Sea King SH-3: Uma saga de robustez e versatilidade na Aviação Naval do Brasil

Sea King SH-3 – Imagem: Marinha do Brasil

Após a promulgação do Decreto nº 55.627, em 26 de janeiro de 1965, que delineou as ações da recém-restaurada Aviação Naval da Marinha do Brasil (MB), houve uma necessidade de ajustar a trajetória e progresso dessa unidade. Um aspecto de alta prioridade que emergiu nesse cenário foi o combate antissubmarino, o qual ganhou ainda mais relevância à luz desse acontecimento.

Como consequência direta do decreto, a Aviação Naval recebeu helicópteros Sikorsky SH-34J que haviam anteriormente pertencido à Força Aérea Brasileira. Embora essas aeronaves já estivessem configuradas para realizar missões de combate antissubmarino (ASW), elas não representavam o estado da arte na época da aquisição pela Marinha.

Apesar do fornecimento de peças de reposição e ferramentas para manutenção, esses helicópteros provaram ser inadequados devido a desafios na manutenção e à obsolescência do sonar AN/AQS-5 que estava instalado.

Novas alternativas

Por esse motivo, em 1967, a Aviação Naval começou a explorar a aquisição de helicópteros ASW mais modernos. Sob o Programa B-L-1, foram analisadas opções no mercado, e três modelos foram selecionados como candidatos: Vertol 107-1I-15, Sikorsky S-61D-4 Sea King e a versão de exportação do Westland Sea King HAS Mk 2.

Com a exclusão do Vertol 107 em junho de 1968, a competição se reduziu às versões norte-americana e britânica do Sea King. Com base em considerações logísticas, o Sikorsky S-61D-4 foi escolhido. Consequentemente, a Marinha do Brasil encomendou quatro unidades desse modelo por quase US$ 1.200.000 cada, no mês seguinte.

Após a assinatura do contrato de compra, preparações para a incorporação da nova aeronave foram iniciadas. Um grupo composto por pilotos e operadores de sonar foi formado para realizar cursos relacionados ao Sikorsky SH-3D, uma variante do Sea King usada pela United States Navy e praticamente idêntica aos S-61D-4 encomendados.

Assim, em 1969, nove pilotos e dezessete operadores foram enviados à sede da Sikorsky em Stratford, Connecticut, para familiarização com o Sea King. Poucos dias antes do final do ano, o primeiro Sea King brasileiro estava pronto para entrega.

Após a conclusão das quatro aeronaves e sua recepção pela Marinha do Brasil, o próximo passo foi transportá-las para o país. Em vez de usar navios de transporte da MB ou navios mercantes, a oportunidade favoreceu a Marinha do Brasil em abril de 1970.

O porta-aviões USS America (CVA-66) estava programado para se deslocar de Norfolk, Virgínia, para a área de operações ao largo do Vietnã. Isso permitiu que os quatro Sea King brasileiros fossem embarcados e transportados até o Brasil no trajeto. As aeronaves chegaram em 28 de abril, marcando a introdução do primeiro helicóptero biturbina em operação na América do Sul.

Após sua montagem e incorporação ao 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (HS-1), foi iniciada a fase de treinamento das equipes do HS-1 para operar o Sea King. Baseado na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), o HS-1 se dedicou a atingir a capacidade operacional do Sea King.

Os céus da BAeNSPA, antes ocupados apenas pelos helicópteros da Aviação Naval, passaram a ser preenchidos pelo distintivo som dos motores T58 dos Sea King. O HS-1 também realizou operações em outros estados além da Região dos Lagos. Foi durante uma dessas viagens, sete meses após a chegada dos helicópteros, que ocorreu a primeira perda.

Em 21 de novembro, perto da praia conhecida como Guarda Gamboa em Florianópolis, o Sea King N-3009 sofreu uma falha na transmissão principal, resultando em um pouso de emergência. Os pilotos saíram ilesos, mas o helicóptero sofreu danos irreparáveis ao tombar durante o pouso.

A perda de 25% da frota de Sea King levou a Marinha a encomendar mais quatro helicópteros da Sikorsky em 1972. Esses novos modelos chegaram em setembro de 1972 e foram incorporados ao HS-1, substituindo a aeronave perdida e fortalecendo a frota para um total de cinco helicópteros.

