“Apontando para a caixa, disse: ‘É meu filho’. Fiquei sem palavras” – o transporte aéreo de órgãos

Embarque de órgãos no Aeroporto de Congonhas, em cena do vídeo apresentado nesta matéria – Imagem: canal Golf Oscar Romeo

“Um senhor se aproximou e perguntou se podia falar comigo. Apontando para a caixa, disse: ‘É meu filho’. Naquele momento, fiquei sem palavras. Sou pai e me coloquei no lugar dele. Ele pediu para fazer uma oração pela última vez e se despedir. Comecei a pensar que não é simplesmente uma caixa que está ali, é uma vida, uma família.”

Segundo reporta o Governo do Estado de São Paulo, o relato é do subtenente Rogério, da Divisão de Medicina do Comando de Aviação da Polícia Militar (CavPM). Enfermeiro da PM, ele é um dos responsáveis por ajudar no transporte de órgãos para transplantes.

Rogério conta que a cena aconteceu quando a equipe estava saindo do hospital para transportar um coração de Sorocaba até São Paulo. “Este foi o momento mais marcante da minha carreira”, conta ele, que está há 27 anos na Polícia Militar e 14 no CavPM.

É por meio da Divisão de Medicina que a ocorrência de transporte de órgãos chega ao conhecimento do CavPM. A solicitação entra no Sistema Estadual de Transplante, da Secretaria de Estado da Saúde, e passa pela triagem da PM para coleta de informações pertinentes. O procedimento é feito para planejar de forma eficaz a logística do transporte e garantir que o órgão chegue em condições adequadas para que seja transplantado.

“Tudo começa com a dependência do órgão transportado. Cada órgão tem um tempo de isquemia diferente, e isso impacta a brevidade da nossa operação e do nosso planejamento. Então, via de regra, a demanda chega e já sabemos o órgão específico e quanto tempo teremos de atuação. Neste momento, cada um, com a sua divisão de funções aqui dentro, já vai preparando o planejamento do voo”, explica o capitão Guilherme Weisshaupt, comandante de aeronave, piloto e coordenador de equipe.

Essa rapidez e eficiência no trabalho influenciam muitas vidas, como a de Cinthia, que aguardava na fila para receber um pâncreas há sete anos. Acompanhada do marido, ela estava em um evento em São José do Rio Preto, a 442 km de distância da capital paulista, quando recebeu, às 9h de um domingo (3/9), a informação de que havia um órgão compatível, mas que precisaria chegar no hospital às 13h.

De ônibus o trajeto levaria mais de sete horas. Por outro lado, a passagem de avião custava quase R$ 6 mil. Foi então que pediram ajuda na base aérea da PM em São José do Rio Preto, que fez o transporte e garantiu a realização do transplante.

Transporte de órgãos em números

O Comando de Aviação da PM auxilia em muitos transportes de órgãos para transplantes. Para sucesso na realização do processo é imprescindível a agilidade e segurança provida pelos policiais. Somente no ano de 2022, foram realizados 41 transportes e, até outubro de 2023, foram 50 vidas salvas com auxílio dos militares.

O vídeo a seguir, captado por uma das câmeras ao vivo do canal “Golf Oscar Romeo” no YouTube, mostra momentos de uma dessas missões deste ano, quando órgãos chegaram ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP), através de um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e a continuidade da missão foi feita por aeronave da PMSP:

O governo paulista ressalta que a Polícia Civil também presta o serviço de transporte de órgãos pelo helicóptero Pelicano, do Serviço Aerotático (SAT).

A cooperação entre Polícia Civil e a Central de Transplantes acontece por meio do acionamento do Serviço Aerotático, em seguida a decolagem rumo ao local de embarque de equipes médicas e, por fim, o desembarque em hospitais.

As missões relacionadas ao Transporte de Órgãos Vitais (TROV) são prioritárias e urgentes e, com a utilização dos helicópteros da Polícia Civil, se reduz o tempo de exposição dos órgãos fora do corpo humano, cuja corrida contra o relógio é necessária para que as equipes médicas tenham tempo suficiente para realizar o transplante e obter o sucesso da operação.

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Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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