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Queda do Embraer com mercenário a bordo lembra a razão de ser da Investigação de Acidentes Aéreos

Foto de Anna Zvereva via Wikimedia

O mundo está repercutindo a queda de uma aeronave com dez pessoas a bordo, que voava de Moscou para São Petersburgo, na Federação Russa, sem sobreviventes. A aeronave pertencia ao grupo mercenário Wagner e seu presidente Yevgeny Prigozhin foi confirmado como uma das fatalidades.

Quando um personagem como Prigozhin, um homem cheio de inimigos e envolvido em situações geopolíticas nebulosas desparece, não é incomum que as teorias sobre assassinato já estejam prontas antes mesmo do resgate dos corpos. Mas estamos falando de um evento aeronáutico e “para nosso azar”, a aeronave sinistrada era um Embraer-135 BJ Legacy 600.

Lembremos que investigações de acidentes aeronáuticos devem ser blindadas de especulações e que sua única e nobre razão de ser é evitar a repetição de acidentes evitáveis. Por isso, o tratado mais assinado do mundo, a Convenção de Aviação Civil Internacional (Chicago, 1944) tem um anexo ditando o rito e as regras para que se descubram os fatores contribuintes de acidentes nos Estados signatários.

Se por um lado o mundo vai demandar respostas sobre a morte de um personagem tão polêmico como Prigozhin, a comunidade aeronáutica, com muito mais razões vai demandar certezas sobre os aspectos de segurança envolvidos no evento.

A aeronave era matriculada na Federação Russa, caiu no seu território e, como tal, a investigação deve ser conduzida pela agência especializada deste país. Mas o Anexo 13, indica que o Estado de Fabricação da aeronave deve participar como Representante Acreditado, ou seja, deve compor, junto a outros Estados eventualmente, e não vamos por agora nos deter nos textos dos anexos além disso, a Comissão de Investigação.

Se houver indícios de ato ilícito (atentado, derrubada por míssil ou outro meio, enfim, fatores que não se aplicam a voos normais), o Anexo 13 não se aplica. Sem especular, aguardando as manifestações oficiais havemos de observar se uma investigação vai acontecer nesse xadrez político.

De um lado a Federação Russa e suas questões políticas; de outro a integridade e confiabilidade de um equipamento que nunca teve uma única fatalidade em seu histórico operacional.

Lembremos disso, investigamos para salvar vidas, não para matar curiosidade. E observemos o processo que se seguirá. Nada é descartado nesse momento.

Mauricio Pontes é piloto de aviões, de automobilismo e jornalista. Atua como gestor de crises e palestrante sobre variados temas e é CEO da C5i Consultoria de Riscos e Crises (www.c5icrisis.com). Vivenciou a aviação desde os 16 anos no volovelismo, dedicou 30 anos de vida à segurança de voo, passou por empresas como TAM e ING, foi membro  fundador da Azul Linhas Aéreas e Head de Crises do Aeroporto Internacional de São Paulo.
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