Veja o que diz o Senai sobre seu desenvolvimento de combustível sustentável de aviação

Airbus A220 – Imagem ilustrativa

No início de agosto, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que a humanidade saiu da era do aquecimento global e entrou na era da “ebulição global”. Por isso, a descarbonização do planeta é um dos principais objetivos dos países no intuito de aliviar as mudanças climáticas.

Um dos setores que enfrenta grandes desafios para passar pelo processo de descarbonização, porém, é o de transporte aéreo, responsável por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa.

A solução para esse problema ainda engatinha no mundo, e o Brasil, com auxílio dos Institutos SENAI de Inovação, tem ganhado relevância nessa corrida estratégica. A principal maneira de reduzir as emissões de CO₂ na atmosfera é a substituição de combustíveis fósseis, como o querosene de aviação, pelo chamado SAF (sustainable aviation fuel), ou combustível sustentável de aviação, na tradução para o português.

Em colaboração com a Agência de Cooperação Internacional Alemã GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), situado em Natal, no Rio Grande do Norte, desenvolveu um método inovador para a produção de SAF, tendo como matéria-prima a glicerina resultante da produção de biodiesel, que tem alto valor energético, mas baixo valor comercial.

O início do processo, de acordo com o coordenador de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do Instituto, Antonio Medeiros, consiste em quebrar as moléculas da glicerina que estão no estado líquido e transformar através de processos químicos e industriais em hidrogênio (H2) e monóxido de carbono (CO). Nesse processo, a emissão de dióxido de carbono (CO₂) é praticamente nula.

A intenção do SENAI é mostrar que a tecnologia é viável, abrindo a possibilidade para que investidores busquem o Instituto para alavancar a produção industrial”, diz Medeiros.

De acordo com a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), há, atualmente, cerca de 100 projetos de fabricação de SAF em 30 países, a maioria nos Estados Unidos e na Europa. A partir de 2027, os aviões não poderão trafegar em vários destinos internacionais se não compensarem as emissões de gases do efeito estufa (GEE) por meio da compra de créditos de carbono ou do abastecimento com uma mistura mínima de SAF.

Além disso, a aviação civil internacional firmou o compromisso de chegar a 2050 com emissões líquidas zero e, para isso, a IATA estima que 65% das reduções do segmento virão do uso de SAF. Outros 13% serão obtidos com a implementação de novas tecnologias. Uma das principais barreiras está no preço dos combustíveis verdes: atualmente, as opções disponíveis no mercado custam de duas a quatro vezes mais que o querosene fóssil.

A aviação comercial brasileira vem discutindo com o governo federal classificações tributárias e incentivos fiscais que permitam diferenciar o SAF dos atuais combustíveis fósseis, de forma a viabilizar sua produção em larga escala no país”, destaca Jurema Monteiro, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR).

Pioneira no Brasil ao realizar um voo do aeroporto de Viracopos (Campinas-SP) ao aeroporto de Santos Dumont (RJ) com 50% do tanque abastecido com SAF, há 11 anos, a empresa aérea Azul possui uma equipe especializada no tema e busca novos mercados e parceiros para projetos e investimentos.

Além do biocombustível, temos investido em outras ações de economia e impacto do uso do combustível, como aeronaves de segunda geração, que são mais modernas e possuem uma economia maior de combustível”, detalha Diogo Bertoldi Youssef, gerente de Engenharia e Despacho de Voo da Azul.

Hidrocarbonetos

Um outro projeto leva a um petróleo sintético que pode ser processado para SAF. O Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, por meio do SENAI CETIQT, a empresa Hytron e o Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da USP são parceiros do projeto batizado de “CO2CHEM”, lançado pela Repsol Sinopec Brasil.

Os pesquisadores desenvolvem uma maneira de produzir hidrocarbonetos por meio do CO2 gerado de diferentes fontes. O objetivo é obter monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2) a partir da captura de CO2 e da eletrólise de água, usando energia gerada a partir de fontes renováveis.

Uma das grandes preocupações da indústria aeronáutica no desenvolvimento do SAF é a necessidade de promover adaptações para utilizar os combustíveis sustentáveis. Assim, há duas classes de produto: os não drop-in (que demandam modificações de infraestrutura) e os drop-in, que não demandam mudança alguma.

Os hidrocarbonetos que estamos desenvolvendo são drop-in, ou seja, têm características semelhantes às dos combustíveis convencionais e não demandam alterações nem em motores, nem nas turbinas”, explica o gerente do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, João Bruno Valentim Bastos.

De acordo com a IATA, as empresas precisarão investir US$ 5 trilhões, até 2050, para descarbonizar o transporte aéreo e alcançar a meta estipulada.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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