Atração de mais mulheres para as carreiras técnicas de aviação é tema de debate em evento da ALTA

Qual é o papel das mulheres na área de manutenção da aviação? E o que o setor de Tech Ops (gerenciamento de infraestrutura e sistemas de tecnologia) pode ganhar ao aumentar a participação das mulheres?

Esses tópicos foram abordados durante a conferência ALTA CCMA & MRO, organizada pela Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA) em Cancun, no México, em um painel formado por Michelle Linale, diretora sênior de Vendas e Desenvolvimento de Negócios, da Thales InFlyt; Liliana Bocanegra, diretora de Suprimentos Estratégicos da Avianca; Maruja Correa, do departamento técnico da Iberia; e Ana Persiani, diretora de Treinamento da ALTA e membro do conselho consultivo da International Aviation Womens,

A conversa começou com a apresentação das conclusões do estudo “Lift off to Leadership. Advancing Women in Aviation” liderado pela Oliver Wyman, empresa de consultoria membro da IAWA (Associação Internacional de Mulheres da Aviação) e da ALTA, para 450 executivos em cargos de liderança.

O estudo revelou que, apesar dos investimentos significativos em programas de diversidade e inclusão nos últimos anos, há uma percepção diferente entre homens e mulheres sobre a eficácia dessas iniciativas. Enquanto os homens acreditam que suas empresas estão oferecendo programas acessíveis para promover a equidade de gênero, as mulheres relatam que essas iniciativas não têm sido tão efetivas.

Segundo a ALTA, para alcançar mudanças significativas nas culturas organizacionais e implementar programas de desenvolvimento profissional mais diligentes para as mulheres do setor, é fundamental envolvê-las na conversa, no planejamento dos programas e, principalmente, na tomada de decisões.

Atualmente, apenas 3% dos CEOs das 100 principais organizações do setor aéreo mundial são mulheres, e apenas 10% dos cargos de alto escalão são ocupados por mulheres nas principais companhias aéreas do mundo. Isso dificulta o engajamento feminino nas decisões e afeta a eficácia dos programas existentes.

Atrair mais mulheres para a indústria da aviação é essencial também para garantir sua sustentabilidade. Afinal, como aponta o estudo, a indústria da aviação não é sustentável se mais de 50% da população não enxergar nela uma carreira de sucesso.

Maruja Correa destacou a importância de se aproximar dos centros de estudos para inspirar as jovens com histórias de sucesso e oportunidades.

“É preciso desafiar as políticas de contratação que buscam preencher um número. É fundamental incentivar contratações que não tenham como requisito o olhar de gênero, mas sim a experiência, o valor a contribuir. Assim estaremos gerando espaços de trabalho com líderes que ajudam os outros a se destacarem na carreira e a formação e experiência das mulheres não depende do gênero, mas de seu valor como profissionais”, comentou Correa.

A experiência da Espanha, onde os homens devem desfrutar do mesmo tempo de licença paternidade que as mulheres, também foi lembrada por Correa. “Essa iniciativa é extremamente positiva para a família e para a igualdade de condições ao nível laboral”.

Outro aspecto tratado foi a retenção das mulheres na indústria. O estudo revelou que as mulheres enfrentam mais experiências negativas em seus ambientes de trabalho. Enquanto cerca de 60% das mulheres já pensaram em sair da indústria, esse número atinge 45% dos homens.

Michelle Linale lembrou da questão de cultura organizacional e de valores da empresa, onde os executivos também ilustraram exemplos de como o setor está no caminho certo rumo à diversidade e inclusão.

“Anos atrás, em alguns ambientes de trabalho, as piadas de gênero podiam ser aceitas, mas agora as empresas têm sistemas que penalizam isso e a cultura organizacional está caminhando para ambientes onde todos possam se sentir confortáveis”, disse Linale.

O debate indicou que para promover a diversidade e inclusão, é necessário capacitar todos os líderes – homens e mulheres – sobre como construir e promover equipes diversificadas, adotando modelos de trabalho que valorizem características neutras de gênero.

“A IAWA tem trabalhado nos últimos anos para desenvolver programas de mentoria, criar a figura do “advogado”, incluindo homens em cargos de liderança que apoiem esses programas para promover esse tipo de estudo para encontrar soluções conjuntas que permitam o avanço contínuo das mulheres em nossa indústria. José Ricardo Botelho, CEO da ALTA, faz parte desse grupo de Advogados e isso mostra a estreita aliança que existe entre as duas organizações que trabalham com o mesmo propósito”, destacou Persiani.

Encerrando o tema, Liliana Bocanegra destacou a evolução do setor: “Desde que cheguei na aviação, senti um respeito absoluto pelo meu trabalho e acredito que a organização faz a diferença. Hoje já temos iniciativas como uma creche aeroportuária que apoia mulheres. Uma empresa deve ter uma liderança focada e comprometida em apoiar o desenvolvimento da carreira, oferecer oportunidades e reter talentos. Na Avianca me senti apoiada e isso me levou a dar 200% da minha capacidade para a empresa.”

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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