Xand Avião fala de “congelamento de combustível” do seu jatinho em incidente grave

Um dos grandes nomes do forró atual, Xand Avião (ex-Aviões do Forró), passou por um susto junto do seu amigo e também cantor Zé Vaqueiro, quando o avião em que os dois voavam teve apagamento de motor em voo e fez uma descida de emergência na última sexta, dia 1º de março.

O avião Hawker Beechcraft 400A, conhecido como Beechjet, teve problemas num voo de Brasília para Fortaleza, onde conseguiu pousar em segurança. Passado o susto, o cantor foi até o seu Instagram falar com mais calma e contar mais detalhes do caso, e falou sobre o congelamento do combustível.

A informação teria sido dada a ele por uma pessoa familiarizada com a situação, embora ainda não confirmada oficialmente, já que uma investigação está aberta.

“Pelo que estou sabendo até agora, o combustível das asas congelou, a gente passou por uma frente fria muito carregada, e o combustível estava em -33º C e passou para -60º C, em praticamente 3 segundos, isso fez com que os dois motores do avião parassem”, afirma o cantor.

Outros casos do Beechhet

O Beechjet é fabricado desde o final da década de 1970 até o início do milênio, em 2008, e foi nesta época que começaram a surgir problemas de apagamento duplo de motor em voo. No entanto, a situação não está diretamente relacionada com o suposto congelamento do combustível, como detalhado abaixo.

Foram quatro casos entre 2006 e 2008, que levaram uma investigação profunda do órgão americano de investigação de acidentes do transporte, o NTSB. Foi identificado que esta falha ocorre em uma condição específica: início da descida em voos em clima frio e em alta altitude.

A falha dupla dos motores é causada devido a cristais de gelo de alta altitude que se acumularam nas palhetas do compressor dos motores JT15D-5 e foram ingeridos no motor quando os pilotos recuaram as alavancas de potência (para iniciar a descida), resultando em surtos de compressor e redução rápida no fluxo de combustível devido ao bloqueio temporário de gelo na linha de retorno da pressão de combustão, além de poder impedir uma reinicialização em voo.

Dos casos nos EUA, em apenas um os pilotos conseguiram o religamento, e apenas em um dos dois motores. Nenhum dos casos foi fatal ou resultou em aeronave destruída, mas todos aconteceram em situações similares ao jatinho de Xande: descida de níveis mais altos em regiões com grandes formações meteorológicas. Também foi relatado nos casos o estouro que o cantor ouviu vindo dos motores.

Pesquisas feitas pelo NTSB revelaram que tempestades convectivas podem elevar quantidades significativas de água para a atmosfera superior, e que a liberação das partes superiores dessas tempestades pode conter quantidades significativas de cristais de gelo.

Um estudo após um dos incidentes mostrou que os cristais de gelo podem derreter parcialmente ao passar pelo compressor de baixa pressão do motor JT15D-5 devido ao aumento da temperatura do ar sendo comprimido.

Além disso, o estudo determinou que, com o sistema anti-gelo do motor desligado, era possível para os cristais de gelo se acumularem nas bordas de ataque dos estatores internos dianteiros do compressor.

Também foi determinado que, se um acúmulo significativo de gelo tivesse ocorrido, qualquer alteração no ângulo de incidência do fluxo de ar que ocorresse ao reduzir a potência faria com que qualquer gelo que tivesse se acumulado nas bordas de ataque dos estatores se soltasse e resultasse em surtos do motor ou possivelmente em apagamento.

Durante a pesquisa também foi encontrado que, após o apagamento do motor, o calor do tanque de óleo, que está no núcleo do motor entre os compressores de baixa e alta pressão, poderia fazer com que o gelo nos estatores internos dianteiros do compressor derretesse e a água pudesse retornar, e congelar novamente no impulsor do compressor de alta pressão, atuando como uma cunha para impedir a rotação e a reinicialização do motor.

Outras descobertas feitas em pesquisas, testes de voo e testes de bancada revelaram que um bloqueio temporário de gelo em um orifício na linha de sinal de pressão da câmara de combustão poderia causar uma queda repentina no fluxo de combustível, muito mais rapidamente do que o normal, e reduzir o fluxo a um nível que não sustentaria a combustão.

O NTSB então recomendou que os pilotos de todos os Beechjet tivessem o treinamento reforçado sobre a formação de gelo e seus riscos. Foi solicitado para que a Hawker Beechcraft modificasse o manual, a fim de tirar a limitação existente que o sistema anti-gelo do motor não poderia ser acionado acima de 90% da potência (N1), o que existia para evitar um risco de super-aquecimento.

A nova recomendação desde 2008 é que o piloto ligue este sistema sempre que estiver em situação propícia para a formação de gelo, independente da potência.

Vale destacar que o ocorrido com o Xand Avião não foi ainda apurado pelo CENIPA, mas que os indicativos de incidentes similares apontam para congelamento da linha de combustível e do motor em si, e não do querosene na asa.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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