Por muito tempo, a aviação explorou a sexualização das “aeromoças” para atrair passageiros

No passado, a indústria da aviação se beneficiou da sexualização das mulheres, sobretudo nos Estados Unidos, embora abordagens semelhantes tenham se espalhado ao redor do mundo todo. Tal prática de marketing desviava a real função das profissionais, que é garantir a segurança a bordo e o conforto dos viajantes.

Nas décadas de 1950 a 1960, comissárias de bordo – chamadas de aeromoças na época – eram contratadas com base na aparência e deviam ser solteiras, relata um texto do Instituto Axios. A maioria dos comissários de bordo na época foi forçada a se aposentar aos 35 anos, de acordo com a Association of Flight Attendants-CWA.

Algumas companhias aéreas ficaram conhecidas por suas aeromoças e até mesmo as utilizaram para fazer propaganda nos anos 1960. O slogan da Braniff International Airways era “sua esposa sabe que você está voando conosco?” Enquanto a Pan Am perguntava: “O que você acha das suas aeromoças?”

Na década de 1970, muitas companhias aéreas tinham comissárias de bordo vestindo calças quentes e botas go-go. A National Airlines gastou US$ 9,5 milhões em uma campanha de 1971 que dizia: “Eu sou Cheryl. Voe comigo”. Posteriormente, a empresa expandiu os anúncios para incluir “Vou voar com você como você nunca voou antes” e afirmou ter visto um salto de 23% nas reservas.

Na década de 1980, a indústria começou a se afastar gradualmente dos rígidos requisitos físicos para comissárias de bordo, bem como dos esquemas de publicidade sexual. Em 1981, a Southwest Airlines, chamada de “the Love Airline” perdeu uma ação judicial em que pedia o direito de explorar a sexualidade feminina e teve que começar a recrutar comissários homens.

Apesar de tudo, a Associação de comissários de bordo observa que as mulheres do setor continuam a lutar com representação, bem como com pagamento – o salário médio anual dos pilotos é quase o dobro do salário de um comissário, de acordo com dados federais dos Estados Unidos.

Além disso, há outros problemas. Nos últimos anos, os comissários de bordo têm sido forçados a lidar com outro conjunto de situações, incluindo os passageiros perturbadores, que têm cada vez mais causado problemas a bordo das aeronaves e atentado contra a integridade dos profissionais.

Em várias ocasiões, a Administração Federal de Aviação dos EUA, a FAA, disse que estava observando um aumento no comportamento indisciplinado e agressivo das companhias aéreas, citando casos em que os passageiros bateram, gritaram e empurraram os comissários de bordo.

São dezenas de casos que se amontoam e que até chegam à mídia. Sem contar os que não chegam e nem são reportados para as estatísticas.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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