

“É como se voava antigamente, sem essa precisão milimétrica do GPS. É o certo? Não. Influencia o voo, com risco, essas coisas? Não também. É um procedimento de contingência só. Você perde por algum momento, algum espaço de tempo, esse ajuste fino que o GPS dá, e você faz isso de forma manual, como se fazia antigamente”, explica Santos.

Além disso, alguns outros recursos da aeronave, dependentes do sinal do GPS, também ficam fora de funcionamento, mas sem impactos à segurança de voo.

Os tempos de voo não se tornaram mais longos apenas nesse trajeto, mas também nas operações pelo Oceano Pacífico, na ligação da Ásia com os Estados Unidos, que antes passavam pelo espaço aéreo russo, mas agora permanecem sobre o oceano e o espaço aéreo do Japão.

Com isso, além do trajeto mais longo, em um dos sentidos da rota a aeronave enfrenta fortes ventos contrários, que eram evitados quando havia a opção de voo sobre a Rússia.

“É um espaço aéreo conflitante, espaço aéreo de guerra. Não tem condição de passar nem perto. A gente toma um cuidado desgraçado para não entrar nem em desvios no espaço aéreo russo. Mesmo que autorizado, a gente não entra, por razões de segurança e pelo espaço aéreo estar fechado para aeronaves de matrícula coreana, que é o meu caso”, descreve o piloto.

Ele finaliza dizendo: “Em suma, estamos voando mais longe, gastando mais tempo, gastando mais querosene e poluindo mais, infelizmente. Aliás, guerra é uma situação lamentável, uma coisa insana, que acaba afetando a todos, queira a gente estar perto, queira não estar perto. Olha o preço do petróleo aí, da gasolina na bomba.”

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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