Com a operacionalidade estabelecida, o HS-1 treinou intensamente as tripulações para missões antissubmarino, diurnas e noturnas. Em 1973, os Sea King foram convocados para a “Unitas XII”, um exercício anual que envolvia Marinhas amigas, incluindo a United States Navy, para aprimorar as capacidades ASW. Além disso, em 1973, os helicópteros SH-3D começaram a transportar tropas, uma função anteriormente desempenhada pelos Sikorsky SH-34J. Isso exigiu modificações na cabine, incluindo bancos laterais.

Em 1976, um dos Sea King, o N-3008, desapareceu durante um treinamento ASW noturno próximo a Cabo Frio. Mesmo com intensas buscas, o helicóptero não foi encontrado até 1994. Nos anos subsequentes, as atividades do HS-1 incluíram participações em operações, transporte de tropas e modernizações.

O final da década de 1980 trouxe modernizações e expansões à frota. A Marinha adquiriu oito helicópteros SH-3D da USN, convertendo-os em modelos SH-3B para uso pelo HS-1. Em 1992, lançamentos de mísseis Exocet a partir de um Sea King aumentaram a capacidade de combate da unidade. E, em 1996, mais seis helicópteros SH-3D convertidos foram adicionados à frota. Com o tempo, várias aeronaves foram desativadas ou preservadas para exibição.

Ao longo dos anos, a história do Sea King na Marinha do Brasil foi marcada por desafios, conquistas e evoluções constantes, consolidando a aeronave como um elemento crucial da capacidade antissubmarino e de transporte da Marinha.

As décadas passaram e a história do Sea King na Marinha do Brasil continuou a evoluir. Durante esse período, a aeronave desempenhou papéis vitais em operações, treinamentos e missões humanitárias, moldando sua reputação como uma força confiável e versátil.

A participação dos Sea Kings em operações conjuntas com outras Marinhas e a realização de exercícios como a “Unitas” se tornaram uma prática regular, fortalecendo os laços internacionais e aprimorando as habilidades das tripulações. A capacidade de operar tanto abaixo quanto acima da linha d’água, graças aos lançamentos bem-sucedidos de mísseis Exocet, ampliou ainda mais o escopo de atuação do 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino.

A busca contínua por modernização e aquisição de aeronaves adicionais também impulsionou o desenvolvimento da frota de Sea Kings. A aquisição de helicópteros SH-3D desativados da USN, posteriormente convertidos para modelos SH-3B, trouxe um aumento significativo na capacidade operacional. A expansão da frota com essas aeronaves revisadas demonstrou o comprometimento da Marinha do Brasil em manter uma força aérea naval moderna e eficaz.

Ao mesmo tempo, a preservação de certos helicópteros para exposição, bem como o uso dessas aeronaves em missões humanitárias, mostrou o respeito e a importância histórica que os Sea Kings tiveram para a Marinha e para o país. Sua participação em operações de socorro durante enchentes em estados como Alagoas e Ceará destacou a versatilidade desses helicópteros em situações de emergência.

No entanto, com o avanço do tempo e das tecnologias aeronáuticas, a Marinha do Brasil viu a necessidade de adotar aeronaves mais modernas e eficientes para suas operações. Os helicópteros Super Puma foram introduzidos para substituir gradualmente os Sea Kings em suas funções de transporte de tropas, marcando o fim de uma era.

Em 2023, o Sea King N-3009 foi doado à Prefeitura de São Pedro da Aldeia em comemoração aos 107 anos da Aviação Naval, simbolizando o legado duradouro desses helicópteros na história da Marinha do Brasil.

A trajetória dos Sea Kings na Marinha do Brasil é uma saga de dedicação, superação de desafios e constante aprimoramento. Ao longo das décadas, esses helicópteros desempenharam papéis cruciais em operações de combate, treinamentos, missões humanitárias e construção de laços internacionais. Sua história continua a ser uma parte importante da narrativa da Aviação Naval e de suas contribuições para a segurança e a soberania do Brasil.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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