Qatar Airways teria tentado pagar YouTuber para remover vídeo e depois o banido dos seus voos

Foto por Clément Alloing

Um YouTuber teria sido banido após publicar um vídeo fazendo uma avaliação negativa da Qatar Airways, que teria lhe oferecido um dinheiro. O passageiro em questão é Josh Cahill, que em seu canal no YouTube faz avaliações em vídeos de voos em companhias aéreas, uma prática bem comum no mundo todo.

Segundo o influenciador, ele realizou um voo de Colombo, no Sri Lanka, para Doha, no Catar, meses atrás, e fez um vídeo de 13 minutos destacando como, em sua opinião, o serviço da empresa catari “tem caído” nos últimos tempos, confira abaixo:

Pouco tempo após o vídeo ser publicado, a Qatar Airways entrou em contato querendo conversar e ele disse que aceitou a reunião com uma pessoa do time de Comunicação. Porém, logo no início ele foi avisado que a conversa não poderia ser gravada e que seria uma reunião “que nunca existiu”.

Ele disse que se mostrou resistente à ideia mas prosseguiu a conversa e a empresa aérea pediu para que ele apagasse o vídeo. Em troca, ele ganharia um novo voo com a Qatar Airways, onde poderia fazer uma nova avaliação. Ele disse que negou a proposta da companhia aérea, que depois pediu que ao menos ele deletasse os comentários negativos no vídeo relativo às condições de trabalho.

Esta oferta também foi negada e a reunião foi encerrada sem nenhuma explicação ou tentativa de entendimento da Qatar Airways. Uma semana depois, ele recebeu um e-mail da companhia aérea cancelando uma reserva que havia feito, sob alegação do direito de negar o embarque de qualquer cliente, desde que ofereça o reembolso.

No e-mail, também foi informado que ele não poderá fazer reservas com a Qatar Airways no futuro, o que configura banimento da companhia aérea do Catar, como informou primeiro o portal One Mile At a Time.

Pouco tempo depois, um dos comissários que estava no voo de Colombo para Doha entrou em contato com Josh, pedindo também para deletar o vídeo, mas alegando que se ele não fizesse isso, ele seria demitido.

“Eu sei que eu te dei autorização para gravar, mas eu fui pressionado a escrever um testemunho meu dizendo que não te autorizei. Se não fizesse isso seria demitido provavelmente”, afirmou o comissário.

Este testemunho foi usado pela Qatar Airways para pedir ao YouTube que o seu vídeo fosse banido, o que foi acatado apenas parcialmente, já que o vídeo ficou indisponível apenas quando acessado do Catar, e você pode conferir abaixo se não estiver no país árabe:

Nota do Editor

O movimento infelizmente não é uma surpresa para a mídia aeronáutica. Aqui mesmo no AEROIN, anos atrás, tivemos que remover uma matéria de companhia aérea após um funcionário temer que fosse punido pelas fotos divulgadas, mesmo sendo uma reportagem 100% positiva sobre a empresa. Em respeito a esse funcionário, abrimos a rara exceção de exclusão de matéria.

Vale ressaltar que, no caso da Qatar, esta cultura não se origina na empresa em si, mas sim no governo do Catar, que tem um controle rígido sobre a população e sobre sua reputação mundo afora. Pouquíssimos tripulantes da empresa árabe publicam algo de trabalho nas redes sociais, por receio de que isso os poderia punir.

Mas isto não é exclusivo do Catar. No Brasil mesmo temos um exemplo importante da falida Itapemirim Transportes Aéreos. Quando o AEROIN começou a relatar situações ruins a respeito da empresa, como o não-depósito do FGTS de funcionários e atrasos com fornecedores, executivos ordenaram que não fossemos convidados para nenhum evento da companhia, o que acabou acontecendo.

A parte importante e boa é que este tipo de boicote só ocorre com mídias e jornalistas que fazem o trabalho minimamente sério, independente, e seguindo o preceito de Imprensa Livre, Livre Arbítrio e Liberdade de Expressão sem restrições.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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